Ontem na Universidade Sénior, anteontem na Escola Secundária, tive a oportunidade de ouvir e dizer, e de me fazer pensar em coisas muito interessantes. E só não me estendo sobre elas porque tenho em carteira muita reflexão sobre as eleições, e hoje à noite vou à Festa do avantinho!, em Ansião, conversar sobre economia, no meio de muita música.
(Ainda bem que estou reformado... sempre posso descansar!).
Mas alguma coisa quero deixar, até para aproveitar alguma reflexão sobre o que irei dizer a propósito de "questões económicas e sociais - Portugal a Produzir" a um pessoal que estará lá para tudo menos para ouvir conversas destas.
E o facto é que fiquei bastante insatisfeito pelo modo como, na Escola Secundária de Ourém, colaborei na interessante iniciativa de pôr os alunos do 9º ano em contacto directo com profissionais, para os ajudar a conhecer profissões num momento da vida que é de escolha (e de escola). Todos os meu companheiros de mesa (uma farmaceutica, um juiz, uma médica, um cirurgião-dentista, uma estilista, um capitão da GNR, um arquitecto, um jornalista e uma actriz de teatro) defenderam muito bem a "sua dama", não deixando de mostrar as suas dificuldades, mas todos revelando um grande amor à profissão (o único amadorismo que se pode aceitar nas profissões, como dizia o Mário Castrim).
Eu destoei - pelo menos é a minha avaliação auto-crítica... -, e não por não gostar do que foi dito ser a minha profissão, e por isso escolhido para fazer parte do painel. Sou, não por qualquer vocação ou ambiente familiar, mas por formação enraízada, economista. E amo a profissão... mesmo depois de reformado dela. Mas não fui capaz de o dizer...
A razão é que a profissão anda pelas "horas da morte", tal como eu a entendo a partir da ciência social que lhe serve de suporte. Tornou-se numa corruptela, numa técnica quantitativa ao serviço de interesses limitados e egoístas, confundida com a profissão de gestor encarregado de multiplicar capitais privados. Não fui capaz de o dizer, ou disse-o mal, não fiz a indispen~sável distinção entre o que se pode chamar macroeconomia (economia política, melhor dizendo) e microeconomia (economia de empresa, melhor dizendo) e por isso fiquei insatisfeito, à beira de zangado comigo.
Lá me safei quando, quase em desespero de causa, em fecho da intervenção incial apelei à "profissão" de cidadão, como forma de sublinhar que a escola não é (não pode ser!) apenas uma via profissionalizante no sentido restrito, tem de contribuir decisivamente para a formação de cidadãos. E também quando, numa segunda volta, chamei a atenção para as profissões ali não presentes e que não podem ser esquecidas ou desvalorizadas, as profissões ligadas à terra, ao mar, às actividades produtivas, tão dignas como todas desde que desempenhadas com a intenção que Marx, aos 17 anos, punha em carta escrita ao pai sobre a "escolha da profissão": "a de querermos, acima de tudo, trabalhar para a humanidade".
3 comentários:
Como podes ter ficado insatisfeito quando foi tão grande o interesse e importância da tua participação? Pena tenho eu de não ter podido ouvir.
Acho bastante boa a iniciativa da Escola.
Um beijo.
Realmente, não há nada como ser reformado para uma pessoa descansar...
Boa viagem!
Bom trabalho!
Um abraço.
Li algures que aos 17 anos Marx quando impedido de exercer a profissão de professor, optou pelo jornalismo defendeu que:« quem escreve deve ganhar dinheiro para poder existir e escrever» mas não: «existir e escrever para ganhar dinheiro».Por aqui se vê(?) a lógica dos critérios jornalisticos que imperam nos media comandados pelos senhores do Bilderberg...por estes dias reunidos na Suíça.Quanto aos reformados progressistas da minha terra,UNI-VOS!
Abraço
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