Acompanho com o maior interesse - até por razões pessoais, de memória viva e amizades fraternas, familiares - as eleições em França. Tenho-me contido, neste registo de informações e informação, apesar do crescente interesse e consciência da sua importância. Hoje, ao ler a actualização matinal, não resisto, antes me senti estimulado a transcrever este excerto de Expresso curto, de Pedro Santos Guerreiro. Transcrição que acompanho com comentários a vermelho (pois de que outra cor poderiam ser?)
«Daqui
a semana e meia, há eleições em França. Mesmo sem se saber se
muda tudo, já tudo mudou. Mudou na esquerda francesa (importa reflectir sobre o que se considera esquerda, e recuso uma consensualidade imposta sem senso... de democraticidade e pluralismo) mesmo que a direita não
ganhe. Mas mudará toda a Europa se Marine Le Pen vencer. As sondagens dizem que
não, que pode até ganhar na primeira volta mas perde na segunda. Mas o que
acertam as sondagens?
“É inédito. Tudo pode acontecer", afirmou ontem o diretor
do Departamento de Estudos do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), citado pelo DN: quatro candidatos estão com
intenções de voto próximas dos 20%: Marine Le Pen já era uma
séria candidata, assim como Emmanuel Macron, mas Jean-Luc
Mélenchon desatou a subir nas últimas semanas (no que vejo, com pesar, sinais da ausència de um histórico e afirmativo PCF, e com a sempre renovada esperança da tomada de consciência de massas populares) e já ultrapassou François
Fillon. Ou seja, uma nacionalista de direita e um populista de
esquerda (outra consensualidade que se pretende impor e que recuso!) assomam, residindo s esperanças europeias (incluindo as de Angela
Merkel) em Macron (o que é isto de "esperanças europeias"?, pergunta um europeu por nascimento e convicção, que está contra essa coisa chamada União Europeia). E, como escreve o Ricardo Costa, de surpresa em
surpresa um facto emerge: “o PS francês está em vias de desaparecer”.
Estas são as eleições mais importantes do ano na Europa: uma eleição de Le Pen
será uma pedrada na União Europeia, que a ameaça muito mais do que o Brexit,
escrevia ontem, no Público, Teresa de Sousa (com quem estou - estranhamente... mas só nisto! - de acordo).
O crescimento de partidos anti-europeus (sejam eles nacionalistas, populistas
ou ambas as coisas) (valerá a pena repetir o desacordo quanto às etiquetas? vale sempre!) resulta do fracasso da UE em dar respostas aos problemas de
que ela passou a fazer parte (e contribui para agravar). Esses problemas não têm apenas a ver com falta de
liderança, com derivas ideológicas ou com paralisias institucionais (com opções de classe...). A esquerda (o que chamam esquerda!) deixou-se capturar pelo sistema financeiro, sendo incapaz de produzir um
discurso e uma política que reaja à condição de endividados. E a direita da
social-democracia (a "esquerda" que não é de esquerda!) resignou-se à condição de uma desigualdade crescente. Ainda
esta semana o FMI emitiu um relatório que confirma o agravamento do fosso
de distribuição da riqueza entre o capital e o trabalho, em desfavor
deste. Isto é, dos salários. Aceitar este efeito colateral (colateral?) do capitalismo
financeiro e globalizado como inevitável é muito mais do que não saber lidar
com resgates, é ignorar uma das principais razões pelas quais o eleitorado
europeu vota contra o projeto que lhe vem garantindo a paz (rejeito este pressuposto de que "o projecto garantiu a paz, porque é falso!).
Mas não a prosperidade.
Faltam 11 dias para as eleições francesas e nenhumas outras fora de Portugal
são este ano tão importantes para o que se passa – e passará - também connosco.»
1 comentário:
Uma provocação ...
Não deverão todos os que se opõem ao aprofundamento do sentido de Nação Europeia ie., ao federalismo ... reverem-se nas vantagens de uma vitória da Marine Le Pen?
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