terça-feira, junho 14, 2011

Leituras e releituras

«(…) ao procurar as origens desse momento crítico – entendido como consequência inevitável do que o passado português já havia determinado – Oliveira Martins voltou-se para as explicações raciais e geopolíticas do triunfo das nações industriais burguesas do Norte para explicar a contrastante fraqueza de Portugal. Aceitando essas dúbias teorias como cientificamente correctas, procurou explicar a “inferioridade” de Portugal  pela aplicação à análise da sua História dos mesmos modelos deterministas que “demonstravam” a superioridade intrínseca das triunfantes nações do Norte
(nota: António Sérgio fez o seguinte comentário: “Porém, o ideal político-social do Martins, o seu grande argumento, o seu melhor modelo, não era já a Inglaterra, senão que sim a Germânia. Esse ideal, não chegou ele a saber ao que nos levaria a todos – aos Alemães e ao mundo. A enxurrada para que afluíram na mais recente Alemanha as ideias de escola do ‘socialismo catedrático’, em que Oliveira Martins se integrou, com o dogma da realidade do Organismo Social, da mitológica nação – foi a que conduziu ao nazismo; e a torrente para que daria o seu caudal de águas turvas, no Portugal deste tempo, o caprichismo miguelista do nosso historiador-dramaturgo, não poderia ser outra que a que se amolda ao auge da classe da Ganância Alta na estrutura social a que se amolda a Grei. “Glosas sobre o Miguelismo de Oliveira Martins no ‘Portugal Contemporâneo’”, em Ensaios, V, 252)

(Nós – Uma leitura de Cesário Verde, Helder Macedo,
Editorial Presença, 1999, p. 30)


“Aquele momento crítico (da História de Portugal)”, Oliveira Martins, António Sérgio, aqueloutro momento da História de Portugal, "no Portugal deste tempo", "classe da Ganância Alta", este momento crítico da História de Portugal. ..
A História não se repete mas o seu movimento é helicoidal…


3 comentários:

anamar disse...

Li-te. Apredi. Vou enviar ao meu rapaz...
Beijo
Ana

Carlos Gomes disse...

A análise que António Sérgio faz de Oliveira Martins é extemporânea e pouco objectiva. Entre os dois existe uma diferença de quarenta anos que, na segunda metade do século XIX, representa uma distância abismal em matéria de pensamento filosófico e político. De resto, apesar de ter nascido nos finais do século XIX, António Sérgio é um homem do século XX.
As doutrinas evolucionistas de Charles Darwin influenciaram em muito as ideias do século XIX. A filosofia alemã registou um grande desenvolvimento. Aliás, data dessa época o aparecimento do marxismo.
Em relação a D. Miguel, convém lembrar que a História passou a ser contada pelos vencedores e é a sua versão a que geralmente damos como verdadeira... nesse aspecto, penso que Oliveira Martins foi mais objectivo!
A título de curiosidade, Oliveira Martins não acreditou na tese do assassínio por envenenamento de D. João VI, facto que veio recentemente a ser comprovado através de análise laboratorial às suas vísceras. Durante muito tempo, Carlota Joaquina foi acusada do envenenamento do marido sem nunca se ter comprovado. Após várias conspirações acabou por consegui-lo!

Graciete Rietsch disse...

A ideia de que os portugueses são preguiçosos, maus trabalhadores e indiferentes anda por aí muito espalhada. Parece que os seguidores de Oliveira Martins absorveram bem as suas teorias e também aprenderam a difundi-las para tornar o nosso Povo tão resignado.
Mas "há sempre alguém que resiste" e cada vez mais.

Um beijo.