Insisto na afirmação de que as eleições, para além da importância em si mesmas, pela frente de luta que são, deveriam servir-nos para aproximação ao "estado subjectivo" das massas - nível e evolução da tomada de consciência -, estando estas, como estão, sob grande pressão objectiva que, como se espera, irá aumentar muito nos tempos que aí vêm.
Um dos elementos que tem vindo a ser revelador dessa evolução dessa evolução - ou que assim o considero - é a expressão que têm tomado os votos brancos e nulos.
Embora partindo, naturalmente, de uma base relativamente baixa, os votos brancos e nulos têm vindo a subir com significado político e, nas eleições deste ano - presidenciais e legislativas -, deram grande salto (relativo, evidentemente).
Nestas últimas, de domingo, ultrapassaram 223 mil votos e 4% dos votantes. É um dado... que dá que pensar.
Estarão em trânsito! Para onde?, de onde? Será, no entanto, parte do eleitorado flutuante que resiste a ir para a abstenção, que - essa sim, tanto quanto mensurável, contrastando os números com a percepção que cada um viveu quanto à afluência às urnas - não subiu significativamente.
Face à relativa estabilidade e reforço (notável nas condições em que se travam estas batalhas) da CDU, a grande flutuação do eleitorado entre o protesto desideológico (numa "esquerda" inconsequente, sem clara posição "de classe", e a servir de "válvula de escape" que desilude) e a esperança demagógica (numa direita oportunista capaz de se mascarar de preocupações sociais, e que germina riscos graves), os brancos mais nulos podem significar um crescente númerode eleitores que, perante o acto cidadão da escolha, opta por dizer não nada escolhendo, em vez da desistência de participar que é a abstenção.
Dá que pensar. Para agir. Como sempre, junto dos (juntos aos) nossos contemporâneos, dos que vivem o que estamos a viver.
2 comentários:
Realmente ao ler os gráficos não me pareceu tão significativa a variação de B+N!! Mas como interpretá-la? Desinteresse? Desilusão? Medo?
Dá mesmo que pensar!!!
Quanto à CDU , o resultado foi bom , dentro do contexto de medo em que se vive. Se não se falasse tanto em bancarrota, não pagamento de salários,etc, talvez fossem bem melhores. E o grande deslocamento de votos para o PSD, dever-se-à também ao medo?
Terei alguma razão?
Ando preocupada e um pouco inconformada com esta resignação de um Povo que parece preferir uma paz podre a uma luta por melhoras condições de vida.
Um beijo.
não tem faltado discursos a atrair eleitores para o voto em branco, desde o discurso da cidadania, a movimentos dos dias não-sei-quê (que dia é hoje? hã!). mas há uma coisa que me incomoda nesse crescente de votos, é o sectarismo, porque afinal que programa político satisfaria exigências de tais eleitores? sejam quais forem as causas, e serão várias, tais eleitores traduzem sobretudo uma enorme incapacidade de perceber a democracia como ela é: desenvolver políticas concretas que vão direitas aos interesses da larga maioria independentemente das diferenças individuais de cada um, que é como quem diz resolver o problema das necessidades de todos sem preocupações com o que são necessidades para cada um.
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