terça-feira, março 19, 2019

De reflexões lentas e doridas...


Retiradas de um quase-diário:

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... o não inesperado aproveitamento do “caso Miguel Casanova”.

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Vai dar pano para mangas, ou achas para a fogueira onde chamuscar (até queimar, se possível) o PCP.

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Pelo menos, e pouco será, para agora vai dar para uma reflexão (ou duas!) aqui neste diário.

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Aprendi, na Escola do Partido em que ando há mais de 60 anos, que ser funcionário do Partido é (era) coisa muito séria, era (é) a trave-mestra de toda uma organização.

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Na concepção que está nas nossas bases e acção, o funcionário (em vez de colocar entre aspas prefiro o bold...) era (é) o militante que passou a ser político a tempo inteiro, com dedicação total… até a da própria vida sempre em risco.


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Os primeiros que conheci foram o Carlos Aboim Inglês e o José Bernardino, o primeiro que controlou a célula dos economistas para onde entrei foi o Ângelo Veloso, depois o Joaquim Pires Jorge, depois o José Dias Coelho, que conheci (sem saber quem ele era) até que a morte desceu à rua trazida por mãos assassinas.

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Que professores tive!

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Por isso, e com pessoal e muito funda sensibilidade, sentirei a importância do funcionário do Partido na vida do partido e na militância dos militantes.

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Com o 25 de Abril, com o Partido da clandestinidade da luta contra a ditadura e a guerra colonial, pela liberdade e democracia, a passar para a condição de partido igual aos outros… mantendo-se diferente, a adaptação da situação de funcionário também teria de ser diferente… mantendo-se igual, como político em tarefa a tempo inteiro e remuneração igual à que teria se essa não tivesse sido a sua opção… de vida!

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E foram tantos e tantas com quem tive algum contacto ou ligação que tinha/tem a ver com o Partido e a concepção de funcionário… e por isso (...) me atrevo a dizer que, como eles, me assumi como funcionário enquanto em tarefa de eleito parlamentar, em dedicação exclusiva.

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… em resumo, terei errado em vários momentos de avaliação de outros (e de mim!) por culpa das circunstâncias…

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O que sobra da experiência vivida ao vivo foi um ensinamento sobre a precariedade dos juízos relativamente a outros (e a mim próprio).

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Faço esta recapitulação porque estamos a ser agredidos porque um funcionário  pôs o Partido em tribunal com a acusação de o ter despedido (!), e essa acção ser patrocinada por um advogado nosso camarada, como uma questão laboral comum.

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Para mim não é!, muito longe disso, e muito me entristece que camaradas meus assim a vejam. 
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De pecados originais, por muito originais que sejam, ninguém se livra, o pior é o modo como se transformam em evidências e numa arma para o inimigo, a quem somos nós, os nossos, que municiamos.


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O inimigo não precisava destas ajudas…

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… mas muito as agradece!, e bem as aproveita.

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É preciso, alto e bom som, responder que, vivendo numa correlação de forças que nos obriga a con-viver debaixo de conceitos e regras que combatemos, que não aceitamos como nossas, que defendemos e lutamos por outros e outras, para o futuro, para a Humanidade.

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Que nunca nos posicionando como patrões, cumprimos as regras a que somos obrigados como se patrões fossemos, e que lamentamos profundamente que sejam nossos que nos ponham em situações destas.

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Aliás, há que afirmar que o nosso adversário – ou inimigo de classe – não são os patrões, que lutamos contra o sistema de relações sociais que os faz, ou permite que sejam, exploradores.

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Mas, muito mais fundo, não aceitamos que haja quem passe atestados de democracia, a partir de critérios redutores que escondem a exploração e as desigualdades e assimetrias decorrentes com o manto do voto para todos, manto roto e/ou manta retalhada pela informação manipulada e manipuladora.

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Quem quer arvorar-se em juíz ou auto-qualificar-se para registos notariais de atestados de democracia?, pois nós exigimos discutir qual democracia?, a deles?, a representativa e/ou a participativa?, a da estatística de votos expressos em urnas e/ou a que fica à porta da economia, e da informação, e da árvore genealógica, e do local/região/país/continente de nascimento?

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Mas, acho também!, que o a reflexão e o debate ideológico têm de nos capacitar internamente, sem receios e com prioridade.

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Volto e voltarei à questão do partido de massas que, para o ser, tem de ser um partido de funcionários, de militantes disponíveis e dispostos à dedicação total… a aprender, aprender, aprender sempre.

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E transmitir, e divulgar sempre… mas sempre respeitando os outros, a quem se transmite e divulga, também aprendendo enquanto se transmite e divulga.

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Eu sei que estou a divagar, mas a divagar exigentemente comigo próprio, certo de que muito pouco posso fazer, mas que esse pouco deve ser feito.

4 comentários:

Justine disse...

Divagar? Estás a fazer uma reflexão séria e profunda sobre problemas graves

caminhante disse...

di vagar se vai ao longe!

Olinda disse...

Completamente de acordo com a reflexão sobre o caso do funcionário.(Só me entristece,por tanto respeito e carinho pelo pai).Bjo

Maria disse...

Quero tanto falar contigo, Sérgio....
Beijo.