Na 4ª feira, no expresso rodoviário das 20.30 para Viseu, a
minha vizinha do assento 3, reconhecendo-me como"um político" (como viria a dizer-me mais adiante e que, aliás, não
serei mais do que ela ou outrem…) interpelou-me sem apresentações nem
preâmbulos:
- … o que me diz da Síria?
Respondi-lhe, surpreso pela insólita abordagem:
- … sobre o quê da Síria, minha senhora?
- Sobre aquele crime horrendo das armas químicas. Aquele
homem tem que ser tirado dali!
- Mas... qual crime?, qual
homem?
- Aquela criança na televisão, assassinada pelas armas
químicas do Assad, ou lá como se chama o homem. Horrível! Têm de o tirar de lá, já matou
milhões de pessoas, toda a gente foge de lá… Estou indignada!
- Oh minha senhora…, não vi a televisão e, se tivesse visto e
ouvido, não reagiria como a senhora, teria sérias dúvidas sobre a veracidade e
as intenções daquilo que ouviu e não o interpretaria como o fez, a partir de anteriores “informações” que lhe têm sido oferecidas. Do
que não tenho dúvidas é que a sua indignação era o objectivo do que lhe foi
mostrado, e que vai servir para justificar acções criminosas e muito perigosas para
a Paz…
…
E assim continuou uma conversa de quase 100 quilómetros e de
quase uma hora – nem sempre muito “pacífica”… –, até sermos depositar em Fátima,
lugar de residência da senhora e minha escala para chegar a casa, entre o
incomodado e o satisfeito por ter tentado cumprir um dever cívico.
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