Nesse tempo novo de que falas, gostava que as crianças lessem, de Soeiro Pereira Gomes, os Esteiros. De Jorge Amado, os Capitães da Areia. E porque não há crianças felizes sem avós com tempo e utopias, o "Somos todos netos de Abril".
Sou fotógrafo. Pelo menos faço por isso. A fotografia que mais me marcou até hoje é a de uma criança. Retrata uma menina que se arrasta para um campo de nutrição e em segundo plano vemos um abute no chão que aguarda pelo inevitável. Kevin Carter é o nome do fotógrafo. Sul Africano. Fotojornalista habituado a cenários de guerra e a cenas de horror. No entanto esta fotografia toca-me de uma maneira muito especial. Não a consigo (nem quero) esquecer. Apetece-me dizer muita coisa mas fico por aqui.
Depois de passar aqui pelo blog anónimo séc.xxi dei uma espreitadela no meu mail e aproveito para transcrever uma mensagem que acabei de receber:
Assunto: MUITO URGENTE
A Constança Castelo Branco Mota da Silva Marques, de 7 anos, é neta de uns amigos da minha família, tem uma doença do foro oncológico e está em estado muito grave. Está internada no IPO, precisando de fazer um transplante de medula.
Como não se tem encontrado, até agora, medula compatível (não existe também nos bancos de medula nacionais nem estrangeiros), venho por este meio pedir que:
Quem tiver idade entre os 18 - 45 anos; Mais de 50 Kg; Não tiver recebido nenhuma transfusão de sangue;
Faça o teste de compatibilidade, de 2.ª a 6.ª feira, das 8h - 16h, no:
Centro de Histocompatibilidade do Sul
Hospital Pulido Valente Alameda das Linhas de Torres
Telefone: 217 504 100
Obrigada
Luísa Biscaya
POR FAVOR NÃO APAGUEM ESTE PEDIDO E ENVIEM-NO A OUTRAS PESSOAS PARA QUE SE SALVE ESTA CRIANÇA.
A fotografia é de uma menina sudanesa, que estava se arrastando em direção a um posto de alimentação. Foi registrada pelo fotógrafo sul-africano Kevin Carter, em 1993.
A guerra no Sudão
O Sudão (antiga Núbia), em 1820 tornou-se colônia britânica e em 1899 foi submetido ao domínio egípcio-britânico. Em 1956 obteve a independência. Começou, no sul, a guerrilha do Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA). Depois de vários golpes, em 1989 tomou o poder o general Omar al-Bashir, que instalou uma ditadura militar. Seu regime foi marcado pela intensificação dos combates e, em 1991, adotou um Código Penal baseado na lei islâmica. Os combates entre a guerrilha do SPLA e o governo islâmico provocaram o êxodo de milhares de pessoas. Cerca de 600 mil refugiados morreram de fome no sul, a 800 km de Cartum, a capital, em 1993[2].
Do fotógrafo
Kevin Carter (1961-1994) fazia parte de um grupo de quatro fotógrafos, jovens, de classe média. Os outros três eram: Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e João Silva, um moçambicano educado em Portugal. Tinham o apelido de The Bang Bang Club, dado pela imprensa internacional da África do Sul, pois eram destemidos e às vezes extremamente descuidados para conseguir imagens violentas da guerra[3].
A história dos quatro fotojornalistas sul-africanos foi contada no livro The Bang Bang Club[4], por Greg Marinovich, co-assinado por João Silva. Conta a saga do grupo que, diariamente, se dirigia às cidades próximas a Johanesburgo para fotografar a fase mais violenta da luta entre os partidários do ANC (African National Congress) de Nelson Mandela e os do líder zulu Buthelezi, no final do apartheid.
