(...)
Agora o PCP. Do congresso
realizado em Almada sai um reforçado Jerónimo de Sousa,
cujo curto discurso final reafirma a vontade
de aprofundar aquelas que são as bases teóricas que suportam o trabalho político do PCP.
Um dos lugares comuns do jornalismo português é diminuir a importância
destes congressos com a alegação da ausência de novidades, como se o
que é novo fosse em si mesmo um valor absoluto. Recorro, por isso, à expressão
latina “Non nova, sed nove”, para sublinhar algo de muito
importante ocorrido durante o encontro dos comunistas que, não sendo uma
novidade absoluta, é novo pelo peso e pela acutilância com que as questões
foram colocadas: a renegociação da dívida e a presença no Euro.
Dois temas abordados em profundidade por Carlos Carvalhas,
anterior secretário-geral do PCP. Convém, como o faz a Helena Pereira,
recordar que o PCP anda há anos e anos a alertar para os riscos da
moeda única. Carvalhas foi muito claro: Portugal deve começar a preparar a saída do euro
como forma de recuperar a soberania. Até porque, sublinhou, nos últimos
anos pagou 82 mil milhões de euros de juros, o que dá 8 mil milhões
por ano. Só esta verba seria bastante, dizem os comunistas, para pagar
todo o Serviço Nacional de Saúde. Não se tenha a ilusão, afirmou
Carvalhas, “que a positiva política de combate às medidas de austeridade e uma
política expansionista só por si resolve os problemas, se não se
encarar de frente a questão da dívida e os desequilíbrios colocados pelo Euro.
As ilusões pagam-se caras
e não será grande consolo virem depois dizer que o PCP tinha razão”. São
palavras com destinatário inequívoco: o PS, que continua a
manifestar-se indisponível para travar esta batalha na Europa.
Porque é que tudo isto, sem ser novo, é
particularmente importante neste momento? É preciso recuar uns dias até a
entrevista de Jerónimo de Sousa ao Público quando, ao falar do
entendimento com o PS, porque era fundamental afastar PSD e CDS do poder,
afirma: “(...) com tanta vida desgraçada, as pessoas perderam o emprego,
perderam a sua própria casa, perderam tudo – isso é força de combate.
O desespero, a falta de visão de saída da situação das suas vidas e da
situação do país não levavam á mobilização, levavam à desmobilização”.
E agora, de novo um salto para o Congresso, quando João Oliveira, líder da
bancada parlamentar, afirma que o PCP não está comprometido com o Governo, nem
está condicionado por qualquer acordo de incidência parlamentar, nem é força de
suporte ao Governo. Ou seja, pode ter havido uma pausa necessária na
luta, mas o combate é o de sempre, como seguramente se verá na
discussão do Orçamento para 2018, durante a qual todas estas diferenças e
contradições se avolumarão. Será uma preocupação para o Governo do PS? Veremos,
até porque tudo dependerá da correlação de forças então
existente. Já agora, e mesmo depois do Congresso, continua a valer a pena dar
uma olhada ao 2:59 apresentado por
Marim Silva, com Guião da Rosa Pedroso Lima. Começa com uma constatação: “ao
longo dos anos as notícias sobre a morte dos comunistas têm-se revelado
manifestamente exageradas”. Perceba porquê.
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Expresso-curto
Valdemar Cruz
E la nave va (?)
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