quarta-feira, outubro 26, 2005

De antologia

Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.
Pois quando vieres,
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal, in Silêncio de Vidro, Editorial Escritor
Poema dedicado ao irmão, Álvaro Cunhal, então preso nas masmorras fascistas

(do blog Vale a pena lutar!)

1 comentário:

Anónimo disse...

Belíssimo!
A delicadeza das palavras!
Suaves, afectuosas, convictas!
Um poema de esperança!
Muito comovente!

GR