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quinta-feira, março 25, 2021

... nem por isso!

  - Edição Nº2469  -  25-3-2021


Boas intencões, ou nem por isso

A guerra (não declarada) das vacinas continua na ordem do dia e não apenas devido às suspeições que com razão ou sem ela pairam sobre a marca AstraZeneca.

Numa altura em que a penúria do produto já se tornou uma evidência para toda a gente, eis que a senhora Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, não arranja melhor «argumento» para tentar justificar o não recurso à vacina russa do que dizer que a entidade produtora «seria incapaz de corresponder à procura» europeia.

Não consta que alguém tenha perguntado à senhora donde lhe vem tal convicção, ou sequer em que é que isso deferiria, a ser verdade, da falta de resposta – essa sim, já comprovada – das marcas Pfizer, Moderna e AstraZeneca, que manifestamente privilegiam clientes como os EUA e o Reino Unido. Até foi por isso que para esta semana se agendou uma reunião de líderes europeus para analisarem a possibilidade de suspender as exportações europeias de vacinas para países produtores, de forma a garantir que a produção em países da Comunidade se destine primeiro a imunizar os cidadãos da UE. Fogo de vista para contribuinte ver, claro, porque se a preocupação fosse de facto «vacinar, vacinar, vacinar», sem outro critério que não o da eficácia, bastaria ir comprar o produto onde ele existe.

O busílis da questão está na guerra fria declarada por Washington à China e à Rússia. Sob a capa da diplomacia, os EUA têm vindo a pressionar os seus aliados para que não comprem fármacos produzidos pelo que designam de «estados mal-intencionados», o que explica as esfarrapadas explicações de Ursula von der Leyen e o facto de a Agência Europeia de Medicamentos continuar sem aprovar a Sputnik V. Ou seja, eles vacinam-se e nós ficamos com as «boas intenções».

Anabela Fino

sábado, março 13, 2021

Reflexões lentas... de cadeira em cadeira


Ontem, foi dia marcado por importante evento destes tempos que vivemos.
Como idoso que sou (ah, pois claro....), fui incluído pela Junta de Freguesia na 2ª leva da 1ª dose de "avassinações".
Foi no Centro de Negócios (que agora será de Exposições... mas nunca deixará de ser de negócios) e a organização, se bem que com algumas pequenas falhas, foi satisfatória, com uma larga equipas de solícitos/as orientadores/as do alongado percurso, pessoal de comprovação e registo (1 de 2 gabinetes médico a rastrear), 2 de 4 cabinas de vacinação na concretização da picadela em braço nu mil e uma vezes vista na televisão (desta feita foi o meu), com atenção e cuidados (quase afectuosos), por fim, mais uma espera de 30 minutos para recuperação pós-pica.

Durante o longo percurso que muitos fizemos, sozinhos ou acompanhados, de cadeiras de rodas ou de cadeira-sem-rodas em cadeira-se-rodas, fui folheando páginas do O papel da violência na História (não mais do 2 ou 3 páginas) e observando e pensando…

A reflexão que me foi suscitada como muito impressiva foi a de que… estávamos em 2021, numa fase de surto epidérmico, nem melhor nem pior que outros por que a Humanidade já passou – aqui e no resto do mundo -, decerto não tão universais como este dado que os aviões e o turismo são recentes… e sobre as respostas que estão a ser dadas, hoje e aqui, em 2021.

A universalidade desta epidemia faz com que se agigantem diferenças, reflexo evidente das situações locais e da sua gritante diversidade. Não só entre situações em que os direitos dos cidadãos à saúde são privilegiados como sempre, e não só apenas quando ataca um vírus, e aqueloutras situações em que, por mais escamoteada que seja (porque tem de ser!), o que prevalece são os interesses do capital sobre os direitos dos cidadãos.

Mas, neste lado do universo, este em que nos encontramos, a prevalência, por via de uma ideologia de mercado, torna visíveis (para quem quiser, ou puder ver) os esforços para conciliar o inconciliável, sob uma capa – ou manto pouco diáfana – de uma democracia (apenas política, representativa, de faz-de-conta), em que há interesses a compatibilizar entre a saúde e a economia (reduzida esta, tal como a democracia, à sua expressão de mercado e financeira, alheia às necessidades, nos seus níveis de direitos do ser humano no tempo e no espaço de hoje e para hoje).