As imagens renderam prêmios internacionais e fama aos quatro fotógrafos, porém, com custos emocionais aos dois sobreviventes do grupo, além da morte de Ken Oosterbroek, primeiro sul-africano a ganhar um Pulitzer, ocorrida durante um dos tiroteios, à vista de seus companheiros. Ken faleceu em abril de 1994 e Kevin Carter suicidou-se aos 33 anos, em julho do mesmo ano, asfixiado com os gases do escapamento do carro.
Os longos períodos passados em situações extremas e de conflitos dificultaram o convívio social no dia-a-dia. Como conta Greg no livro: "Quando se tenta recebe-se um olhar de incompreensão ou asco. Só conseguimos falar dessas coisas entre nós". Kevin dizia que sofria de depressão e pesadelos.
Em 1993, João e Kevin foram ao Sudão cobrir o genocídio de tribos cristãs pelo governo sudanês. João já tinha percorrido a aldeia de Ayud tirando algumas fotos. Kevin percorreu a mesma aldeia e tirou a foto da menina. Disse que estava fotografando uma criança, mudou de ângulo e, de repente, viu o urubu atrás dela. Disse que tinha enxotado o abutre. João já tinha fotografado a mesma menina, mas sem a ave.
A fotografia, que foi adquirida pelo New York Times, ganhou o prêmio Pulitzer de 1994, e deu mais resultado do que qualquer outra reportagem para chamar a atenção sobre a fome no continente africano. Porém, levantou a questão que acompanhou o fotógrafo até sua morte. O que ele tinha feito para salvar a criança? Todos queriam saber, e Carter dava diferentes versões. Chegou a declarar, em uma das suas últimas entrevistas, que odiava a foto.
A respeito do tipo de trabalho que faziam em campo, Greg, no livro, faz uma reflexão sobre o assunto: "João e eu também vimos muitas crianças morrer à nossa frente, na Somália, e só fotografávamos. Tragédia e violência produzem imagens fortes. Somos pagos para isso. Mas há um preço embutido em cada imagem dessas: um pedaço da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde a cada vez que acionamos o botão da câmera."
Com esta impressionante fotografia, Kevin Carter, fotógrafo Sul-Africano, ganhou o prestigiado e almejado prémio Pulitzer em 1994. Passados alguns meses Carter suicidou-se! Será sempre abusivo especular acerca das razões que levaram Kevin Carter ao suicídio, mas na opinião do seu pai, o fotografo, na sua essência um esteta e um artista, teria tido a maior dificuldade em conviver com o facto de o seu sucesso e honrarias terem como base uma tragédia de tal dimensão e crueldade, o que provavelmente lhe terá atormentado os sonhos até ao desepero final. Não terá sido certamente no momento em que disparou a sua máquina fotográfica que ele terá interiorizado a dimensão do drama. Profissional competente, o dedo não lhe tremeu ao premir o disparador que fixaria indelevelmente na película uma das mais tristes memórias do mundo contemporâneo. Durante o processo de revelação, na solidão da câmara escura apenas iluminada por uma luz irreal, no papel fotográfico começou a desenhar-se a cena: Primeiro apenas umas sombras, depois uns contornos e finalmente todo o processo de nitidificação da imagem tornou a cena, inicialmente difusa, na verdadeira anatomia do horrível espectro da fome, em que a única comida que está à vista é a comida do abutre que espera com a sua proverbial paciência a hora de iniciar o festim. Toda esta previsível sequência não deixa de ser uma hipérbole evocativa de que a cena que foi fotografada não era uma situação inevitável, não era um Acto de Deus, mas tão só o finalizar de um processo lento, continuado e cruel, com origem e sequência na maldade intrínseca da natureza humana. Nestes últimos dias, no seguimento das minhas considerações acerca do “Live 8”, para além do que tenho lido dentro e fora do âmbito da blogosfera, tenho discutido com várias pessoas, normalmente à mesa de relativamente lautas refeições, o problema da miséria em África e das hipotéticas formas de a poder minimizar e