terça-feira, julho 31, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 5

Aquilino, ao assumir a tarefa de fazer dessa obra monumental que é D. Quixote uma versão - portuguesa - que a não desmerecesse, não se ficou por aí. Juntou-lhe um ensaio em que os povos e as nações se encontram nas diferenças que o tempo foi construindo e cimentando. Se "Cervantes leu o horoscópio da sua pátria numa hora de iluminado. E posto a pintar um louco sublime com tintas facetas, saiu-lhe, sim, a Espanha grandiosa e trágica", como termina "No cavalo de pau com Sancho Pança", Aquilino também teve a sua hora de iluminado (muitas teve...) e pintou o povo português, talvez "hispano europeizado", sempre europeu porque aqui nasceu, nunca espanholado por integração espúria. Apesar do garrote da economia e das finanças.
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A nós, os portugueses, Keiserling não achou melhor que classificar-nos de espanhóis degenerados. Não é bem assim. Somos hispanos europeizados, ou evolutivos. Em verdade, a nossa terra apresenta grande unidade étnica. Se essa unidade se expressa, acima de tudo, por univalência psíquica, direi que o minhoto se parece tanto com o alentejano como o algarvio se diferencia do galego.
O bocado de massa que não levedou ao fermento castelhano, na grande masseira que é a Península, adquiriu personalidade distinta de estrato antropológico.
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São os últimos parágrafos de No cavalo de pau... Acabo esta viagem. A ela voltarei porque apenas antecipei o seu final. Ao prazer que a viagem me foi dando (e a que regressarei quando a retomar), veio juntar-se alguma pena, algum amargor. São assim as viagens... Nunca sempre por caminhos em que só se olha em frente ou só para o que é belo e gozo nos dá.

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