Este Governo nem sequer é de
esquerda,
diz João Ferreira
2 fev 2019 09:23
O cabeça-de-lista da
CDU às europeias sublinha que os quatro últimos Orçamentos do Estado foram do
PS,
apesar dos votos de
PCP, PEV e BE, até porque este nem é "sequer um Governo de esquerda",
mas minoritário dos
socialistas.
“A questão dos Orçamentos do Estado, não foram orçamentos do PCP, foram
orçamentos do Governo do PS porque este é um Governo PS, não é um Governo das
esquerdas, nem sequer um Governo de esquerda. É um Governo do PS, que não se
libertou em aspetos essenciais e estruturantes das políticas de direita que
levou à prática no passado”, afirmou João Ferreira, em entrevista à agência
Lusa.
Porém, o dirigente comunista realçou a ação preponderante de PCP e “Os
Verdes” em alguns avanços de rendimentos e direitos das pessoas, pois “algumas
das medidas que foram tomadas nestes três anos nunca foram tomadas antes nem
seriam nunca tomadas por um Governo do PS com maioria absoluta”, referindo-se
às negociações orçamentais bilaterais.
“A relação de forças é a que é. O que tivemos nestes três anos foi
determinado por um quadro em que o PS tem um Governo minoritário, o PSD e o
CDS, juntos, também não têm maioria, mas em que a relação ainda é a que é. Os
três partidos juntos têm uma proporção muito significativa dos lugares na
Assembleia da República e, várias vezes, os três se juntaram para inviabilizar
propostas positivas feitas pelo PCP”, lamentou.
Sobre o dilema de as forças à esquerda do PS reclamarem algumas “bandeiras”
para si, mas renegarem o respeito pela disciplina financeira imposta por
Bruxelas e o eventual ganho eleitoral dos socialistas, nomeadamente nas últimas
autárquicas, João Ferreira atribui essa noção a uma “deficiente perceção” do
público, dada a menor presença no espaço mediático de PCP e PEV, por
discriminação e silenciamento da comunicação social ou sobrevalorização de
iniciativas de outros partidos.
“O que a situação demonstra é que o que é necessário não é andar para trás
do ponto de vista do que foi esta alteração positiva na relação de forças. O
facto de o PCP e a CDU terem crescido nas eleições ajudou ao que temos hoje e
para irmos além do que temos hoje – é uma lição que estes três anos nos dão – o
caminho passa pelo reforço da CDU necessariamente”, garantiu.
João Ferreira reconheceu que o principal móbil da denominada ‘geringonça’
de esquerda – o PS com acordos com bloquistas, comunistas e ecologistas – foi
desalojar a direita do poder, terminando o seu projeto de “subversão
constitucional” e de “cortes” para dar lugar à reversão de tais medidas.
O também vereador da Câmara Municipal de Lisboa vincou que foi a CDU “a
primeira força política” a dizer na noite eleitoral de outubro de 2015
que “eles perderam” (PSD/CDS-PP) quando outros partidos “baixavam os
braços”.
João Ferreira exclui subida a secretário-geral do PCP
em 2020
O cabeça-de-lista da CDU às europeias rejeita a hipótese de suceder a
Jerónimo de Sousa, mesmo que só dentro de dois anos, como secretário-geral do
PCP, no Congresso Nacional ordinário dos comunistas, previsivelmente em
dezembro de 2020.
O dirigente comunista elevou antes os cargos de vereador na autarquia
lisboeta e parlamentar em Bruxelas e Estrasburgo em detrimento da eventual
liderança do partido, frisando a diferença face a outras forças políticas do
PCP, com a sua tradição e prática de cariz coletivista.
"As responsabilidades que admito são as de vereador na Câmara
Municipal de Lisboa, pelo menos até 2021, e de deputado no Parlamento Europeu
nos próximos cinco anos. São as responsabilidades que me motivam, neste
momento. Está a falar com um atual membro do Comité Central, que continuará com
essa condição, pelo menos, até ao próximo congresso do partido", disse.
O biólogo de 40 anos é pela segunda vez o primeiro nome da coligação que
congrega PCP e "Os Verdes" na lista para o Parlamento Europeu, depois
de já ter encabeçado o rol de candidatos autárquicos a Lisboa também por duas
ocasiões, além da presença semanal em comentário televisivo, sendo assim um dos
militantes comunistas com maior visibilidade a seguir ao atual
secretário-geral, o antigo operário Jerónimo de Sousa, com 71 anos e há mais de
14 à frente do partido.
