A entrevista do Prof. João Ferreira do Amaral, no Diário de Notícias de 20 de Junho, tem grande interesse, e justifica a maior atenção.
Com base numa reflexão que vem fazendo há muitos anos, não motivada ou condicionada por ventos, marés ou conjunturas, este economista, com um CV que, a partir de critérios objectivos (embora nuns casos sobre-valorizados, noutros ignorados), lhe concede grande credibilidade, diz o que pensa da situação económica que se está a viver, em Portugal e não só, e prevê e previne, como nunca deixou de o fazer.
João Ferreira do Amaral foi uma voz que, durante a década de 90, apesar de nesta ter estado em funções de consultor e assessor de presidentes da República, alertou para as condições em que se estava a criar a moeda única, ao serviço de que interesses, e para as consequências desastrosas que resultariam para a economia portuguesa da sua adopção. Fora da área do PCP – com o sentido de classe que nos define e com base no fundamento técnico em que nos escorámos –, JFA destoou do consenso laudatório e enganador sobre as doses de mel e canela que iria forjar o nosso futuro com a entrada para o euro.
Mais autorizada é por isso a opinião de JFA quando vem dizer, sem fazer alarde estulto do que advertiu atempadamente, que tinha razão (e acrescento, sem qualquer pejo: que tínhamos razão).
A sua posição política ideológica nunca se afirmou coincidente com a nossa, mas nunca recusou conversar connosco, condicionar as suas opiniões coincidentes com as nossas por aquilo em que connosco não coincidia. Por isso mesmo, ganha muito maior importância, para nós, o que afirma. E se a entrevista merece ser toda lida e estudado o que para além dela vai, aqui apenas reproduzo os títulos, que são da escolha da redacção do DN, mas, aqui, relevam o essencial das suas posições:
«Portugal deve usar fundo da “troika” como ajuda à saída do euro»
«Descida da TSU é um disparate total»
«Espero que não se ajustem à bruta os preços dos transportes»
Naturalmente que, também nesta entrevista, não coincido em tudo com JFA. A uma pergunta crucial (“podemos fazer isso sozinhos?”) parece-me que a resposta passa ao lado ao referir a necessidade de apoio (de quem?), quando o que se considera necessário e urgente é que os países sujeitos a este brutal ataque dos “mercados” concertem posições, pois só assim terão força (periférica) face a um centro super-integrado e esmagador.
Como é evidente, estou a falar numa perspectiva que se pretende marxista e não é essa a matriz do pensamento de JFA. Mas é um pensamento, uma reflexão, também uma abordagem técnica, que, pela sua seriedade, merece atenção. E nos ajuda.
7 comentários:
Mais uma vez a tua grandeza que não é sectária, nem partidária elogia outros. Também é preciso aproveitar muito bem, como tu sabes fazer, as excepções ao coro.
Um outro caminho que se abre? E, claro, é preciso que seja alguém não-marxista a dizê-lo, para que seja ouvido...
É bom, depois de muito tempo e agravo, ouvir a nossa razão perpassar pelas palavras e pelo pensamento dos outros... mas cansa.
Abraço.
As opiniões de João Ferreira do Amaral mostram que a unidade na luta contra a troika ocupante pode ser muito ampla.
Um abraço.
Meu caro, registo que o "maior" argumento para desvalorizar a sua opinião é o facto de ele "sempre ter pensado assim". Pasme-se...
Ainda bem que há alguém com ideais não coincidentes com os nossos, que consegue estar próximo das nossas opiniôes.
Um beijo.
JFA disse isso?!... É um comunista!!...
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