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Edição Nº2131 - 2-10-2014
Em nome da oligarquia
Se alguém desejar conhecer em
pormenor como se desfaz e empurra para o abismo um país, então deverá fixar o
exemplo da Ucrânia, especialmente ao longo do último ano. Deparar-se-á com uma
verdadeira história de ódio e terror com carrascos e vítimas, onde não faltam as
fotos de família e a galeria de criminosos, tal como na famigerada Cimeira dos
Açores que anunciou o ataque assassino ao Iraque (em que posaram Durão, Bush,
Blair e Aznar). Aliás de Durão Barroso, agora em nome da Comissão Europeia, bem
se pode dizer que foi reincidente nestas altas andanças político-diplomáticas de
armar a guerra e ajudar a destroçar soberanias e povos. Não precisou de posar na
Maidan como muitos dos seus consortes, mas para a posteridade ficaram
gravadas as ameaças por si proferidas ao poder constitucional da Ucrânia, como
foi o caso na Cimeira de Vilnius da Parceria Oriental da UE, no final de 2013,
perante a recusa de Kiev em assinar o Tratado de Associação com a UE, cujos
termos equivalem de facto a uma acta de capitulação da soberania nacional
ucraniana. Estava dado o mote para a «explosão» da Maidan e o assalto
ao poder da tropa de choque neonazi, cuja organização durante anos a fio contou
com o apoio dos EUA. Nas semanas e meses seguintes representantes e emissários
dos EUA, UE e NATO multiplicaram as advertências e ameaças ao poder hesitante de
Ianukóvitch para que não ousasse fazer uso da força legal, enquanto o centro de
Kiev ficava à mercê da violência arruaceira e dos desmandos dos neofascistas. O
cenário de golpe de Estado escolhido pelo imperialismo seria consumado em
Fevereiro sob a «mediação» de uma alta-troika da UE.
É improvável que ao decidir levar o golpe até ao fim e
instalar no poder em Kiev uma Junta liberal-fascista, Washington e Bruxelas não
estivessem cientes das trágicas consequências para a Ucrânia que tal desfecho
acarretaria. Sacrificaram o futuro da Ucrânia aos seus interesses estratégicos e
agenda agressiva.
Desde então muita água já
correu debaixo das pontes do país do Dniepre. Sem disparar um tiro, a Rússia fez
regressar ao seu berço a Crimeia e a cidade de Sebastopol, sede da frota russa
do Mar Negro. Sob a batuta do FMI, os liberais-tecnocratas e nacionalistas
moderados ucranianos converteram-se ao ultranacionalismo feroz e xenofobia
militante, abrindo as alas do poder à extrema-direita neofascista. Quando o
poder ilegítimo foi confrontado com os protestos nas regiões do Leste e Sul e as
reivindicações de federalização lançou as forças armadas, a guarda nacional e os
batalhões neonazis contra o seu próprio povo. Enquanto o Donbass era
fustigado com tanques, artilharia pesada e aviação, no país aprofundou-se o
clima de perseguição e repressão política, de que são exemplos a chacina de 2 de
Maio em Odessa e as agressões, detenções e assassinatos de comunistas,
antifascistas e dirigentes opositores.
Porochenko prometeu, quando
assumiu o poder, derrotar os «separatistas» e «terroristas» em dias, semanas. No
pino do Verão, o alto comando militar de Kiev anunciou a conclusão vitoriosa até
final de Agosto da operação no Donbass. Os prognósticos falharam. No
meio de combates de grande ferocidade, a ofensiva do poder não atingiu os
objectivos propostos. As baixas humanas e militares foram elevadíssimas
(Porochenko reconheceu a destruição de 65% do arsenal mecanizado do Exército). O
Governo sentou-se à mesa das negociações, mas a guerra não cessou no
Donbass, cortado ao meio. Sob o fogo cruzado da guerra económica movida
contra a Rússia, o perigo de um longo impasse junta-se às terríveis destruições.
Com o Inverno à porta, sem gás e com a maioria das minas de carvão sob a alçada
das repúblicas rebeldes, a economia nacional encontra-se à beira da bancarrota e
as condições de vida dos ucranianos degradam-se dramaticamente. Em resposta, a
junta e os media intensificam a campanha de irracionalismo. É este o
preço do desastre na Ucrânia.
Luís Carapinha
1 comentário:
Quando é que o durão Barroso deixou de ser nazi?!...
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