Os membros, porta-vozes responsáveis das maiores empresas mundiais, parecem
divididos, segundo esse estudo, sobre os benefícios do que chamam
“mundialização”, mas estarão “extremamente positivos” quanto às previsões de
crescimento.
Na continuidade destes trabalhos e
acompanhamentos da evolução da economia mundial, do Global Risk Report, o estudo sublinha a queda dos níveis de vida da
grande maioria das populações dos países industrializados e a desconfiança
crescente relativamente às elites políticas e comerciais, o que ameaça a situação
política e económica actual.
Não obstante este ambiente geral de descontentamento, numa escassa
maioria, os inquiridos (51%) dizem-se “extremamente positivos” face às
perspectivas de longo prazo para as suas empresas, comparados com os cerca de
30% quando o inquérito foi publicado pela primeira vez. Além disso, 38% dos
altos dirigentes declaram-se optimistas quanto ao futuro das suas empresas para
os próximos 12 meses, em confronto com os 35% do ano passado.
O inquérito teria revelado que os responsáveis se tinham adaptado à
incerteza que continua a dominar as relações comerciais. Também se consideraram
capazes de aproveitar as oportunidades criadas em períodos turbulentos.
A saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Trump nos Estados
Unidos teriam sido prova do descontentamento generalizado perante as perdas de
emprego em certos sectores, e do crescimento das desigualdades nas sociedades
ocidentais. A "mundialização" e as novas tecnologias exacerbaram essas
tendências, convergindo numa profunda desconfiança para com o
institucionalizado, segundo o relatório.
Cita-se Branko Milanovic, economista e professor em Nova Iorque, que
explica que “os mais importantes ganhos da mundialização caíram nas mãos de uma
pequena elite cada vez mais rica nos países industrializados e da classe média
asiática, cada vez mais importante. Ao contrário, os maiores perdedores são as
pessoas de fracos rendimentos dos países desenvolvidos”.
Neste contexto, os chefes de empresa estão divididos quanto aos benefícios
da "mundialização". Por um lado, o comércio quadruplicou nestes últimos 20 anos e
a circulação na internet explodiu; os progressos tecnológicos e a "mundialização" preencheram vazios entre os rendimentos e os países e mil milhões
de pessoas saíram da pobreza extrema, sobretudo na China. Por outro lado,
entretanto, em vez de trazer a prosperidade aos países desenvolvidos, que teriam sido os primeiros a adoptar a "mundialização", o sistema provocou perturbações sociais
no mundo ocidental; como facto revelador, 44% dos chefes de empresa pensam que
a "mundialização" não conseguiu diminuir o fosso entre ricos e pobres,
“Todo o sistema capitalista será posto sob pressão pelos trabalhadores
que não aceitarão mais as actuais diferenças na distribuição da riqueza”, estimou um director
com base no Reino Unido.
Novo indicador
Em relatório separado, o WEF mostrou que os rendimentos medianos tinham
baixado 2,4% em média em mais de 50 países, para caírem para cerca de 2500 US$
(2.300€) por família. “Está no centro do descontentamento público”, declarou G.
Corrigan, investigadora no Fórum.
Para além de desígnios puramente retóricos por um crescimento inclusivo, R. Samans, membro do directório do WEF, lamentou
a falta de “consenso prático” entre os decisores políticos e os chefes de empresa
para o realizar.
Bob Moritz, director de PwC, mostrou-se um pouco mais optimista,
declarando aos jornalistas que 2017 deverá ser o ano em que as palavras se
transformarão em acções. Segundo ele, os PDG e os decisores políticos estão
atentos às inquietações dos cidadãos. Graças às redes sociais, existe uma “tomada
de consciência crescente como nunca antes”, acrescentou.
Para começar, o WEF propõe adoptar um novo indicador sobre o
desenvolvimento inclusivo, como alternativo ao PIB. O rendimento mediano das
famílias estará “no centro” do novo indicador, baseado em 12 critérios,
explicou R. Samans, assegurando que reflectirá melhor o desenvolvimento económico.
O estudo do PwC previne, no entanto que “o descontentamento popular não
ameaça apenas o crescimento; o bem-estar social e a igualdade são motores de um
resultado económico a longo prazo”. Neste contexto, um crescimento económico
incerto tornou-se a ameaça número um dos PDG (ou CEO), à frente da
sobre-regulamentação.
Apesar do contexto político difícil e da incerteza que reina em volta da administração
Trump, os Estados Unidos ultrapassaram a China como fonte potencial de
crescimento mais importante para o próximo ano, segundo altos dirigentes. Além
disso, o Reino Unido parece mais popular entre os homens de negócios este ano
que em 2016, e isso apesar da incerteza que resulta das negociações Brexit.
As palavras inquietantes de Trump visando os principais parceiros comerciais
dos Estados Unidos conjugaram-se com a promessa de um reforço orçamental sob a forma
de despesas em infra-estruturas e reduções fiscais. Estas promessas "drogaram" claramente o optimismo dos chefes de
empresa nas suas perspectivas comerciais com os Estados Unidos.
O
estudo foi publicado na véspera da chegada do presidente chinês Xi Jinping a
Davos, onde deverá posicionar a China enquanto defensora da mundialização
quando se dirigir aos membros, hoje, 17 de Janeiro.
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O texto (e o "post"...) estará longo. Mas contém informação, com base em larga recolha de inquéritos a protagonistas, que parece útil. Pelo que revela, e pelo que pretende que seja conhecido como "ambiente" nas grandes empresas e grupos. A medida anunciada de um novo indicador alternativo ao PIB é significativa. Ignora um indicador já existente, com quase 30 anos e muita informação, criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com o nome de "desenvolvimento humano", que completa e corrige o PIB com dados de vária origem, focalizados na saúde e na educação. Esta "invenção" de Davos revela perturbação e objectivo de diversão.
S.R.
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