terça-feira, agosto 24, 2010

Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 9 (Mário Castrim)

Este é um "poema cuco" especial. Algum não o será?... Sobre um poema de um camarada que deixou uma enorme saudade que resiste aos anos que vão passando. Com uma dedicatória: à Mariana Rafael (a Clarinha).

À maneira copiada
(com uns acrescentos)
de Mário Castrim

Viagem
através de uma tipografia clandestina*


Gritar Liberdade!, é fácil
… quando se vive com liberdades.
É fácil defender a liberdade de expressão
num off-set sofisticado,
com ar condicionado, telex, telefones
amplas janelas para o sol, quebrado
por estores de alumínio, docemente,
com salário em dia, hora para almoço, crédito bancário,
protecção constitucional e recurso ao tribunal.
E, mais adiante, fácil é defender direitos humanos
em mails e nets, blogs e facebook
tudo Windows set e new-look.

Assim,
serem pela liberdade de expressão uns,
outros perorarem sobre direitos humanos
é cómodo, é fácil, é barato e dá milhões (a alguns…)

Mas do que eu estou a falar é de outra coisa.
Se entendeste, o poema está cumprido.
Se não entendeste, o poema espera
com a paciência tradicional de todos os poemas


___________________
* -
do caderno Viagens,

editado pela célula dos Trabalhadores Gráficos

da Renascença Gráfica/"Diário de Lisboa"

para a Festa do avante! de 1977 (Jamor)

3 comentários:

Justine disse...

É um post com vários - e importantes - caminhos a percorrer, a desvendar!Até que se cumpra o poema...

José Rodrigues disse...

Entendi o poema.Sobre milhões e protecções,submissões e manipulações,já li o editorial do DN...

Abraço

samuel disse...

Boa malha!
Fico sempre com vontade de ir encontrar os escritos do Castrim... e não encontro.

Abraço.