Durante a viagem de
regresso, o cansaço de tanta emoção e abraços venceram-me. Dormi. Depois de uma
curta refeição, enquanto, ao telefone, trocava as habituais e sempre camaradas
impressões com o CS, e me preparava para pôr fim ao dia cheio, os olhos foram atraídos
por uma imagem no aparelho de televisão. Era o Jerónimo, a falar (sem som) num
cenário de biblioteca. Parei a ver se percebia… e fugi para um canto só meu, onde
pudesse ver e ouvir o que adivinhava … interessante (pelas imagens fugidias).
Procurei o princípio.
Teclando no recomeço do programa. Apanhei tudo. E o dia cheio extravasou.
Um debate na TVI!
É irresistível a
vontade de comentar, de cronicar sobre um debate tão rico e tão esclarecedor, com
tanta adulteração da História e com tanta urbanidade (quando a imprecação e a
indignação poderia provocar voz alta e gritada), com tal limpidez de posições e com
tais confissões sobre o perigo que pesou sobre o Povo e a Pátria. Mas só poderei deixar – eu que vivi intensamente alguns daqueles episódios recordados e tão
mal-contados por alguns –, à medida razoável de um blog, um apontamento
sobre cada um dos intervenientes.
Como estavam todos na “qualidade”
de deputados na Constituinte (3 eleitos pelo PPD/PSD, dois pelo CDS, um pelo PS
e um pelo PCP… faltando alguém eleito pelo MDP/CDE e alguém eleito pela UDP), começo
pelo que foi chamado “pai da Constituição” (!), Jorge Miranda, que (tendo tido o cuidado de esclarecer que foi deputado pelo PPD e não pelo PSD), pelo que
disse e como disse se definiu como estrénuo defensor de uma democracia
ocidental contra o comunismo, contrapôs a legalidade democrática à legalidade
revolucionária, sempre em alternativas redutoras e académicas.
Depois, entre os
professores, Freitas do Amaral, o contra-revolucionário no terreno, não hesitou em deturpar
a letra da Constituição para justificar o voto contra o espírito de democracia
avançada, anatematizando uma “constituição económica” que, aliás (é bomlembbrar!) se baseava na
articulação de três sectores – público, cooperativo e privado – e na
prevalência do interesse geral sobre o interesse particular e, ainda hoje, insistiu em recordar, mais de uma vez, a fera e repetida ameaça da guerra civil e da divisão do País em dois, com a transferência dos "democratas" (de costas quentes peloapoio internacional), do Governo e da Assembleia Constituinte para o Porto.
A seguir, Basílio
Horta, companheiro do Diogo (assim o tratava) na Constituinte, nos conluios inter-partidários
com o PS e nas excursões ministeriais e autárquica para o parceiro de conluios,
o polivalente adaptável que tão bem conheci, enquanto representante da
Corporação da Indústria do "Estado Novo", mais reconhecido por fascista, na fase de conciliação do contrato colectivo dos metalúrgicos
em 1973, e que, ali,no debate, corroborou sem corar… o que "o Diogo" aventou.
Do lado dos eleitos
PPD/PSD, Angelo Correia fez o seu televisivo "número" de historiador-teórico-ideólogo-estratega
de coisa nenhuma, e Marcelo Rebelo de Sousa também foi ele-mesmo, com a sua
destreza e habilidade funâmbula, deixada para o fim do programa, a partir de uma pergunta
preparada de um jovem assistente para resposta, na sua qualidade de comentador residente do canal... sempre com a sua aposta na irradiante simpatia coloquial valorizando
muito, subliminarmente, a sociedade civil juventude desorganizada versus velhice... não a do Padre Eterno mas a dos partidos, depois de ter renovado o episódio, muito repetido neste 25 de Abril de 2015, da rocambolesca fuga pelos telhados de Beja.
Ainda Manuel Alegre,
explicando inexplicáveis coisas, poeta e muito socialista, democrata e todo anti-ditaduras,
saudoso de uma união PCP-PS “à francesa”, decerto distraído do que isso foi e
do que isso deu.
Por último, Jerónimo de
Sousa, o operário construído e sempre em construção, no meio dos deputados
professores, doutores, engenheiros empresários e poetas, muito sereno (como é
que conseguiu?!). conciso, humilde (talvez demais...) mas firme, a pôr alguma ordem em várias desordens a tender para caos (e terrorismos a redundarem, se necessário fosse, em guerra civil, com armas e munições em leasing
de governos e partidos “democráticos” ocidentais…).
Foi evidente, para quem
divida as orações daquelas prédicas, que havia, em 1974/75, não alternativas
redutoras mas caminhos diferentes para a Pátria, que estavam em causa opções de classe. Como
continuam a estar. Noutras condições. Na mesma luta!
1 comentário:
Bom resumo, mas vejam porque ainda estão a tempo.
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