E, ainda neste lado do mundo, nesta situação tão clara (embora por necessidade disfarçada quanto possível) haja gradações, haja diferenças resultantes das locais correlações de forças sociais. Confesso que me deu ganas de falar aquelas "massas" - que eu integrava, inteira e solidariamente - mas, tenho a certeza, seria mal recebido, por incompreensão. Há todo um lastro que há que ter em conta, há - ao fim e ao resto, respeitos reciprocos que são essenciais à condição de humanos.

Não tive reacções físicas desagradáveis. À picadela...

quinta-feira, março 11, 2021

A talhe de foice - Roleta

  • Anabela Fino

 - Edição Nº2467  -  11-3-2021

Roleta

A presidente da direcção da Agência Europeia do Medicamento (EMA), Christa Wirthumer-Hoche, afirmou este domingo que recorrer à utilização da vacina russa Sputnik-V é comparável a «uma roleta russa», pelo que aconselhava os países da União Europeia a não a autorizarem.

A reacção dos criadores da vacina, ligados ao centro de investigação Gamaleia e ao Fundo Soberano Russo, não se fez esperar. Exigindo um pedido de desculpas, fizeram notar que tais comentários, para além de inapropriados, atentam contra a credibilidade da EMA e do processo de avaliação, que está a decorrer, da vacina Sputnik-V, indiciando a existência de «possíveis interferências políticas».

As acusações russas são pertinentes. Com efeito, está por esclarecer por que motivo a EMA adiou durante meses o processo de validação daquela vacina, já reconhecida por 46 países, não obstante o fornecimento das já autorizadas pela UE (BionNTech/Pfizer, AstraZeneca/Oxford e Moderna, às quais se deverá juntar hoje a da Johnson & Johnson) estar longe de corresponder às expectativas.

Se, como dizem, a preocupação é imunizar a população o mais rápido possível; se não se olhou a meios (dos contribuintes) para garantir um lugar na linha da frente dos fornecimentos; se se aceitou os contratos leoninos impostos pelas farmacêuticas (incluindo a desresponsabilização por eventuais efeitos secundários) e o secretismo de muitas das suas cláusulas; se, apesar de tudo isso, os prazos não estão a ser cumpridos, por que razão a EMA retarda a validação da Sputnik-V e nem sequer encara apreciar as quatro vacinas já aprovadas pelas autoridades chinesas (outras oito estão em desenvolvimento)?

Não é de esperar que a Agência Europeia do Medicamento responda a estas questões, mesmo sabendo que a China arrancou com a produção em massa daquelas vacinas no Verão de 2020 e se propõe produzir e entregar 500 milhões de doses a 45 países. Ainda no mês passado o presidente da Sinovac, Yin Weidong, garantiu que a empresa poderá vir a produzir mil milhões de doses por ano, enquanto a Sinopharm anunciou há dias que a sua produção poderá ascender a três mil milhões de doses por ano.

Não sendo admissível propalar que o governo chinês pretende eutanaziar a sua população de cerca de um bilião e meio de habitantes com vacinas de roleta, a crítica aqui é a de que o gigante asiático as usa como «arma» diplomática, já que o país se comprometeu a torná-las «um bem público comum e distribuído de forma justa e equitativamente», como noticiou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Pois é. Ficar à mercê de interesses capitalistas não é política, é a ordem natural das coisas. Política é pensar primeiro no interesse dos povos.

Afinal, isto não é uma questão de roleta, é um problema de croupier.

quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Ângela Merkl e a vacina russa

 extractos de um (quase-)diário

Ontem, ao ouvir jornal 2, o que se ouve cá em casa, em regime de pandemia e acautelando o estado mental… mesmo assim sempre a ser posto à prova,
pois ontem, dia 24 de Fevereiro, entre as 21.30 e as 22 horas, ao fazer o ponto da situação do surto epidémico (do que é que havia de ser?!), o "pivô" foi até Moscovo cavalgando uma notícia que, francamente, espantou (como é que ainda?...). 
Dizia ele que Ângela Merkl estava a encontrar uma saída para o problema das vacinas, para o que estava em contacto (ou negociações?) com Putin, 
e o que ele disse foi confirmado por aquele ponta-de-lança que a televisão portuguesa tem em Moscovo desde a Idade Média, perdão, desde que há por cá televisão.
Mais disse esse português com sotaque russo (ou será russo com sotaque português?), que falou em diplomacia da vacina e acrescentou que a Rússia não iria desprezar a opotunidade, antes a aproveitaria, como aproveita tudo para se afirmar, e ainda acrescentou que a Hungria e São Marino já estão a vacinar moscovita, ou russamente, as suas populações.