"De certeza que não. Certamente que não", respondeu rindo-se
sobre a possibilidade de vir a tornar-se líder comunista, a partir de 2020.
Relativamente à sua contínua presença mediática, o eurodeputado e
recandidato nas eleições europeias de 26 de maio relativizou, pois "há muitos
militantes do PCP com visibilidade em função das tarefas que desenvolvem".
"Houve outros que as tiveram antes de mim e tiveram igual
visibilidade. É sinal de uma intervenção destacada que o PCP e a CDU têm em
muitas frentes, mas é fruto, sobretudo, não de rasgos individuais, mas de um
coletivo. Nós somos um partido diferente em várias coisas, também desse ponto
de vista. Nós temos uma liderança que é, sobretudo, uma liderança
coletiva", afiançou.
"Pode perguntar mais uma vez e as vezes todas que quiser. Esse é um
cenário que não está colocado. O que está colocado é desempenhar as tarefas que
tenho neste momento e é isso que me motiva também", garantiu, perante a
insistência sobre disponibilidade para o posto de secretário-geral do
PCP, caso os seus "camaradas" o viessem a escolher.
João Ferreira acusa UE de funcionar com "recorte
neocolonial"
O cabeça de lista da CDU às eleições europeias acusa a União Europeia
(UE)de funcionar com um "recorte neocolonial" em muitos aspetos,
criando uma "subordinação política intolerável" dos Estados-membros,
como quando põe burocratas a apreciar orçamentos nacionais.
"Termos um conjunto de burocratas a dizer o que é que esse Orçamento
do Estado deve conter, e a dizer que linhas é que ele não pode passar, e a
dizer que medidas é que ele tem obrigatoriamente que prever, isto é uma
situação de subordinação política intolerável”, argumenta João Ferreira, em
entrevista à agência Lusa.
Para o eurodeputado e recandidato nas eleições de 26 de maio, “a União
Europeia tem hoje um funcionamento que assume o recorte neocolonial em certos
aspetos”, considerando e é essa dependência económica e uma subordinação
política que tem que ser combatida.
O candidato comunista sustenta que o euro foi "um instrumento central
na criação deste quadro", mas "não foi o único".
"É importante ter presente que o euro não é o único constrangimento
que hoje pesa sobre Portugal, há outros. As políticas comuns, a Política
Agrícola Comum, a Política Comum das Pescas e a política comercial comum
tiveram impactos negativos. [O euro] não é o único constrangimento, mas é um
constrangimento que se destaca face aos demais...E é um constrangimento que tem
que ser removido", acentua.
João Ferreira admite um referendo para decidir se Portugal deve continuar
no euro, apesar de preferir "uma solução no quadro da União Europeia,
organizada, que permita a reconstituição de moedas nacionais".
O candidato defendeu que, para decidir a permanência de Portugal na União
Económica e Monetária, "o ideal será um processo negociado no quadro da
União Europeia", justificando assim as propostas dos eurodeputados do PCP
de "um programa de apoio aos países que entendam sair do euro".
"Preferencialmente, devemos procurar uma solução no quadro da União
Europeia, organizada, que permita a reconstituição de moedas nacionais não
sendo isso possível. Não sendo possível, [Portugal] deve rejeitar soluções que
sejam prejudiciais aos seus interesses", sustentou o eurodeputado.
Caso a UE continue a rejeitar uma solução negociada, o referendo é
"uma hipótese".
Para justificar a saída da moeda única, João Ferreira recordou que, nos 20
anos anteriores à entrada no euro, Portugal cresceu "sempre acima da média
da União Europeia" e "acima da média mundial". Mas inverteu a
situação após a entrada na moeda única: "são 20 anos a crescer
abaixo da média da União Europeia e da média mundial", ou seja, "duas
décadas perdidas".
"Há poucos países no mundo, se virmos as bases de dados do Banco
Mundial e do FMI, há poucos países no mundo com uma taxa de crescimento
inferior à portuguesa, e os que existem são países que foram devastados por
guerras e por conflitos civis", salientou.
1 comentário:
"Nos 20 anos anteriores à entrada no Euro,Portugal cresceu "sempre acima da média da União Europeia" e "acima da média mundial".Mas inverteu a situação após a entrada na moeda única".Esta realidade,vemos nós e sente o povo português.Mas não é reconhecido por quem defende a União Europeia acima de qualquer custo.É necessário uma política patriótica e de esquerda.Bjo
Enviar um comentário