Escrevia, ontem, que hoje escreveria tratando do outro texto, no contexto dos horários de trabalho, do tempo de férias e de um novo feriado (o da 3ª feira de carnaval). Eram essas as palavras e frases de se servia João Vieira Pereira para se "inspirar" nd apresentação do seu Expresso curto na manhã daquele dia.
E, como ontem dizia, vinha eu comentar numa postura crítica diferente da relativamente ao texto de António Guerreiro. Por serem diferentes (claro...), por o texto de AG me fazer sentir um desejo de debater, de discutir seriamente, enquanto que o de JVP me fazia nascer a vontade de bater (salvo seja...) pelo facto de me irritar o tom com que aborda questões muito sérias, à maneira irónica e superior que caracteriza quem (com honrosas excepções) está de serviço aos expressos, curtos, abatanados ou de chávena cheia.
Que é isso de interrogar acintosamente o leitorzinho se em 2017 vamos trabalhar menos se não a insinuada e jocosa (mas bem clara) forma de começar logo por afirmar que já trabalhamos de menos (e mal) pois, a não ser assim, não teríamos a produtividade baixa que temos? Mas... nós?, quem? Obviamente, os trabalhadores!
Com evidente oportunismo mediático, esse curto expresso veio cavar na (ou tentar escavacar a) seara de quem, nesse mesmo dia, procurava que melhor se regulamentasse a utilização da força de trabalho e se definissem horários de trabalho, períodos de férias e se recuperasse um feriado tradicional. Em benefício dos trabalhadores... que, segundo implícito em JVP, tão privilegiados têm sido e tão mal agradecidos parecem pela benesse de terem quem lhes dê emprego.
Ora há aqui uma diferença de perspectiva essencial (além do estilo e sobranceria).
Poderia alongar-me por veredas teóricas mas, para aqui, na falta de fotografia ou de traço de ilustração, procuro a imagem dos exemplos práticos:
- se, há décadas, um produto se produzia, e distribuía, com a utilização do tempo de uso de força de trabalho (individual e colectiva) de 48 horas semanais
- e se, hoje, esse mesmo produto (ou equivalente) se poderá produzir, e distribuir, com utilização do tempo de uso de força de trabalho (individual e colectiva) vivo de 35 horas semanais, beneficiando de invenções e aplicações dos que vão trabalhando na investigação e aplicações
- que fazer com as libertas 13 horas semanais, de não-uso de força de trabalho como mercadoria (isto sem entrar em contas com mudanças nos tempos de deslocação para e de local de seu emprego)?
- Quantas serão as horas de tempo de vida livres a aproveitar pelos trabalhadores (para as quais o prolongamento da esperança de vida teria vindo contribuir)?
O facto é que a questão nunca se põe assim, ou seja, dada a correlação de forças sociais coloca-se em pino: quanto aumentou o número de desempregados e de subsidiados por coisas como o TSU, magnanimamente financiadas pelos empregadores?
Mas, no fundo, a questão é esta: o progresso, só possível pelo trabalho, dá aos humanos tempo livre ou fabrica desempregados e mais sujeitos à dependência de alguns escassos que desse progresso se apropriam?
Será que em 2017 teremos de trabalhar o mesmo tempo para ganhar um pouquinho mais, enquanto cresce o número de milionários à custa dos trabalho de todos?
1 comentário:
Ora, nem mais!Só não percebe,quem não quer.Bjo
Enviar um comentário