sexta-feira, maio 21, 2010

Reflexões lentas... a partir de reflexões (suponho...) de outros

Por regra, com as inerentes e inevitáveis excepções, não respondo directamente a comentários anónimos às minhas mensagens, nem a mensagens de outros em outros blogs. O que não quer dizer que, nas posições que tomo após os ter lido, eles elas não tenham influência, grande nuns casos, pequenina noutros. Tudo que é humano (mesmo que não pareça) me interessa... e faz reflectir.
Esta mensagem reage a coisas lidas e, talvez..., a uma em particular. A que não quer ser resposta directa pelo que não a menção explícita.
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Há uma evolução (histórica, por isso relativizada temporal e substancialmente) curiosa. Ilustremo-la.
  1. Nos idos anos 80, dissemos (o plural não é majestático mas quer dizer colectivo):
    Entrar (assim) para (esta) comunidade será a demissão (por parte de quem o defende) de um caminho de adaptação e salvaguarda da soberania nacional, de uma economia baseada no aproveitamento dos recursos nacionais – tanto mar e alguma terra! –, produtiva,
    será a via da financeirização banqueirizada, da dependência do exterior, do agramento das desigualdades sociais e das assimetrias regionais.
  2. Nos anos 90, dissemos:
    Por aquela via “maastrichiana”, abandonava-se o objectivo, já em si compensatório, da coesão económica e social, os fundos comunitários serviriam para acrescer infra-estruturas não produtivas enquanto se destruía a capacidade produtiva nacional,
    haveria mais financeirização (UEM com euro e BCE) na "globalização", dispararia a especulação, aumentaria a dependência numa crescente assimetria da interdependência.
  3. Na primeira década deste milénio, observámos e dissemos:
    Não há convergência! Pelo contrário, diverge-se dos níveis de vida ditos europeus antes anunciados e pretextos para sacrifícios pedidos ou impostos, porque não há coesão económica e social, porque se entrou em derrapagem financista, porque a UEM e todo o sistema de crédito se afastou da economia real, porque se abandonou a defesa da soberania nacional, obedientemente cumprindo orientações/ordens dos que não investem produtivamente mas especulam, porque assim aumentam os défices e a dívida pública, a do Estado, das empresas, das famílias, porque o social é subalternisado, esquecido esmagado enquanto funções do Estado,
    sei lá que mais e quanto e como e tanto dissemos!

Agora, vêm reclamar de nós silêncio, solidariedade (patriótica!...), cumplicidade. Em nome de palavras (words, words, words) como governabilidade e estabilidade… para prosseguirem – e agravarem – a mesma política , a que sempre viemos denunciando e condenando, pelas consequências, com as razões que hoje se provam.

Se há quem considere o caminho que se seguiu – e que, segundo nós, outro pode(deve)ria ter sido – e o que se está a seguir – que outro pode(deve)rá ser – como inevitáveis, o problema é seu e respeita-se embora se procure contrariar. Rejeita-se, e firmemente, é que quem assim considera não dê o direito a outros de pensarem que o caminho seguido não era o único, que não há só um, que o futuro exigirá outro que não este.

Por ele, por esse futuro, se continuará a lutar. Bem ao contrário de “masturbações de ego” (como já li), ou de lamentos de velho ali dos lados do Restelo (como também já li…).

Contra as fatalidades e as resignações!

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Muito bem. Gostei muito deste "post" e também não aceito que fiquemos calados. Calados, em nome de quê? Da enormidade da desgraça? Já lutamos em condições bem difíceis e não é agora que vamos desistir.

Um abraço.