segunda-feira, agosto 23, 2010

Tomar partido! (para quê?)

Suponhamo-nos em tarefa, na Atalaia a construir a Festa (que é nossa na construção e na desmontagem, para que seja de todos enquanto cidade viva e outra durante três dias), ou a colar cartazes, ou a cobrar quotas e entregar cartões, ou a distribuir propaganda na rua … para que nos serve, então, a base teórica?
Sim, para que nos serve saber se este assalariado desta fábrica a encerrar, operário, é trabalhador produtivo e se aqueloutra assalariada da mesma fábrica, empregada da contabilidade, é trabalhadora improdutiva, como aqueloutra “aviadora” numa grande superfície, todos/as sujeitos/as ao mesmo sistema de exploração, vivendo os mesmos problemas em casa … sim, para quê?
Não será perder tempo estudar “essas coisas” quando a luta está aí, na construção de uma “cidade” nossa, nos cartazes que, com frases curtas e incisiva, e motivos gráficos apelativos, passam a mensagem que se quer retida, nas quotas e fundos que se tem de receber senão a organização não funciona, na propaganda que é preciso entregar de mão em mão, nas palavras a dizer aquele operário e aquelas trabalhadoras (talvez…) não-produtivas?
Não! A luta ideológica é uma frente da maior importância, deve dirigir-se às massas, tem de contrariar, com os nossos escassos meios, a tremenda campanha ideológica que nos massacra, que nos divide, que nos alicia, que nos engana permanentemente. E, para isso, a base teórica é indispensável, porque a tomada de consciência (de classe) tem de se somar às condições objectivas que podem levar à luta, mas que dela podem afastar, ou desviar para batalhas que não são as nossas, quem nosso é, objectivamente.
E continuo este tomar partido!, na sua expressão da base teórica, colocando alguns pontos que resultam do exemplo que saltou sobre os trabalhadores/as serem ou não produtivos/as. Tem importância? Tem toda a importância porque é fulcral para a compreensão do funcionamento da economia. Porque está intrinsecamente ligado às noções de trabalho e de criação de valor (que é, em unidade dialéctica, de uso e de troca) e de mais-valia que se metamorfoseia em lucro e outras formas.
Não se pode lutar sem esse conhecimento, ou sem essa discussão que até pode levar a compreensões diferentes? Claro que sim, mas mais frágeis, menos seguros.
Vou deixar apenas um aspecto que, julgo, a todos tocará. Segundo a nossa base teórica, produtivo não é igual a necessário, produtivo não é igual a útil, produtivo não é igual a racional. Alimentar estas confusões, mesmo que com a melhor das intenções, serve para dividir, empresta a um conceito ou categoria económica uma carga moral que não tem. Ora é preciso tornar claro que, como dizia Marx, a economia política não tem uma moral e, tal como a sua prima, a dona religião, serve para a acumulação da riqueza em boa consciência, em virtude e etc.
Para a compreensão do funcionamento da economia política há que estudar as metamorfoses do capital nos seus círculos de distribuição (D-M e M-D) e de produção (…P…), e nas suas extensões e interpenetrações e localizar onde e como se cria valor.
(e logo volto para continuar...)

6 comentários:

Ricardo disse...

Doutra forma, caso centrássemos a nossa análise na moral ou ética do sistema estariamos a alimentar as teses de que existe um capitalismo ideal, de rosto humano e que poderá ser concretizado como alternativa. Ora, como a experiência tem demonstrado não podemos confundir conquistas que o movimento operário tem concretizado, em resultado da Luta, com uma tendência sistémica do desenvolvimento capitalista. Adoptar estas teses seria abandonar o materialismo histórico, o materialismo dialéctico e toda a base da análise marxista do desenvolvimento e contribuir para que, apesar da concretização das condições objectivas, o novo estado de desenvolvimento humano não veja a luz do dia. Ao contrário dessas teses, não desvalorizando o a vontade criadora das massas, estariamos a cair em mais um idealismo por mais atraente e tentador que possa parecer. Como o presente momento que vivemos vem mostrar, o capital está sempre pronto a encontrar a necessárias soluções para a manutenção do seu poder. Nem que para isso em certos momentos tenha que ceder ou noutros mutilar-se. A questão passa por garantir que a resistência consiga potenciar o poder do povo nas cedências e

Ricardo disse...

O último período do texto, e que ficou cortado, é para ignorar...
Abraço!

Fernando Samuel disse...

Muito bem!

Um abraço grande.

samuel disse...

Para compensar a falta de "visitas" à tal casinha do Lumiar, de que falámos? :-)))
Belo post!

Abraço.

Atalaia disse...

Tomar partido em

Maria disse...

E quando voltares logo aqui estarei. E teremos notícias... :))

Um beijo e bom trabalho.