Fiquei absorto, e absorto continuo, passada uma noite mal dormida (não só por dessa e de outras noticias). 

Mas então não há uma União Europeia que, com os seus 27 Estados-membros (acertei no número?), está unitária e europeiamente a resolver?
E dessa União Europeia não faz parte a Hungria?, e São Marino não é uma espécie de seu enclave, com o euro como moeda e tudo?
Como se explica a intransigente ausência de alternativas que o Estado português, pelo seu executivo e presidência da República, adoptou como aluno exemplar que pretende sempre assumir?

E, já agora, cabe perguntar qual é o papel da Presidência da U.E., por acaso portuguesa, perante as iniciativas de Ângela Merkl?

INFORMAÇÃO (zinha)




A CHINA VAI ENVIAR VACINAS 

PARA MAIS 19 PAÍSES AFRICANOS

A China enviou vacinas para o Zimbabwe e a Guiné Equatorial, e irá ajudar mais 19 países de África como parte do compromisso de tornar as vacinas um bem público mundial, afirmou um funcionário do governo.
Trabalhadores descarregam as vacinas doadas pela China no Aeroporto Internacional Robert Gabriel Mugabe, em Harare, capital do Zimbabwe, no dia 15 de Fevereiro de 2021 CréditosShaun Jusa / Xinhua

Wang Wenbin, representante do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, disse esta segunda-feira que o seu governo se propõe apoiar o continente africano no menor tempo possível.

Wang referiu-se às doações feitas ao Zimbabwe e à Guiné Equatorial, destacando que, com estas acções, o país asiático quer fazer das suas vacinas um bem público mundial.

Afirmou que se trata de uma clara manifestação da amizade tradicional entre a China e África, acrescentando que o seu país irá continuar a fornecer apoio e assistência dentro das suas capacidades e tendo em conta as necessidades do continente, informa a agência Xinhua.

Além dos países referidos, o responsável governamental disse que a China irá ajudar, concretamente, outros 19 países africanos, doando vacinas àqueles que se encontram em situação de maior desvantagem e apoiando empresas a exportar os seus produtos contra a Covid-19 para países africanos que deles necessitam com urgência e que aprovaram a sua utilização.

CHINA APOIA OS ESFORÇOS DO OCIDENTE 

PARA APOIAR ÁFRICA

Wang reagiu desta forma às declarações proferidas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, no contexto da Conferência de Segurança de Munique, em que exortou europeus e norte-americanos a enviar o mais rapidamente possível para África doses suficientes de vacinas contra a Covid-19 para proteger o pessoal da Saúde, defendendo que, assim, «o Ocidente será considerado em África» e que, de outra forma, «os nossos amigos africanos irão comprar doses aos chineses, aos russos».

«A força do Ocidente será um conceito e não uma realidade», disse o chefe de Estado francês, citado pela Prensa Latina.

Ao ser questionado para comentar directamente estas afirmações de Macron, Wang Wenbin disse que a China valoriza e apoia o esforço da França e de outros países europeus e americanos para fornecer vacinas e ajudar África a combater a pandemia.

A China tem actualmente 16 vacinas contra a Covid-19 a ser testadas, sete das quais na terceira fase dos ensaios clínicos, e aplicou as quatro mais avançadas a mais de 40 milhões de pessoas.

O país asiático enviou as suas vacinas contra a Covid-19 para 53 países em desenvolvimento, como forma de ajuda, tem acordos de exportação com mais 22 e entregou dez milhões de doses ao mecanismo Covax, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), indica a Xinhua.

A OMS está a estudar as vacinas produzidas pelas empresas chinesas Sinopharm, Sinovac e CanSino para determinar se cumprem os padrões mundiais de qualidade e segurança, antes de as incluir na sua lista de fármacos aprovados.

