sexta-feira, outubro 28, 2005

Histórias de lição e exemplo - 1

Íamos conversando naturalmente quando ele me interrompeu, com alguma severidade na bonomia muito sua:

“‘Pera aí! Outra vez essa história! Pára com isso! Não penses, camarada, que pelo facto de seres comunista és melhor que os outros. Não somos nem melhores nem piores do que os outros, do que os que não são comunistas.
Todos tivemos (e temos!) as nossas fraquezas, as nossas hesitações, os nossos erros. Todos temos, cá por dentro, coisas boas e coisas más.
A nossa obrigação de comunistas é a de pôr as coisas que, a nosso critério, de acordo com os nossos valores e princípios, são as coisas boas ao de cima, bem por riba das coisas más que por cá também andam.
E, ó camarada, o que correu mal não é para esquecer, mas também não é para ser ferida em que de tanto se mexer se transforme em chaga… é para cicatrizar!
Depois, não faz mal nenhum passar por lá o dedo de vez em quando. Mas só de vez em quando!”

Foi há bem mais de uns 30 anos, Joaquim Pires Jorge!
Não teriam sido exactamente estas as palavras.
Mas foi esta a lição nunca esquecido.

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem melhor, nem pior.
Simplesmente cada um é como é!
Aos olhos dos outros, podemos ser piores ou melhores, mas nunca deixamos de ser quem realmente somos.
O importante é respeitar os outros por aquilo que são.
Essa é a minha opinião.
Obrigada por deixá-la aqui neste canal de comunicação.

Anónimo disse...

O Operário da Utopia
Affonso Romano de Sant'anna

Apanhado em meio à noite,
jogado no chão da cela,
o corpo conhece, nú,
a primeira humilhação.
Outras virão: o soco,
o choque, a ameaça,
o urro na escuridão.

- Quantos volts
suporta o corpo
- em coação,
até que dele escorra o fel
da delação?

- O que procura o torturador
nas pedras do rim alheio
como vil minera/dor?
-O que ama esse ama/dor
da morte?
esse morcego suga/dor
sob os porões da corte?
esse joga/dor
do jogo bruto?
esse serviçal da morte
e cria/dor
- do luto?

O torturador se julga, e acaso o é,
um trabalha/dor diferente:
seu trabalho é destruir
o sonha/dor insistente
como o médico que resolvesse
matar de dor
- o paciente.
Mas sob a tortura
o que há de melhor no homem
jamais se manifesta. Quando muito
podeis catar pelo chão
o pouco que dele resta.
Mas soltai-o em festa, ao sol
e vereis que a verdade
de seus gestos se irradia.
Livre
vestindo a pele do dia,
o torturado caminha
com seu corpo tatuado
de violência e poesia.
Mas ele não marcha só.
Apenas segue na frente
na direção da utopia.