segunda-feira, agosto 30, 2010

Tomar partido! (momentos da troca trabalho-capital e necessidades)

Esquematizem-se os dois momentos atrás referidos:
Momento 1
Os trabalhadores trocam a sua força de trabalho (FT) com os detentores de capital-dinheiro (D). Há uma compra e uma venda – M(FT)-D. Dispondo desse dinheiro, que passou a ser seu!, os trabalhadores trocam-no por aquilo de que precisam para satisfazer as suas necessidades, de recuperação, manutenção, valorização da sua força de trabalho. Há, portanto, no momento 1, dois movimentos - sendo o segundo D-M -, que se desenrolam na esfera da circulação simples de mercadorias, e em que o dinheiro não é mais que um intermediário para facilitar as trocas.
A fórmula geral é M(FT)-D-M(bens de consumo)
Momento 2
Os capitalistas, que compraram força de trabalho, utilizam os valores de uso desta, e o processo de produção arranca quando se incorpora a mercadoria-força de trabalho nas mercadorias de que os capitalistas disponham por terem trocado capital-dinheiro por mercadorias-meios de produção de que se servem como capital constante (C). Neste momento 2, a força de trabalho incorpora-se no capital e torna-o produtivo ao ser “usada” como capital variável (V). Está-se no ciclo de produção, em que o capital passou a ser capital-produtivo: …P…=C+V. Ao terminar o ciclo, os detentores do capital tornam-se proprietários das mercadorias produzidas (M’), produto de C+V acrescido de mais-valia (MV) – C+V+MV -, que procurarão metamorfosear (realizar), o mais rápido possível, em capital-dinheiro (D’).
Já não se trata de circulação simples, de trocas entre equivalentes. O dinheiro figura no inicio e no fim do processo, que é de valorização do capital na forma de dinheiro. A fórmula geral é D-M…P…M’-D’ (> D).
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Isto pode ser formulado de muitas maneiras, e todas elas terão algo de novo, algo em que se aprende (assim me aconteceu...). E abrem-se portas para a realidade e a sua compreensão.
Inserido nesta série sobre a base teórica em que assenta tomar partido!, faz-se a ligação às necessidades e, além de se comprovar que elas apenas aparecem no momento 1, quando os trabalhadores trocam o preço que lhes foi pago nesse momento pelas mercadorias que lhes satisfaçam as necessidades, mas estas não são (ou deixaram de ser, nas relações de produção do capitalismo) o início e o fim do processo de produção. No momento 1, na operação de compra e venda, para o trabalhador que vende a mercadoria força de trabalho, trata-se de acção vital pois com essa venda passará a dispor do que lhe é indispensável para satisfazer as suas necessidades, e estas são diferentes segundo o tempo e o lugar, segundo a história e a cultura; para o comprador será um custo que é sempre preciso baixar…
Aqui, abro parênteses, e deixo uma pista para mais tarde: nesta formulação detecta-se a dificuldade em encontrar a realidade representada nas estatísticas. Quem quiser fazer a análise da realidade a partir das suas representações, encontrará dados sobre custos unitários de mão-de-obra e só com verdadeiros malabarismos se conseguirá uma aproximação à quantificação das necessidades do “proprietário” da força de trabalho, e da mais-valia que foi criada no processo produtivo e apropriada. Estamos no terreno da luta ideológica!

3 comentários:

Ricardo disse...

Sérgio,
De facto estamos no campo da luta ideológica, mas também num campo cuja ciência económica muito tem para caminhar.
Se a estatística apresenta os dados que resultam das «necessidades» que a actual correlação de forças na luta de classes exige, então será «tarefa» da ciência económica desenvolver os intrumentos de análise (passada e presente) que o desenvolvimento das forças produtivas e a luta irão exigir.

Ricardo disse...

No entanto, com todas as reservas, como muitas vezes tu afirmas, poderá ser útil à luta ideológica demonstrar tendências, reconhecendo as limitações do cálculo.
Uma das questões que tenho apreendido é que a excessiva matematização/quantificação dos fenómenos económicos procura impor uma perspectiva de verdade única e natural/divina...
Também nós, por vezes, pressionados pela pensamento dominante somos levados a procurar encontrar nos instrumentos matemáticos fornecidos pela economia/estatística burguesa a confirmação da teoria económica marxista.

Abraço!

Sérgio Ribeiro disse...

Caríssimo Ricardo, claro que não quero dizer que o "cálculo" não é necessário. Ele é indispensável!
No próximo Tomar partido! trato de tentar esclarecer isso.