Ver original em "AbrilAbril" na seguinte ligação:

https://www.abrilabril.pt/internacional/china-vai-enviar-vacinas-para-mais-19-paises-africanos

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

A saga do vaci-negócio

de páginas de um quase-diário:

19.02.2021

Ontem coloquei, em dois posts, intervenções de deputados no Parlamento Europeu, sobre o magno problema das vacinas.

Um, do João Ferreira, que sublinhava aspectos muito relevantes sublinhando a operação público-privada em benefício evidente dos privados, e outro, de deputada francesa, que se dirigia à presidente da Comissão, com grande acutilância, e denunciava a submissão da dita Comissão aos grandes laboratórios privados.

Nesta intervenção, a deputada Manon Aubry mostrou um dos documentos do acordo da Comissão com os laboratórios, a que apenas com muitos esforços os deputados tinham tido acesso… mas em que partes do acordo estavam ocultas, ilegíveis.

O que, sendo estranho, é inaceitável num equilíbrio institucional, os eleitos parecem ter de se submeter a executivos nomeados sabe-se lá (a U.E.) como, embora tenham de passar por um ritual aparentemente democratizante.

Essas partes do contrato mostrado, com tiras a negro em documento dactilografado (melhor se diria computorizado ou digitalizado) seriam evidentemente as que mais interessariam, sobre preços, calendário de entregas (e se isso nos interessa!), cláusulas de responsabilidade…

Hoje, na informação de que me “alimento” ao pequeno-almoço, encontrei, num documento dos promocionais da imagem da U.E., uma informação que considero interessante:

Biontech et Pfizer exigeaient 54 euros par dose de vaccin 

en juin

[Politique] Les sociétés pharmaceutiques Pfizer et Biontech avaient demandé 54,08 euros par dose de vaccin en juin dernier, montant qui a ensuite été ramené à 15,50 euros par dose lors de négociations.

A isto chama-se “marralhar”: o vendedor começa por oferecer a mercadoria, em Junho, por 54,08 euros a dose de vacina e acaba por a contratar por 15,50 euros a dose… em que prazos de entrega, com que cláusulas de responsabilidade em caso de não cumprimento?

E importaria também conhecer qual o investimento público para que o privado tivesse a mercadoria e… a patenteasse como sua propriedade industrial.

E eu a lembrar-me de texto de 1848 sobre a não neutralidade social do aparelho de Estado nacional (ou, actualizando, associação de Estados com apregoadas virtudes públicas mas submetendo-se e beneficiando vícios privados – e vacinas...)   

A U.E. de joelhos perante as transnacionais farmaceuticas...

... e nós, de rastos!
(é preciso fazer um desenho... ou traduzir?!)

terça-feira, fevereiro 09, 2021

Lê-se e pasma-se...

 Lê-se no Público de hoje:

A Sputnik foi prejudicada
pela propaganda do
Kremlin, mas os ensaios
clínicos parecem justificar
que venha a entrar na UE

... e pasma-se!

"propaganda do Kremlin" ?! Não houve propaganda (relações públicas, lobbies, sei lá mais...) mas sim da parte da Pfizer e outros comparsas desta desavergonhada (para não dizer criminosa, por deshumana) negociata das vacinas?

..."parecem justificar que..." ?! Que reticências são estas?

... "... que venha a entrar na UE." ?! Isto é: que, com ensaios clínicos e tudo o resto, ainda precisarão de passaporte e visto UE para entrar nos "protegidos" Estados-membros?, ao que chegou a des-soberania nacional!

segunda-feira, dezembro 28, 2020

Reflexões lentas - Grito (calado?)!

 GRITO (calado?)!

 “Afinal, quem controla o poder controla o discurso”, li algures[1].

Esse controlo do discurso ganha expressão evidente quando o discurso se torna espectacular, o que quer dizer espectáculo e especulação.

Foi e é o caso do discurso relativo à pandemia que nos (a todos) atacou.

O poder[2] é uma sucessão, ou escada, ou hierarquia, em que o poder económico (dominado pelo poder financeiro, monetário e transnacional), subordina o poder político, apesar da aparência de supremacia deste, por ser dele que se vêem dimanar as decisões… e controlar o(s) discurso(s).

Ora este controlo do discurso, o que se diria ser a informação pública, ou melhor: publicada e/ou publicitada, deu a esta o carácter avassalador, de grande espectáculo, neste período de enorme e algo inesperado surto epidémico. E passou por fases em que se inculcaram sucessivas ou sequentes linhas de força.

