sexta-feira, setembro 16, 2011

Reflexões lentas e curtas - os preconceitos

Há duas ideias que me estão a perturbar as reflexões (se fossem só essas duas...).
Vou tentar libertar-me de uma.

É facto assente, e sobejamente comprovado, que há um preconceito em relação ao comunismo, em geral, e aos comunistas, em particular.
É natural (estou a escrever demasiado... é natural!). Numa sociedade de classes, a classe que domina coloca, quanto a relação de forças (entre as classes) lho permite, o(s) "aparelho(s) ideológico(s)" à sua disposição.
Durante décadas e séculos, usando os meios que são (deveriam ser) produto e utensílios da/ao serviço da Humanidade, põe-os ao seu serviço para a criação e manutenção e adaptação desse preconceito (e pressupostos). Para o que a vertente religião tem grosso contributo, integrada no "aparelho ideológico". Instilando esse preconceito em relação aos comunistas.
Pelo que, numa divisão maniqueísta, mesmo quando adopta disfarces ou se esconde, o comunismo seria o mal, os comunistas os maus. Havendo, na complexidade do preconceito e para o tornar credível, alguns comunistas bons. Mas esses seriam as excepções. Os comunistas bons, ou não seriam comunistas, ou seriam maus comunistas.

Tudo certo (é como quem diz...).

Agora o que me engulha as reflexões são os nossos preconceitos (sublinho: os nossos, dos comunistas!) ou pressupostos.
Por vezes, ouço-nos, no debate político institucional, e parece-me (!) evidente que, para além do diálogo necessário (e possível desde que com respeito mútuo) entre quem tem conceitos diferentes, irredutíveis, existe algum preconceito nosso em relação aos nossos interlocutores. O preconceito (ou pressuposto) de que são esses interlocutores são... democratas.
Talvez o sejam. Mas, se o são, são de uma democracia que não é (nunca poderá ser!) a nossa. Ou, então, admitiríamos o preconceito (ou pressuposto), estoutro mais complicado ainda, de que há um conceito universal, absoluto, de democracia. E em luta de classes, não há! Há, isso sim, conceitos classistas de democracia. Irredutíveis.

Fiquei mais aliviado.

7 comentários:

trepadeira disse...

É sempre um prazer passar por aqui,já se tornou um bom vício diário,às vezes,quase sempre,mais que uma vez.
Como me lembrei do distinto autor do "anónimo séc XXI" ao ver este video:
http://www.youtube.com/watch?v=FebPPRNtBAU&feature=youtu.be

Um abraço,
mário

Sérgio Ribeiro disse...

trepadeira - muito obrigado pelo comentário e, sobretudo, pelo estímulo. O vídeo recomendado foi logo visitado e deu-me muito... gozo! Já conheço a prof. Maria da Conceição Tavares, e gosto sempre de a ouvir, particularmente pela força que dá à economia como ciência social e humana. Que é o que é.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Muito bem observado!

Um abraço grande.

Graciete Rietsch disse...

Vi a entrevista que achei interessante mas, na minha ignorância, creio que a matemática não será de desprezar. Mas, também na minha ignorância,acho que a economia é uma ciência social e política posta ao serviço de um País que é como quem diz de um Povo.

Um beijo.

Graciano Mendes disse...

Sem dúvida. Muito bem observado.

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - deves estar a referir-te à Maria da Conceição Tavares... e estou de acordo contigo que a matemática é muito importante (aliás, a Maria da Conceição - que, antes de ser economista, se formou em matemática - também)... mas como instrumento ao serviço da economia ciência social.

Um beijo

Graciete Rietsch disse...

Pois é camarada. Estava a referir-me à entrevita de Maria da Conceição Tavares.
São muitos anos já e algum cansaço.

Um beijo.