Porque, para os portugueses, é o Brasil, obviamente...; porque o seu peso no contexto internacional ganhou uma importância enorme.
É, só!, a partir dos indicadores habitualmente utilizados, a 6ª economia mundial, depois dos Estados Unidos, da China, do Japão, da Alemanha, a aproximar-se da França, e tendo ultrapassado o Reino Unido.
Recentemente, a 21 e a 28 de Junho, aqui se deixaram dois "posts" em que tal era sublinhado e, ainda mais recentemente, recebemos um mail de Sergio Barroso com um interessante artigo (que já leramos no vermelho), cuja parte final se transcreve, depois de 9 pontos de fundamentação histórico-teórico-ideológica que também merecem leitura. E reflexão. Sobre o espontâneo e o consciente na luta de massas.
(...)
10. Em termos de considerações finais – e de volta para o futuro.
Não, não foi a “espontaneidade” crua que conduziu a rebelião social que
vivenciamos. A adesão de dezenas e centenas de milhares de jovens, populares,
trabalhadores, aposentados, pais com suas crianças, por si só, é uma óbvia
atitude de tomada de posição contestatória às referidas doenças e sequelas
sociais acumuladas dum capitalismo tardio brasileiro, dilacerado havia muito
pouco pela tragédia neoliberal; ao que se acrescente com ênfase o repúdio à
corrupção em geral, seja ela mistificada ou não pela sistemática campanha
midiática nacional. E leve-se em conta, de alguma maneira, a influência entre
nós dos grandes protestos ocorridos em Wall Stret (“occupy”), na Espanha (“los
indignados”), ou os do Egito, sem dúvida auxiliados pelas “redes” de internet.
Por outro lado, é imperioso preparar-se para um longo combate à
instrumentalização desses movimentos, a contrapropaganda preconceituosa contra
a organização partidária e das massas, que visam, como no passado, absorver e
diluir o descontentamento popular buscando estimular (remotos) movimentos
“inorgânicos”. Relembrando Gramsci, a direita reacionária utiliza esses
movimentos e “quase sempre... aproveitam o enfraquecimento objetivo do governo para
tentar golpes de Estado”.
Essencialmente,
as Jornadas de Junho refletem os espaços das conquistas democráticas
indiscutivelmente acentuadas pelos governos de Lula e Dilma: o pleno exercício
duma “democracia das ruas” veio se efetivar em massivos protestos convergentes
contra as mazelas deste tipo de capitalismo brasileiro! Por isso também
trata-se de um (perigoso) engodo a ideia de que nos encontramos na “primeira
década de governos pós-neoliberais no Brasil” [13]; bem como superlativizar as
políticas sociais como sendo “o coração dos governos Lula e Dilma”.
Três
exemplos insofismáveis: a) na política econômica, a permanência e a defesa
oficial do “câmbio flutuante”, da política fiscal semi-ortodoxa, bem como a
recidiva duma política monetária de juros elevados, atestando a vigência de
orientações ainda da órbita neoliberal (e nos últimos três anos não conseguimos
nos livrar da volta ao baixo crescimento econômico); b) entre abril de 2002 e
janeiro de 2013 o valor do salário mínimo passou de R$ 200 para R$ 622, o que
representa ganho real de 70,49% - o maior desde a sua criação; entretanto,
assegura o Dieese: dos cerca de 3,5 milhões de trabalhadores do estado do Pará,
quase 1,4 milhão (cerca de 40%) recebe hoje um salário mínimo; c) a renda per
capita do Brasil está em torno de US$ 10 mil ou cerca de três vezes inferior a
da Coréia do Sul, país que teve sua industrialização ainda mais tardia que a
nossa.
De
outra parte, diferentemente do que imaginam o Senador Lindbergh e o professor
Singer, o PCdoB - inobstante suas insuficiências e limitações - continua
empenhando todas as suas energias na organização, na elevação da consciência
política e programática das massas no país, nomeadamente dos trabalhadores (as)
e da juventude. Aliás, o PCdoB procura não esquecer as lições de Marx sobre o
significado abrangente do impacto das transformações nos meios de comunicação:
“A burguesia, pelo rápido aperfeiçoamento de todos os instrumentos de produção,
e tornando as comunicações infinitamente mais fáceis, arrasta todas as nações,
mesmo as mais bárbaras, para a civilização”. [14] Por isso o PCdoB não só sabe
a importância relativa das “redes sociais”, tendo seu de Portal Vermelho na
internet, premiado como o mais importante da esquerda brasileira; como também
não se deixa abater com as grandes dificuldades do desestímulo à participação
política: no caso das eleições da UNE (União nacional dos Estudantes), há anos
hegemonizada por jovens do PCdoB, desconhece-se no país qualquer outra
experiência de tal envergadura duma democracia “horizontalizada” para escolha
de seus representantes.
É
o PCdoB quem recusa o falso diagnóstico de já vivermos um decênio de
“pós-neoliberalismo”; é ele quem critica, desde o início do novo ciclo
político, a orientação macroeconômica do governo; é ele quem afirma vivermos
ainda “uma grande transição” a um novo estágio de desenvolvimento no país; é
ele a única corrente política no Brasil quem tem um renovado e nítido Programa
estratégico, nele pontificando a passagem pelo desenvolvimento e o progresso
sociais, com a indispensável ampliação da democracia para a garantia de luta
pelos direitos do povo brasileiro. Mas o Programa do PCdoB é socialista e não
tergiversa: considera que é o Socialismo a maior conquista da humanidade no
“campo da política” e, mais ainda, que só ele é capaz de levar adiante a
consecução dos grandes ideais da Revolução Francesa - Liberdade, Fraternidade,
Igualdade -, definitivamente abandonados pela democracia burguesa.
[13] As
precipitadas opiniões são de Emir Sader (org.) em: “10 anos de governos
pós-neliberais no Brasil: Lula e Dilma”, Apresentação, São Paulo,
Boitempo/FLACSO, 2013.
[14] Em: “Manifesto do Partido Comunista”. Lisboa, Edições Avante!, 1975, p.
64, 2ª edição.
1 comentário:
Mais um texto para ajudar a compreender os complexos problemas do povo Brasileiro.
Um beijo
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