Primeiro, alguma desorientação, descoordenação, em que as várias expressões do poder político, cada uma à sua maneira, reagiram aos factos. No entanto, em todas as dominantes aconteceu a clara, ainda que escondida, intenção de aproveitamento de pretexto para ultrapassar, quando não eliminar, constrangimentos que em “situações normais” seriam mais difíceis de contrariar.

O medo!, justificando medidas de excepção, emergência, calamidade, estado de sítio, golpes de Estado à revelia de direitos conquistados e constitucionalizados.

Aos poucos, passo a passo, e sentindo-se a procura de articulação de linhas de força, quase se diria “ajudada” pela não atenuação do surto epidémico ou até do seu agravamento – a segunda vaga, a nova estirpe –, a consolidação e melhor coordenação a partir do real poder. Do poder económico (financeiro, transnacional).

E apregoou-se a luz ao fundo do túnel sob a forma de vacina. Com a afanosa procura de  remédio-remendo que viesse equilibrar o medo e evitar o pânico. Silenciando outras vias, de/em outros hemisférios, ao que parece bem mais rápidas e eficazes para o combate real, verdadeiro, não espectáculo, ao mal que atacou a Humanidade.

Avanços em Cuba, na China, na Rússia, reais passos em frente no ataque ao vírus? Um clamoroso silêncio, acompanhado por uma barulhenta campanha de afirmação das virtudes da investigação científica… em economia livre, “de mercado”. Uma corrida concorrencial que, noutros termos de informação seria, no mínimo, escabrosa. Marketings, jogos de Bolsa, compras às cegas, linguagem em milhões, milhares de milhões, biliões (de quê?, não importa) como carradas de areia para os olhos e os ouvidos, e todos os eventuais outros sentidos dos humanos.

Ainda, os aproveitamentos colaterais dos simultâneos engulhos, mesmo ocasionais, no interior do poder: os Trumps e Boris, o Brexit, a situação dos mais desfavorecidos dos desfavorecidos.

Finalmente, ontem, o grande, o fantástico, o retumbante show das vacinações. O dia D, a hora H, o vacinado V, pela enfermeira E, à vista da ministra M, com comentários dos superiores P e 1º. Aqui, ali, acolá! O dia, o acto que "ficará para sempre na memória"... dos protagonistas. 

Com algumas falhas, alguns deslizes ou prepotências que levaram a traiçoeiras antecipações, é verdade. Mas de pronto silenciados, ou deixados para protestos quando oportunos e inconsequentes, para não estragar o espectáculo de braços nus à espera da espetadela, em várias línguas e cores de pele (ou estou a enganar-me?, e eram apenas peles de rostos pálidos que outras cores, outros paladares, foram antes picados ou ficam para mais tarde).

E aqui, neste parenteses último, salta uma indignação insolente. Que poderia fundamentar uma contra-informação, um contra-poder. Que existe sempre, porque – é vital não esquecer! – nunca o poder se exerce sozinho, resulta de uma correlação de forças em que umas dominam outras, e estas outras constituem o efectivo contra-poder. Que existe!, mesmo quando não será oportuno manifestar-se porque o poder se manifestou com tal força, com tal impacto no sentir e na consciência (adormecida ou mal desperta) dos humanos, que qualquer reserva, ou real, comprovada, informação, vinda desse contra-poder, soaria a despropositada, a ressabiamento, quiçá a terrorismo informativo, no mínimo a estraga-festas

É oportuno, neste choque de informações, opor ao quase delirante, eufórico, espectacular e especulativo episódio histórico, grandioso momento da Humanidade, dia e hora para não esquecer, para fixar em anais e onde mais, é oportuno lembrar o já feito sem pompas nem circunstâncias que tais, em Cuba, na China, na Rússia?  Não provocaria uma reacção generalizada e indignada de repúdio.

Mais: quem se atreverá ou, atrevendo-se, que consequências terá vir lembrar que, nesta corrida demencial para iluminar o fundo do túnel com uns frasquinhos de marca registada (e que já lucros e dividendos de milhares de milhares de milhões proporcionaram), houve quem tivesse sido obrigado a despir (se é que estava vestido) o braço de outra cor, quase esquelético e/ou cheio de doenças ancestrais, para uma universidade ligada a transnacional do capital testar se braços carnudos, redondos, poderiam receber a seringa salvadora, para mais com televisões e outras vias que tais a testemunharem e a transmitir, em directo e em muito repetidos diferidos?

