sábado, agosto 14, 2010

Tomar partido! (exemplifique-se - 2)

Na última reunião do Comité Central do PCP, num comunicado, cuja leitura na íntegra (e sem manipulações) é possível no avante! e no site do Partido, denunciava-se (nesta minha selecção de itens (logo “minha manipulação”, mas no estrito respeito pelo sentido do documento):

  • um novo pacote de medidas que, a pretexto da redução do défice em 5 pontos percentuais até 2011, Governo e PSD se preparavam em nome dos interesses dos grupos económicos e financeiros que representam,
  • no contexto de uma situação (de “crise”) criada pelas políticas de direita que têm sido (pros)seguidas, que têm responsáveis e servem interesses de classe,
  • de destruição do tecido produtivo, em particular de milhares de micro, pequenas e médias empresas,
  • de desertificação e ampliação das assimetrias regionais,
  • num assumido processo de concentração e centralização capitalistas ao serviço dos grupos económicos e do capital financeiro.

Ora, daqui – e tomando partido – quero partir para dois tipo de considerações muito sucintas, suscitadas por uma provocação (ou provocadas por uma suscitação): i) sobre a posição relativamente às micro, pequenas e médias empresas, ii) sobre a economia política marxista.
Sobre as micro, pequenas e médias empresas, elemento essencial do tecido produtivo, alvos e vítimas do processo de concentração e centralização do capital financeiro, com as consequências de curto e médio prazo de desertificação e ampliação das assimetrias regionais, poderia socorrer-me de citações clássicas (do Manifesto, por exemplo) para fundamentar a defesa de medidas de apoio e protecção a esse sector cuja defesa, a par do reforço de um investimento e sector público, é indispensável nesta fase do processo histórico e local, mas basta usar o bom senso e apontar o ridículo da argumentação que se baseia numa delirante interpretação segundo a qual uma taxação extraordinária de lucros exorbitantes levantaria o gravíssimo problema do crescimento dos “pequenos e médios capitalistas”, que iriam beneficiar de não serem atingido por esse imposto extraordinário, e assim se veriam ajudados a tornarem-se grandes capitalistas! Isto é de tal modo irrisório que revela bem o que se passa nalgumas cabeças.
“Está-se mesmo a ver” que ir buscar recursos financeiros aos lucros exorbitantes, por exemplo de grandes superfícies de distribuição – que são mais peças de grupos financeiros que áreas de comércio –, iria criar condições para que a mercearia da esquina citadina ou a venda da aldeia se tornassem grandes capitalistas.
Lutar consequentemente pelo socialismo não é "fazer de conta" que se vive em socialismo, é... lutar pelo socialismo nas condições em que se faz a luta. E, aliás, avançar para o socialismo pode querer dizer um forte sector público e nacionalizar o que, ao serviço do grande capital, é contrário ao interesse geral, mas não quererá dizer nacionalizar pequenas barbearias e actividades semelhantes, embora a financeirização/banqueirização da economia já tenha revelado situações e mostrado indícios de que, por vezes, o aliciamento e uso e abuso do crédito faça com que o que se julgava ser de um honrado prestador de serviços de cortar cabelos é de propriedade de um banco a que ele se endividou…

Mas disto se falará depois.

(continuarei)

6 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Em todos os documntos do Partido sempre vi expresso o apoio a micro, pequenas e médias empresas no sentido de as defender da absorção pelos monopólios e nunca como incentivo a equipararem-se a esses monopólios. Mas os provocadores do costume gostam de lançar a confusão e,às vezes, uma leitura menos atenta nem nos deixa aperceber da idiotice porque nunca essa hipótese seria possível.

Um grande abraço, camarada.

poesianopopular disse...

Camarada Sérgio não sabes como admiro a tua pacência que é militância, ou será militância paciente?
Para o caso não importa, ou importa muito, isto para dizer-te - deves ter muitos como eu a amirar-te por seres quem és.
Obrigado camarada.

samuel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samuel disse...

Por causa dessa taxação, o Amorim vai acabar a vender rolhas num quiosque e o Belmiro ao balcão de uma mercearis aqui da aldeia... à espera de que os "novos milionários" comecem a ser taxados extraordinariamente... para eles poderem voltar a ser multi-milionários... ad nausea.
Este fenómeno político-económico-financeiro deve ter um nome qualquer... :-))) :-)))

Abraço.

Maria disse...

E eu também continuarei a ler-te.
E a sorrir com comentários como o do Samuel :)))))

Um beijo.

Antuã disse...

rir faz bem.