Um trabalho jornalístico (de José Goulão) esclarecedor
... e impressionante!:
UNIÃO EUROPEIA AFOGOU
OS DIREITOS HUMANOS NO MEDITERRÂNEO
Os resultados da cimeira da União Europeia dedicada à tragédia
no Mediterrâneo confirmam que os conceitos de “humanismo” e “direitos humanos”
se transformaram em palavras ocas a usar obrigatoriamente nos discursos e
declarações oficiais, mas que deixaram de fazer qualquer sentido nas mentes dos
dirigentes, pervertidas por estatísticas, indicadores, cálculos de deve e
haver. O panorama tornou-se de tal maneira vergonhoso que permitiu a emergência
de Jean-Claude Juncker, o tecnocrata impenitente que preside à Comissão
Europeia, como figura dotada de resquícios de alguma sensibilidade. Por isso
ficou a falar sozinho e as suas propostas foram derrotadas.
A arte propagandística da manipulação dos números, usando termos
como “triplicar verbas” e insistindo no uso da palavra “milhões”, não resiste a
uma avaliação breve dos resultados. Em suma, os chefes dos 28 – que gastaram
longas quatro horas dos seus preciosos tempos à ameaça que paira sobre milhões
de seres humanos – decidiram gastar 9 milhões de euros por mês nas operações de
patrulhamento do Mediterrâneo através do Frontex, a polícia das fronteiras
externas da União, em vez dos 2,9 milhões actuais. Pois bem, descodificando a
multiplicação por três: os 9 milhões correspondem ao que a Itália gasta sozinha
na operação Mare Nostrum e, ao contrário desta, que se estende até aos limites
das águas líbias e tunisinas, restringem-se apenas às águas territoriais dos
países ribeirinhos da União, evitando as zonas onde acontecem a maioria dos
naufrágios. Recorda-se que o orçamento da União Europeia para 2015 é de
161 800 milhões de euros
Como o preço da vida humana anda de facto muito por baixo nas
cotações bolsistas, note-se que 9 milhões de euros/mês correspondem a menos de
um décimo do orçamento do Frontex, que obviamente tem muito mais que fazer. O
seu director-geral, Frederice Leggeri, explicou que este corpo “não tem por
missão salvar vidas”, e se o faz é apenas por imposição “do direito
marítimo”, porque deve dedicar-se, isso sim, a “controlar e triar as
entradas de imigrantes irregulares”.
No quadro das decisões tomadas durante a trabalhosa reunião, a
chefe da política externa da UE, a italiana Frederica Mogherini, foi
encarregada de ir estudar os meios jurídicos a que é possível recorrer, no
quadro das leis internacionais, para combater as redes de traficantes de carne
humana que medraram como cogumelos no Mediterrâneo depois de a NATO ter
“libertado” a Líbia. Ou seja, a dirigente europeia vai reflectir nas leis para
combater traficantes de pessoas que fogem da guerra e da miséria depois de a
União Europeia ter passado por cima de todas as leis internacionais para fazer
a guerra na Líbia e desmantelar o país, deixando o terreno perfeito para os
praticantes de todos os tráficos. Quanto aos imigrantes propriamente ditos que
sobreviverem às tragédias no mar dificilmente escaparão à triagem do Frontex,
muito mais preocupado em expulsá-los para os países de origem, para as
situações de que fugiram – sendo que esta medida viola a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, coisa de que não é matéria obrigatória, nem facultativa,
nos cursos de economia neoliberal, incluindo os tirados por correspondência.
Para o acolhimento “solidário” dos imigrantes que escaparem a tudo isto, a
União Europeia vai criar um “programa piloto” de integração, ideia que
dificilmente encontrará saída no labirinto da burocracia europeia, onde nem
sequer ainda entrou. Talvez o objectivo seja esse.
Registemos que as quatro longas horas de reunião foram um favor
feito pelos dirigentes europeus aos milhões de seres humanos vítimas de guerras
e misérias. O presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, foi muito
claro quanto a isso: “a Europa não causou esta tragédia, mas não quer dizer
que lhe seja indiferente”. Leram bem, sim. Um dos padrinhos do caos
ucraniano diz que a Europa não tem culpa nas guerras de que fogem os náufragos.
Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão, Egipto, Mali … A União Europeia tem as mãos limpas destes acontecimentos. A
mentira e o absurdo tornaram-se instrumentos privilegiados dos políticos que
mandam na Europa.
Como nota final de mais um episódio negro da história negra da
União Europeia deixo-vos esta pérola patética do impagável Hollande: “gostava
que tivéssemos sido mais ambiciosos…”. Então o que os impediu?
José Goulão
(em mundo cão)
2 comentários:
A Uniao Europeia,nua e crua!Que vergonha!
Bjos
Vergonhoso...para quem tem vergonha!
Enviar um comentário