combater. Infelizmente, de um modo geral as opiniões e conversas terminam tipicamente em dois tipos de beco sem saída: Ou a questão é politizada e imediatamente atacada como sendo uma preocupação sectária da esquerda, portanto não passível de ser discutida sériamente, ou a constatação da corrupção generalizada em África e a existência de regimes execráveis como os de Mugabe ou Eduardo dos Santos, define imediatamente a impossibilidade de atacar o problema, dado que nestas circunstancias os oligarcas seriam sempre os principais beneficiários de qualquer acção de índole humanitária. Não deixam de ter alguma razão, mas a simples desistência com base nestes pressupostos é condenar ao sofrimento e à morte muitas crianças que nenhuma culpa têm da estrutura das paixões ideológicas do Ocidente ou dos Governantes sobre cuja égide nasceram. Havendo vontade política, e essa só existirá sob forte pressão da sociedade civil, será sempre possível forçar a criação de mecanismos de intervenção supra-governamentais que façam chegar a ajuda a quem precisa. Programas de formação de quadros locais para implementar esses mecanismos poderiam criar as fundações para uma África mais justa e mais democrática. Não querendo ser tão ambicioso, bastaria dotar de apoios oficiais, substanciais e concretos, as várias organizações missionárias que há tantos anos militam no terreno com as maiores dificuldades, pondo de parte os habituais pruridos sobre a laicidade do estado. Caramba, trata-se de salvar vidas! Há uns anos atrás, durante a guerra civil Libanesa, a Madre Teresa de Calcutá fez uma visita a Beirute e chocada com o que viu, afirmou ser necessário entrar na zona muçulmana do conflito para evacuar feridos e refugiados. Numa atitude típica, muito igual à que nós adoptamos em relação ao problema Africano, o “establishment” da Cruz Vermelha opôs-se, com o argumento de era impossível evacuar toda a gente. Com aquele ar irreverente e desafiador que se lhe conhecia, Madre Teresa retorquiu: “Mas qual é problema? Basta trazer um de cada vez”. Realmente é de atitudes destas que necessitamos, atitudes práticas e positivas, atitudes que salvem vidas, nem que seja só uma de cada vez. Enquanto alguém conseguir olhar para esta dramática e trágica fotografia sem se emocionar, sem pensar que poderia ser um filho seu, sem cogitar sequer se de alguma forma aquela vida poderia ter sido salva, então eu considero que a raça humana não merece continuar a existir e apenas lhe restará aguardar pelo apocalipse que ela própria se encarregará de levar a efeito.
Estes comentários do Pedro Gonçalves são de um homem sensível, que olha para os outros (nem que seja através da objectiva) como seus iguais, de um homem que não se conforma com a humanidade tal qual está. Há que mudar! Mas há que ir ao fundo, às causas. Salvar a menina sudanesa era possível, era exigível... mas quantos meninos e meninas, sudanesas ou não, que não foram "descobertas" pela máquina fotográfica sofrem o mesmo destino pelas mesmas causas que se ignoram ou que não se procura conhecer? Que a foto da menina sudanesa nos sobressalte... é a sua missão. E que nos leve a lutar pela utopia, pela utopia de que não seja possível voltar a tirar fotografias como essa que tanto impressionou o Pedro.
Obrigado Pedro Gonçalves. Não me consigo libertar dessa imagem... e comover-me profundamente.
Todos os "governantes" deviam tomar posse frente a essa imagem e substituirem o retrato dos respectivos presidentes por essa bela, medonha, terrível e emblemática fotografia que tão bem define o FMI, BM, OMC e outros grupos criminosos.
Na ONU e em todos os parlamentos nomeadamente no Parlamento Europeu uma foto gigante devia ser colocada no frontispício principal dessas organizações como símbolo da globalização.
Faço uma proposta: vamos enviar essa fotografia para todos os organismo nacionais e internacionais com uma frase que seria proposta e discutida e aprovada neste blog.
