sábado, julho 28, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 3

Lisboa ao tempo da escrita de D.Quixote
- cidade e quase-capital da Ibéria
Mais um pequeno percurso, até à página 331, e quem sentiu em cada passo dado a vontade de parar, aqui não pode deixar de o fazer. Em duas pinceladas alguns traços (coloridos) sobre o povo português e a questão essencial da língua. Sem faltar o toque, leve e essencial, sobre o lusitano-galaico.
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Não existia povo, no sentido de corpo social com sentimento de que vivia por virtude própria e segundo leis adequadas, mas uma rebanhada de famintos, espoliada primeiro pelos reis nacionais, sobretudo por D. Sebastião que precisou de dinheiro a todo o custo com que equipar o exército de África, e o cardeal-rei, que lançou derramas sobre derramas para resgatar fidalgos do cativeiro, nanja os mecânicos, que esses ou se naturalizaram moiros ou apodreceram cristãmente na escravidão, finalmente por Filipes e quadrilha, não menos rapaces que os governantes das dinastias legítimas.
Operou-se de novo a bipartição e julgamos que para todo o sempre. A datar daquele ano, as duas nações cada vez se apartaram mais em carácter, tendências e gostos. Na língua acima de tudo. (…)
A melhor forma de cimentar a etnicidade de um povo consiste na posse e uso de um idioma próprio. Ora dia a dia, com a evolução que se foi efectuando inelutável e profunda, mais o português se tornou português, tão longe do espanhol, repetimos, como do francês ou italiano. Longe vai a conjunção em que o castelhano se podia prevalecer do nosso idioma, como de um dialecto, o dialecto lusitano-galaico. Escapámos ao amplexo da boa-contrictor e só é pena que, derruído o solar da mãe celta, os dois filhos mais ocidentais, Portugal e Galiza, se olhem por cima de muros.
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Por isso, se à Galiza fores em funções ou passeio (e vale bem a pena), português podes (ou deves?!) falar. Estarás em Espanha mas és português, e entender-te-ão esses espanhóis que, como galegos que são, até te agradecerão. E não farás a figura ridícula, em que os portugueses são contumazes, de arremedar outras línguas falando um português adulterado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui fica registado pedido que já te fiz para me emprestares o "No cavalo de pau..." já que tanto me aguças o apetite para o ler.

Anónimo disse...

Obrigado, mia amiga, pelo gesto...
Claro que está registado o pedido e será satisfeito.