domingo, outubro 14, 2007

Transcrevo e subscrevo...

A MORTE DE JULIETA GANDRA NÃO FOI NOTÍCIA

Não foi notícia, na comunicação social portuguesa, a morte de Julieta Gandra, a médica portuguesa incriminada pela PIDE em 1959 e condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno, o chamado “processo dos cinquenta” onde a par de muitas militantes angolanos figuravam alguns portugueses como António Veloso, Calazans Duarte e Julieta Gandra, que foram deportados para cadeias em Portugal, tendo os angolanos sido deportados para Cabo Verde, onde ficaram internados no campo de concentração do Tarrafal que assim reabria as suas portas em 1960, agora para outros presos políticos, os angolanos.

O falecimento de Julieta Gandra não foi notícia para jornais, rádios ou televisões de Portugal. Apenas a SIC passou em rodapé uma breve informação. Outras pessoas, alguma de bem menor envergadura que Julieta Gandra preencheram o obituário da comunicação social portuguesa.

Nos anos 50 do século XX, Julieta Gandra, ginecologista (especialidade raríssima na Luanda de então) atendia no seu consultório da Baixa as clientes da sociedade colonial, tirando daí os seus proventos, e, nos musseques, atendia em modesto consultório, a preço simbólico, as mulheres desses bairros suburbanos. Simultaneamente participava em actividades do Cine-Clube e da Sociedade Cultural de Angola realizando também actividade política em organização clandestina do nacionalismo angolano. Por isso foi presa pela polícia do regime salazarista, condenada a pesada pena de prisão, internada em cadeias de Portugal. Quer nos interrogatórios da PIDE, quer nas cadeias, portou-se com uma dignidade exemplar. Em 1964 foi considerada a presa do ano pela Amnistia Internacional

Esta breve resenha da vida cívica de Julieta Gandra cabia em qualquer jornal ou bloco informativo de rádio ou televisão mas os profissionais da comunicação social, sem brio nem remorsos, omitem uma curta e última referência a esta médica portuguesa que foi marco na luta pela liberdade da Mulher e dos Povos.

Lisboa, 10 de Outubro de 2007
Adolfo Maria

1 comentário:

GR disse...

Na verdade e com grande ignorância (e culpa) minha, não conhecia a história desta Resistente!
Também não espero ficar a saber através dos órgãos de comunicação social, notícias dos grandes resistentes antifascistas. A censura voltou, vestida de outras cores, mas com os mesmos procedimentos.
Senão vejamos. Hoje no Porto assisti à grande e muito bonita Homenagem a Óscar Lopes.
Quase no fim uma televisão (rtp) apareceu, para saber a opinião do Jerónimo de Sousa, sobre o congresso do PSD. Da Homenagem nem uma palavra, nem uma imagem!
O desrespeito é total para com os Resistentes.

GR