Atrevo-me ou não? Não se trata de saber se me trará, a mim, benefícios ou prejuízos, trata-se de saber se será útil, se dará algum contributo positivo neste momento desta luta insana à pala da saúde pública. Isto é, de TODOS (e neles incluo os sacrificados das reservas peles vermelhas dos Estados Unidos, bem mais sacrificados heróis que os heróis nossos, que, verdade se diga, heróis teriam sido…).

Também com a escassa audiência que este “grito” tem, não vem bem ou mal aos(s) mundos(s). Por isso. publique-se



[1] - li esta frase num outro texto de outro autor e cometo a talvez incorrecção de não dizer onde e de quem porque isso implicaria a exigência de tratar dos pressupostos e ilações que contornam a frase, o que ficará para outra ocasião ou oportunidade… ou, dito de outra forma, não perde pela demora.

[2] - numa/nossa leitura que vem de 1848, e que a realidade sempre diferente/sempre igual vai confirmando,

terça-feira, dezembro 08, 2020

Reflexões lentas - com vacina(s) no mercado

 Sem em nada diminuir a gravidade da situação derivada do surto epidémico, chega a ser grotesco o espectáculo dos interesses privados (e de quem tem de os salvaguardar… ó da guarda!) a lidar com o real problema, e a rir até às lágrimas com o aproveitamento dele feito por bons profissionais do humor como Ricardo Araújo Pereira, que deve estar com enorme audiência.

A alternativa saúde-economia é uma falsa questão que esconde a verdadeira, que é a que se pode equacionar (acho eu!) com o dilema saúde pública-ganância de privados.

Vivemos num tempo e espaço em que, na correlação de forças sociais dominam os interesses privados, de classe e de grupos, não sendo, de modo nenhum, despicienda a força do colectivo, sindical e político, da outra força da correlação (embora desconhecida, ou não consciente, por muito das massas que a compõem).

A maneira como chega aos receptores da informação quase obsessiva que se fornece, no meio de anúncios a que só dá ganas de fugir até porque são produto de uma verdadeira devassa dos nossos gostos ou tendências (algumas que se procuram combater) ilustra… o mercado em que uma parte do mundo e de gente se tornou e se pretende que todo o mundo (e toda a gente) o seja!

Mas o que mais impressiona – e assusta! – é que tudo é mercado para quem domina a correlação de forças (e a informação que serve quem a domina), e nesse tudo se incluem as vacinas, esse produto tornado miraculoso antes sequer de existir no mercado… e mercantilizável.

Quantos milhões de milhões já se movimentaram em jogos de bolsa, em publicidade enganosa, em compras antecipadas e sem garantia se existirá(ão) o(s) produto(s) e se cumpre(m) os necessariamente exigentes requisitos relativamente à saúde pública?

 Cito (ou re-cito) Álvaro Cunhal no prefácio a O caminho para o derrubamento do fascismo, edição de 1997, sobre o IV Congresso do PCP, de 1946:

O capitalismo ter-se-ia superado a si próprio. Teria deixado de ser capitalismo, para ser agora «economia de mercado». Já não haveria capitalistas mas «empresários». Seria um «capitalismo civilizado», sem classes antagónicas, um capitalismo sem proletários, sem luta de classes, nem natureza de classe de governos e políticas, seria uma sociedade nova definitiva e final constituída por cidadãos conscientes, cordatos e mutuamente solidários, aceitando, assinando e cumprindo «pactos de regime», «pactos sociais», «pactos» e mais «pactos» pelos quais os cidadãos trabalhadores (agora dizemos nós) aceitariam renunciar a direitos fundamentais e vitais. Ou seja, ser explorados pelos cidadãos capitalistas e os cidadãos capitalistas continuar a explorar os trabalhadores e a justificar-se perante a opinião pública através dos seus fantasiosos teorizadores.”.