"Arrematada" a sugestão do Cid Simões. E obrigado por ela. Venham frases, que nós nos encarregaremos de as fazer chegar às intâncias inter e supranacionais.
3 mil crianças africanas morrem por dia de Malária, afirma a OMS
Segundo o último relatório em conjunto, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef (Fundo da ONU para as Crianças), divulgado nesta sexta-feira no Dia Mundial da Malária, mais de 3 mil crianças africanas morrem por dia em decorrência da doença. O estudo afirma que 90% das mortes são registradas na África subsaariana e que a maioria delas é de crianças com menos de cinco anos. A droga atualmente utilizada no combate à malária, a cloroquina, não é eficaz, mas é usada por ser a mais barata. O tratamento atual foi criticado pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que citaram o exemplo da Tanzânia, onde o número de mortalidade das crianças caiu em 20% quando elas passaram a dormir sob redes tratadas com inseticidas. As ações governamentais denotam claramente uma preocupação maior das autoridades com economia de recursos do que com o compromisso de salvar vidas. Quase 2 milhões de pessoas morrem em função da malária por ano no continente africano, gerando um prejuízo de US$ 12 bilhões. A melhor solução seria o tratamento à base de artesimina, recomendado pela OMS e muito mais potente e eficiente, ela é derivada da planta chinesa Artemisia annua e vem sendo usada contra a malária há mais de dez anos. A combinação da droga com a amodiaquina pode eliminar os sintomas da malária em três dias. Em KwaZulu Natal, na África do Sul, as mortes por malária em hospitais caíram 80% em função deste tratamento. No entanto, o tratamento à base de artesimina custa US$ 1,50 por dose, em comparação com os US$ 0,50 de custo da cloroquina. O custo da mudança em toda África, ainda assim, giraria em torno de US$ 100 a 200 milhões.
Texto: Cassiano Sampaio Fonte: Redação Saúde em Movimento Publicado em: 27/04/2003
Eu propunha que a frase não excedesse as cinco palavras para poder ser inserida na fotografia. Por exemplo: "O rosto da globalização", "Uma civilização de abutres", etc.etc..
Fui ver se encontrava a fotografia que não conhecia. Encontrei-a aqui em http://www.babaalem.com/babaalemgercek.htm Concordo com o Pedro Gonçalves na formulação da frase que sugere: Nos trinta segundos que usou para ler esta frase morreu pelo menos uma criança em África. O que é que vai fazer nos próximos trinta segundos?
16 comentários:
Nesse tempo novo de que falas, gostava que as crianças lessem, de Soeiro Pereira Gomes, os Esteiros. De Jorge Amado, os Capitães da Areia. E porque não há crianças felizes sem avós com tempo e utopias, o "Somos todos netos de Abril".
Como é que adivinhaste a próxima utopia do dia?
Um grande abraço
Revolta temos, mas a revolta pode não ser revolucionária...
Sou fotógrafo. Pelo menos faço por isso. A fotografia que mais me marcou até hoje é a de uma criança. Retrata uma menina que se arrasta para um campo de nutrição e em segundo plano vemos um abute no chão que aguarda pelo inevitável.
Kevin Carter é o nome do fotógrafo. Sul Africano.
Fotojornalista habituado a cenários de guerra e a cenas de horror. No entanto esta fotografia toca-me de uma maneira muito especial. Não a consigo (nem quero) esquecer. Apetece-me dizer muita coisa mas fico por aqui.
Fica a correção:
"abutre"
Depois de passar aqui pelo blog anónimo séc.xxi dei uma espreitadela no meu mail e aproveito para transcrever uma mensagem que acabei de receber:
Assunto: MUITO URGENTE
A Constança Castelo Branco Mota da Silva Marques, de 7 anos, é neta de uns amigos da minha família, tem uma doença do foro oncológico e está em estado muito grave. Está internada no IPO, precisando de fazer um transplante de medula.
