Decidira terminar esta série sobre estes "dias diferentes" com o último “post”.
Em rápida revista, até para saborear os comentários amigos (os outros andam arredios…), notei que não escrevera nada sobre O Sentimento de um Ocidental, essa peça-mestra na obra de Cesário Verde. Não podia ser.
Na “leitura” de Helder Macedo, são dedicadas ao poema quase trinta páginas, recheadas de referências e notas relativas de grande interesse (Raymond Williams, David Mourão-Ferreira, Mário Sacramento, Macedo Papança-Conde de Monsaraz, Jorge de Sena, Pedro da Silveira, Joel Serrão, T. S. Eliot, Shelley, John T. H. Timm, Brunetto Latini), de que me não vou servir excepto de uma de Mário Sacramento.
Para este fecho de ciclo(zinho), apenas quero deixar duas estrofes e dois versos de duas outras estrofes que, por discutíveis razões, são de minha escolha pessoal.
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
(estrofe 1)
(Mário Sacramento: «O “desejo de sofrer” não é absurdo: é o único elo de contacto possível entre a consciência dum poeta bem situado na vida e a atroz realidade dum mundo que fez da dor de uns a condição negativa dos privilégios de outros – mundo em que o homem é o lobo do homem.» - Lírica e Dialéctica em Cesário Verde, em Ensaios de Domingo, p. 122 – em nota de Nós, p.190)
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
(estrofe 6)
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem:
(dois primeiros versos da estrofe 27)
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
(dois primeiros versos da estrofe 37)
1 comentário:
Não conhecia esta análise de Mário Sacramento relativa a este poema, de que eu gosto muito.
Mas fiquei feliz por ma teres dado a conhecer, pois Mário Sacramento é também mais uma das minhas referências.
Fiquei com imensa vontade de ler "O Livro" de Cesário Verde, que morreu tão novo e deixou uma obra enorme pela qualidade, infelizmente pouco aceite na sua época.
Um beijo.
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