É certo que nem em todo o lado será, há populações bem numerosas em que o surto epidémico e a vacinação não foram oportunidade de negócio. Mas dessas situações e lugares nada ou pouco (só o impossível de calar) se fala, embora andem nas "bocas" deste "nosso" mundo por outras e perversas razões, como as de manobras militares ameaçadoras em sua intenção por não se terem submetido ao mercado globalizado.

terça-feira, novembro 24, 2020

Vacinas - concorrência empresarial e guerra comercial

Tinha agendado fazer um comentário tão "virulento" quanto me permito, quando recebo este artigo do jornal PÚBLICO. (.. de Espanha!, não o de Portugal). 

Resolvi traduzi-lo e transcrevê-lo: 

 


Era uma vez, em Março, quando estávamos fechados em casa e assustados como Covid e se faziam discursos grandiloquentes no G20, na OMS e nas Nações Unidas, sobre a “universalização" dos tratamentos contra a pandemia... acreditei que o mundo podia ser melhor, que esta emergência sanitária global imporia sageza na gestão internacional da saúde.

Entretanto, passaram-se coisas como estas:

1 – A União Europeia já reconhece ter ter comprado mais de 1800 milhões de doses de vacinas de 5 grandes empresas farmacêuticas, quando somos 450 milhões de europeus. Cabem-nos 4 por cabeça; isto é, longe da gesta estadounidense que já tem pré-compradas 8 vacinas por cada norte-americano!

Que loucura é esta em que se compram vacinas sem saber se vão ser usadas?

(…)

2 – O conselheiro delegado da Pfizer, Albert Bourla, vendeu metade das suas acções no dia seguinte a anunciar, por nota de imprensa, que a sua vacina era, presumivelmente, a escolhida, embolsando mais de 5 milhões de dólares

Mas não está proibido e penalizado que os directivos enriqueçam de maneira fraudulenta? A sério?

3 – Os directores de Moderna, incluído o espanhol Juan Andrés, fizeram o mesmo, depois de anúncio semelhante, e encaixaram 75 milhões, mas prometeram que não voltariam a fazê-lo até que a sua vacina seja comercializada. Moderna lança uma mensagem: fizemos algo de errado, mas não voltaremos a fazê-lo, não somos como a concorrência.

Somos tão cretinos para que conceda valor publicitário a um anúncio como este da Moderna? Que apoio social merece ser espertalhaço e dizer-se morto mas só um bocadinho

4 – Os donos de Remdesivir,  um medicamento que também parecia solução, assinaram um contrato milionário com a UE, de 2000 Euros por paciente, uns dias antes da OMS publicar um estudo que diz que o seu medicamento não cura, nem encurta as hospitalizações. As suas acções subiram e baixaram e, neste processo, alguém se aproveitou deste contrato, e com ele, levou uns quantos milhões para casa.

Poder-se-ão devolver  os Rendemsivir que foram pagos a preço de ouro?; Porque nada se publica sobre isto, mesmo em letra pequena?

5 – AstraZeneca, a farmacêutica britânica por detrás da vacina de Oxford, prometeu não lucrar com a Covid “enquanto durar a pandemia”, mas não terá contra si possíveis questões por responsabilidade civil por efeitos secundários. Desconhecemos quem filtrou este significativo dado. Este acordo, assinado com a UE seria confidencial, mas autoridades europeias justificaram a divulgação deste facto por seu preço ser o mais baixo. Com a soma destes factores, os anti-vacinas já a terão colocado em primeiro lugar na sua lista negra, ainda que quem possa levantar essas hipotéticas questões sejam os Estados. Conclusão: a vacina de Oxford, a menos lucrativa, a mais solidária, foi enlameada antes de começar a partida.

Não é uma pena que o exemplo de AstraZeneca não tenha sido propagado?; Não deveriam os Estados, com o seu financiamento, apoiar mais, ou apenas, iniciativas como esta?

6 – A União Europeia, com a Fundação Bill Gates e outros, assinou um acordo para fazer empréstimos aos países mais pobres, que não possam pagar pelas vacinas o que as farmacêuticas peçam. Os especialistas dizem que se Covax, assim se chama o programa, conseguir cumprir com os seus objectivos logrará levar algumas vacinas aos países mais pobres mas não aos médios.

Onde paga impostos na Europa a Microsoft? Como é possível que, uma vez mais, se procurem e se assinem mecanismos para dar esmolas, em vez de se fazer justiça?

e 7 – A 17 de Dezembro a Organização Mundial do Comércio decidirá se se levantam patentes das vacina de Covid, enquanto dura a pandemia, para facilitar o acesso universal a estes transcendentes medicamentos. Neste momento, India e África do Sul pedem-no e Médicos do Mundo e centenas de associações pela igualdade de direitos sanitários reclamam-no. Espanha posicionou-se com o resto da UE, com Estados Unidos, Japão e outros países ricos estão contra. Todos estes gastaram fortunas pré-comprando vacinas neste salve-se quem puder.

