quinta-feira, agosto 26, 2010

Tomar partido! 17

Estes apontamentos, que servem de apoio de fixação ao que está a ser estudado e preparado para uma intervenção próxima, e também, evidentemente, para comunicação por esta via a que dou muita importância, não podem ser encarados como um curso ou parecido. Já neste blog algo fiz com esta intenção que não é a de agora, numa série sobre materialismo histórico, que foi uma experiência útil (para mim, pelo menos).
Em relação ao que, agora, aqui me traz, ainda há alguns temas, ou aspectos, que se impõem enquanto fixação de reflexões após leituras e releituras. Na sequência da abordagem da base teórica, na vertente económica, há que insistir na questão das esferas do processo total de produção do capital, nas metamorfoses por que passa o capital, nas suas materializações como relação social que é, e na importância relativa que vão tendo essas formas.
Se o capital passa da forma dinheiro à forma mercadoria, nesta se torna produtivo para a ela regressar – sem ter saído... – acrescida de valor, mercadoria que tem de realizar valor de uso e valor de troca, metamorfoseando-se em novo (e mais…) dinheiro, a importância relativa das formas do capital materializado na concretização dos circuitos e as independência e autonomia de algumas dessas formas ou de formas nelas nascidas ou incluídas como dependentes, sem alterarem a natureza essencial das relações de produção. Assim o capitalismo passar por fases diferentes, também – e intrinsecamente – marcadas pela relação de forças na luta de classes sempre viva – enquanto houver classes antagónicas –, embora latente e, ideologicamente, ou escamoteada ou não consciente.
O capital financeiro, se não éforma nova, tem vindo a ganhar preponderância no funcionamento da economia política capitalista, e a tomar dimensões absolutamente desmesuradas, com o reforço de vias especulativas para acumulação e concentração de mais dinheiro e para contrariar a dificuldade de tal ser conseguido na esfera produtiva com a criação e apropriação de mais-valia. O capital-dinheiro simbólico (fiduciário, não-metálico) cresce “assustadoramente” por via do dinheiro fictício, do crédito, das “engenharias financeiras”, das “injecções” com que os Estados “socorrem” as entidades bancárias e para-bancárias, agravando as contradições que o capitalismo engendra e lhe são inerentes.
As 5 dinâmicas que Marx enumera no Livro terceiro de O Capital (acréscimo da exploração do trabalho, descida de salário abaixo do seu valor, depreciação de elementos de capital constante, sobrepopulação relativa, comércio externo) como contrárias à baixa tendencial da taxa de lucro, e que de modo algum a anulam, incluem e acrescem com a demencial financeirização. O que não leva a passarem de dinâmicas que contrariam uma lei que, por si mesma, se define como tendencial, e que tem a sua razão de ser na evolução da composição orgânica do capital, com o trabalho morto ou cristalizado a, inelutavelmente, ganhar espaço e tempo ao trabalho vivo, podendo libertar os portadores deste de actividades que o trabalho cristalizado ou morto pode realizar, mas de que resulta, nas relações sociais que são o capitalismo, o desemprego em vez do tempo livre e humanizado.
(isto tem de continuar…)

2 comentários:

Maria disse...

A série sobre o MH não foi útil só para ti, sabias?

E fico à espera de mais.

Um beijo.

Ricardo disse...

Sérgio,
Retomando uma conversa que já tivemos há alguns dias, se a não houvesse confirmação da lei da baixa trendencial da taxa de lucro (é taxa e não lucro absoluto, como tantas vezes temos referido) não faria sentido associar e bem o capital financeiro às contratendências à baixa da taxa de lucro. Esta lei, que numa perspectiva marxista não poderá ser assumida como natural, será resultado da vontade e influência das forças produtivas e das relações de produção existentes e dominantes.
Capital financeiro que «criou» uma nova coisa, que não servindo apenas como meio de troca ou de reserva (de stock) como dizes, que deixou de estar referenciado a uma coisa concreta e produzida, antes sujeitando-se ao jogo da especulação (que alguns chamam de mercado).
Esta valorização do dinheiro em todas as formas que poderá assumir, com maior ou menor liquidez, não associada a qualquer produção, mas sim ao leilão dos corretores significa que o sector económico que o «manuseia», o sector financeiro, não cria qualquer valor. O que não significa que, no momento actual, não seja necessário à ao processo produtivo e à reprodução e acumulação do capital e (ainda) que, a par da ficção, se aproprie de fatias cada vez maiores da mais-valia, cria na esfera produtiva por todos cuja funções são produtivas.