sexta-feira, dezembro 06, 2013

Mandela - 2

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Não sei identificar com exactidão o momento em que me tornei politizado, em que soube que dedicaria a minha vida à luta de libertação. Ser africano na África do Sul significa que se é politizado desde a nascença, quer se queira ou não. Uma criança africana nasce num hospital Só para Africanos, é levada a casa num meio de transporte Só para Africanos, vive numa zona Só para Africanos e frequenta escolas Só para Africanos, se chegar a frequentar alguma escola.
Quando se torna adulto, apenas pode ter um emprego Só para Africanos, alugar uma casa em áreas residenciais Só para Africanos, andar em comboios Só para Africanos e ser mandado parar a qualquer hora do dia ou da noite para mostrar o passe, se lho ordenarem, pois que, caso não o faça, será preso e metido na cadeia. A sua vida está circunscrita por leis e regulamentos que lhe tolhem o crescimento, diminuem o potencial e restringem a vida. Era esta a realidade, e uma pessoa pode encará-la de muitas e variadas formas.
Não tive nenhuma iluminação, nenhuma revelação singular, nenhum momento de verdade, mas uma acumulação constante de mil desfeitas, mil indignidades, mil momentos esquecidos produziram em mim uma ira, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que tinha aprisionado o meu povo. Não houve nenhum dia em particular em que eu tivesse dito «daqui para a frente dedicar-me-ei à libertação do meu povo»; em vez disso, dei comigo a fazê-lo, e de uma forma irreversível.
(...)











edição Campo das Letras
tradução de Ana Saldanha

4 comentários:

Justine disse...

Parece tão simples. É tão simples...

Maria Fernanda Simões disse...

Mandela vai ficar na nossa memória como um exemplo de dignidade e coerência na luta pela libertação dos povos.

Olinda disse...

E,tantos que foram assassinados pelas mesmas idêias...

Um beijo

Graciete Rietsch disse...

Ser revolucionário e coerente, nasce um pouco connosco e evolui com a nossa formação e visão do Mundo.
Isto penso eu.

Um beijo.