Pode argumentar-se, sem pudor, que o direito a especular prevaleça sobre o direito mais humano de todos: o direito a continuar vivo? Como se justifica a concorrência empresarial e a guerra comercial que existe, numa emergência sanitária mundial? Se não somos capazes de colaborar para isto, como seremos capazes de colaborar em qualquer outra coisa? Como é possível que, no século XXI, as farmacêuticas procurem, sem limites, o seu lucro, com patentes por 20 anos, quando muita da sua investigação é financiada com dinheiro público ou com pré-contratos com os Estados? Para quando uns lucros de não mais de, digamos, 10%? Não é o mais triste desta pandemia que ela não esteja servindo para avançar na guerra mais larga, em que se luta por mais saúde, por menos insultante desigualdade, ainda que seja à custa de menos negócio?

PS: Nem sequer um Governo que se dia de coligação de esquerdas vai ter a valentia de defender publicamente, em organismos internacionais, o que todos sabem que seria justo e necessário?


domingo, novembro 15, 2020

Comenta dor: a "economia" a precisar do incentivo vacina - 2

 quase-diário:

...

Já lá vou…

 

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Se comecei pela Banca foi porque é assunto que particularmente me preocupa, dado o facto da economia – como eu a aprendi – se ter financeirizado e, dentro das finanças tudo se condicionar – tecnicamente… se o posso dizer – às moedas (em processo fantasmagórico de desmaterialização) e ao crédito, remetendo-se a banca para outras funções que não as consignadas pela tal-outra-minha (ouso dizer) ECONOMIA.

 

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Mas tudo isto é matéria para reflexão e opinião.

 


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E, em opinião, encontra-se a curiosa (e significativa) de que a “vacina é o grande estímulo económico”.

 

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O artigo é curioso, não incomoda lê-lo embora traduza uma ideia que há muito me assalta: a de que cada vez mais a economia (tal como a querem) lembra a velha história da carroça, do burro e da cenoura.

 

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Traduzindo: a carroça só se move (para diante) se se lhe acenar, a quem a puxa, com a cenoura-lucro.

 

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Nessa perversa versão da economia, o que fará com que a economia tão severamente atingida pelo surto epidémico, matando ou paralisando produtores, desequilibrando precários equilíbrios financeiros na conquistada (à custa de muita luta) segurança social, é o resultado que possa vir a ser apropriado pela descoberta de um produto-mercadoria que ataque ou previna a doença que o virus provoca.

 

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Desta situação pademónica vamos sair, como esperam os proprietários da carroça, com a exterminação dos mais idosos e frágeis (e não se pode exterminá-lo? – Karl Valentin), também com a exterminação de toda a pequena e excedentária actividade absorvida pelos maiores, pelos grandes, pelos super, pelos trans, com uma retoma para um "novo normal" (?), com a legislação laboral ao rés do chão, com verbas piramidais transferidas dos Estados-contribuintes para os que off-shoram impostos, por via do mercado vacinador, com uma seleccionada aplicação da mercadoria vacinadora.   

 

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Noutros termos: com uma “limpeza à séria”, com os mais ricos mais ricos – e todos vacinados por causa dos retrovirus (é assim que se diz?) –, com mais pobres ainda mais pobres – vacinados aqueles que necessários forem.

 

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Mas, calma aí!, não será fácil!... em todo o lugar do planeta há onde se procure a vacinas e outras coisas contra o lucro como cenoura, contra a burrice de puxar carroças com repimpados passageiros ou turistas, contra a exploração de muitos por uns poucos.

 

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Neste cantinho minúsculo, a economia é a actividade dos humanos, socialmente organizados, para tirarem da natureza – transformando-a e respeitando-a – os recursos com que se satisfazem necessidades dos humanos, como animais que são, e outras que vão sendo criadas pelo humano devir.

 

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… mas há mais…


sábado, novembro 14, 2020

Veja a diferença



Obrigado, GR7

(se não é do dólar
 será do euro?)