domingo, janeiro 15, 2012

A China!

A China!

À boleia do leilão-venda a uma empresa estatal chinesa de parte substancial da EDP, muito há a reflectir.
Ainda a quente, vieram as nomeações para o Conselho (de quê?...), com os nomes conhecidos, as razões inconfessadas, os salários escandalosos, a desfaçatez de uns senhores desde um Ricardo Salgado, que fala como se fosse dono do BES, de Portugal, do Mundo, ao propriamente dito Eduardo Catroga, que se prefigura como boneco bordaliano, a antítese do Zé Povinho, com o manguito com o endereço invertido.
Mas não faltam também as referências estratégicas, com destaque para a “estratégia chinesa”, algo confusas ou confundidas, mesclando admiração, medo, menosprezo.
Uma porta de saída de recurso, daquelas que se conhecem por "saídas de emergência", é a de que a China está completamente convertida ao capitalismo, que a sua estratégia é capitalista.
Procurando vencer o nosso inato eurocentrismo na avaliação de todas as situações, como se fossemos, europeus, centro do mundo, e cada um de per-si, o umbigo desse centro barrigudo, começaríamos por afirmar que a avaliação da estratégia chinesa cabe, antes de todos, aos… chineses. E são em número que chega (1,3 mil milhões, mais chinês menos chinesa).

Passou a China a ser capitalista por estar… no mercado? [por ter entrado para a OMComércio, mantendo-se a dúvida se a OMComércio entrou no espaço imenso (social e económico) da China]
Parece-nos simplista a conclusão. Até porque as premissas antes da conclusão são inúmeras.
Há uma questão quase preliminar, a partir de base teórica em que assentamos:
  • sendo o capital uma relação social de produção em que a classe predominante impõe o objectivo de acumular capital-material sob a forma dinheiro, passando de dinheiro no início a mais dinheiro no final, tenha este fundamento material ou seja ele simbólico, fictício, creditício, é esse o objectivo estratégico da China?,
  • ou continua a ser, desenvolver a economia da China, a partir de uma situação de partida de desmesurado subdesenvolvimento, tendo como início e final do processo a satisfação de necessidades de seres humanos que se contam por dezenas de milhões?

Fica como reflexão. Lenta. Nada apressada. Com séculos e milhões antes, e igual tempo para a frente. Atrevo-me a dizer – atrevidamente… - "à chinesa".

5 comentários:

Carlos Gomes disse...

Parece-me que a resposta a esta questão já foi há muito dada pelos próprios dirigentes politicos chineses quando, após Deng Xiao Ping, estabeleceram o príncipio "um país - dois sistemas". Por outras palavras, a China é assumidamente um país que implementa o modelo capitalista nas regiões economicamente mais desenvolvidas e industrializadas e, nas pronvíncias rurais distantes dos grandes centros urbanos, mantém a prazo uma economia planificada com vista a assegurar a satisfação das necessidades básicas da população de modo a prevenir calamidades humanas como as que se registaram no passado com a aplicação de medidas insensatas.
Paradoxalmente, é a República Popular da China e não a República da China (Formosa) que desde sempre assumiu um carácter mais nacionalista, apesar duma liderança alegadamente internacionalista. E, é essa perspectiva que a levou a adoptar o sistema capitalista, pelo menos em parte da China, com tendência a alargar-se a todo o território chinês. É que, como disse Deng Xiao Ping, não importa a cor do gato desde que ele sirva para caçar os ratos...

Anónimo disse...

Dito de outra forma, o capitalismo está vivo e recomenda-se. Pena ter-se perdido tantos anos para reconhecer que o outro maquiavélico sistema mais não fez do que semear a morte e impedir o desenvolvimento...

Olinda disse...

Um dirigente do Partido Comunista Chines,disse,referindo-se às contradiçoes do sistema económico implementado na China:Quando se abre uma janela,entra muito ar,mas também muito mosquito.
O povo Chinês possui uma sabedoria milenar,vamos ver...

Sérgio Ribeiro disse...

Carlos Gomes - os seus comentários trazem sempre algo de novo, uma outra informação. Obrigadopor eles.

Olinda - Vamos a ver, dizes bem. Embora dificilmente seremos nós, os que agora por aqui andamos, a ver. Estarão em condições de ver os de depois de depois de nós de hoje. Nós temos de procurar perceber e de nos integrarmos. no nosso tempo de luta.

Saudações e beijo

Ah!, parece que passou por aqui uma coisa anonimamente esvoaçante... "aquilo" não é um comentário.

Graciete Rietsch disse...

A China é um enorme país que saiu de uma situação de terrível subdesenvolvimento. Hoje é das maiores economias mundiais o que, a pouco e pouco julgo eu, irá trazendo cada vez maiores benefícios à população.
O sistema utilizado, não conheço. Ouço dizer muita coisa. Não sei qual a verdade.
Importante é que não há modelos para a via socialista e o socialismo e o caminho respetivo deve depender do próprio Povo.

Um beijo.