quarta-feira, setembro 22, 2010

Alexandria 7 – CAMINHOS E TROPEÇOS, DE PERDIDOS E ACHADOS

Da visita à Biblioteca e, particularmente, ao Museu Sadat, trouxe muitas reflexões. Uma frase de uma escultura-portal na impressionante sala de leitura, do conhecimento à sabedoria.
O Museu Sadat são duas pequenas salas de memorial de uma intervenção individual determinante, e de um período histórico, entre 1952 e 1981, que já vivi na minha pessoal procura do conhecimento.
Nesse período, o papel do Egipto nas relações internacionais foi muito importante, a partir de Nasser (e, ao correr das teclas, apareceu-me uma analogia histórica – talvez um disparate… mesmo com a “água benta” das diferentes circunstâncias históricas que as décadas provocam – com a Venezuela e Hugo Chavez). No pequeno Museu Sadat releva-se a vida de um homem que fica na História como dedicado à Paz (Campo David), a sua prisão como “um dos lugares em que o homem se encontra” (assim o disse, e publicou um livro com o título Em busca da identidade). Embora nem todos os encontros sejam bons e, no caso de Sadat, houve alguns desencontros…
É difícil, em duas linhas, falar desta figura tão controversa e influente, assassinada aos 63 anos, embora me apeteça destacar um sinal. Dos três homens após Farouk, Nasser (1952-70) (porque não o Museu Nasser?, porque foi assassinado?...), Sadat (1970-81) e Moubarak (1981- ), é o único em que se vê com toda a clareza uma mancha na testa, resultado de uma religião que faz os homens roçarem a cabeça no chão várias vezes por dia, deixando-lhes uma marca indelével… Mas de religião escreverei algumas coisas noutra croniqueta.
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Hoje, 3ª de manhã, perdemo-nos. Achámo-nos no meio da enorme cidade (são, com certeza, mais de 8 milhões… 8 milhões já eu contei!). Perdemo-nos (e achámo-nos) à procura de sítios, de nomes de ruas de números de portas. Nomes de ruas, ou quase nunca há visíveis e legíveis, ou mudaram, como parece que acontece com muita frequência; Fouad passou a Nasser, mas na toponímia afixada nem um nem outro nome aparecem. Números de porta só lá de muito de longe em longe… e se.
Em desespero de causa, pergunta-se (em inglês…) e, após muito esforço de parte a parte, parece que nos entendemos (até com toda a simpatia e desinibição, mesmo através de uma “burka”) mandam-nos andar mais uns quarteirões e “virar na segunda rua à esquerda”, que não nos leva a lado nenhum ou, pelo menos, ao lado que nós queriamos! Curioso: foi sempre na “segunda rua à esquerda” que nos mandaram virar!...
Chegou a haver alguma tensão entre nós. Mas, agora que escrevo… acho giro. Andámos pela Alexandria profunda, de antiquários, de quinquilharias, de bate-chapas (e já assistimos ao arranjo de clientela para essa “indústria”, aqui decerto muito próspera…),
de tapetes, de mantas, de tudo, de muita gente em cadeiras e mesas nos passeios a beber chá e a fumar “chicha”. Uma pena enorme de não ser capaz de conversar com alguns daqueles homens (e mulheres)!
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Regressámos ao hotel sãos e salvos.
Ah!, e afinal o trânsito na Corniche desiludiu-nos. Não manteve o nível de ontem, de 2ª feira. As 2ªs. feiras são o mesmo em todo o lado.

2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Que bela viagem. Também já me perdi, há muitos anos, em Marrocos,creio que em Fez, num daqueles bairros tortuosos daquela pobre população e foi bom ,porque o mito dos marroquinos assassinos e violadores aí não se verificou.Ficamos sózinhos, eu e o meu marido, naquele emaranhado de ruelas.Confesso que tive algum medo, mas um jovem marroquino simpático e gentil,apercebeu-se e levou-nos ao hotel sãos e salvos.
Foi uma expriência bonita.

Mas a tua viagem é maravilhosa e gosto muito da maneira como a vais descrevendo.

Um grande abraço.

Maria disse...

Quase uma aventura essa caminhada a virar sempre na 'segunda à esquerda'...
Continuação de boas férias!

Beijos.