Fomos a Lisboa. Para nos despedirmos do José Luís Nápoles Guerra e dar um muito sentido abraço de solidariedade e amizade à família e, em particular, à Maria Amélia.
É quando faltam palavras e quando sobram palavras. Porque não chegarão as palavras para tudo dizer, porque todas, ou algumas, nada dirão do que – ou como – se quer dizer.
E terão mesmo que ser escritas algumas palavras? Sei lá… Elas impõem-se(-me).
O Nápoles foi um homem diferente. Como todos somos. Embora uns o queiram mostrar, e outros esconder. O Nápoles, não. Foi!, foi diferente por tão naturalmente verdadeiro ter sido. Sempre presente e sempre discreto. Nunca (se) mostrando, nunca (se) recusando..
Chamávamos-lhe "militar". E ele ria. Chamamos-lhe militar. Coronel que quis ser sempre capitão. De Abril. No melhor que esta designação, capitão de Abril, possa ter – e historicamente tem, ou terá –, e de que alguns fazem alarde e a que dão mau uso e exemplo. Bem ao contrário de Nápoles Guerra.
A vida de Nápoles Guerra foi de luta determinada e serena. Assim o encontrou a morte. Determinado e sereno. A lutar. Pela vida.
E foi dura, muito dura, esta sua última luta. Tão dura que se pode dizer, sem hesitar, que foi ilustração do que ele era. Nunca se dando por vencido. Apagando-se porque era o tempo de. Sereno e determinado. Com a Maria Amélia ao lado, a companheira de mais de meio século, os dois que sempre se mostraram como um casal em que nunca um parecia estar à sombra do outro, em que cada um era o que era e o que os dois eram.
E, embora doa, a vida continua, os dois continuados pelos netos, que perderam a presença física do avô mas guardam o exemplo das histórias por ele vividas e por ele contadas, as histórias de verdade e luta da sua vida simples, determinada e serena, e que fazem com que o lembrem como o “seu herói”. Que nunca quis ser.
Obrigado, José Luís Nápoles Guerra.
6 comentários:
Não somos mais do que a imagem que deixamos.
Partiu mais um. E todos ficamos mais pobres.
Um abraço.
Belo tributo a um verdadeiro Cravo de Abril...
Para todos nós, um enorme exemplo de entrega e dignidade. Fica, inteiro, no nosso coração.
Não me lembrava desse nome.Fiquei a conhecê-lo através das tuas emocionantes palavras.
Menos um a quem temos que prestar o nosso tributo continuando a lutar enquanto pudermos.
Um beijo.
Camarada Sérgio,
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
Bertold Brecht
Obrigado por nos dares a conhecer mais um desses homens imprescindíveis!
Com um abraço fraterno,
Jorge
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