Como não se tem encontrado, até agora, medula compatível (não existe também nos bancos de medula nacionais nem estrangeiros), venho por este meio pedir que:
Quem tiver idade entre os 18 - 45 anos;
Mais de 50 Kg;
Não tiver recebido nenhuma transfusão de sangue;
Faça o teste de compatibilidade, de 2.ª a 6.ª feira, das 8h - 16h, no:
Centro de Histocompatibilidade do Sul
Hospital Pulido Valente
Alameda das Linhas de Torres
Telefone: 217 504 100
Obrigada
Luísa Biscaya
POR FAVOR NÃO APAGUEM ESTE PEDIDO E ENVIEM-NO A OUTRAS PESSOAS PARA QUE SE SALVE ESTA CRIANÇA.
A fotografia é de uma menina sudanesa, que estava se arrastando em direção a um posto de alimentação. Foi registrada pelo fotógrafo sul-africano Kevin Carter, em 1993.
A guerra no Sudão
O Sudão (antiga Núbia), em 1820 tornou-se colônia britânica e em 1899 foi submetido ao domínio egípcio-britânico. Em 1956 obteve a independência. Começou, no sul, a guerrilha do Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA). Depois de vários golpes, em 1989 tomou o poder o general Omar al-Bashir, que instalou uma ditadura militar. Seu regime foi marcado pela intensificação dos combates e, em 1991, adotou um Código Penal baseado na lei islâmica. Os combates entre a guerrilha do SPLA e o governo islâmico provocaram o êxodo de milhares de pessoas. Cerca de 600 mil refugiados morreram de fome no sul, a 800 km de Cartum, a capital, em 1993[2].
Do fotógrafo
Kevin Carter (1961-1994) fazia parte de um grupo de quatro fotógrafos, jovens, de classe média. Os outros três eram: Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e João Silva, um moçambicano educado em Portugal. Tinham o apelido de The Bang Bang Club, dado pela imprensa internacional da África do Sul, pois eram destemidos e às vezes extremamente descuidados para conseguir imagens violentas da guerra[3].
A história dos quatro fotojornalistas sul-africanos foi contada no livro The Bang Bang Club[4], por Greg Marinovich, co-assinado por João Silva. Conta a saga do grupo que, diariamente, se dirigia às cidades próximas a Johanesburgo para fotografar a fase mais violenta da luta entre os partidários do ANC (African National Congress) de Nelson Mandela e os do líder zulu Buthelezi, no final do apartheid.
As imagens renderam prêmios internacionais e fama aos quatro fotógrafos, porém, com custos emocionais aos dois sobreviventes do grupo, além da morte de Ken Oosterbroek, primeiro sul-africano a ganhar um Pulitzer, ocorrida durante um dos tiroteios, à vista de seus companheiros. Ken faleceu em abril de 1994 e Kevin Carter suicidou-se aos 33 anos, em julho do mesmo ano, asfixiado com os gases do escapamento do carro.
Os longos períodos passados em situações extremas e de conflitos dificultaram o convívio social no dia-a-dia. Como conta Greg no livro: "Quando se tenta recebe-se um olhar de incompreensão ou asco. Só conseguimos falar dessas coisas entre nós". Kevin dizia que sofria de depressão e pesadelos.
Em 1993, João e Kevin foram ao Sudão cobrir o genocídio de tribos cristãs pelo governo sudanês. João já tinha percorrido a aldeia de Ayud tirando algumas fotos. Kevin percorreu a mesma aldeia e tirou a foto da menina. Disse que estava fotografando uma criança, mudou de ângulo e, de repente, viu o urubu atrás dela. Disse que tinha enxotado o abutre. João já tinha fotografado a mesma menina, mas sem a ave.
A fotografia, que foi adquirida pelo New York Times, ganhou o prêmio Pulitzer de 1994, e deu mais resultado do que qualquer outra reportagem para chamar a atenção sobre a fome no continente africano. Porém, levantou a questão que acompanhou o fotógrafo até sua morte. O que ele tinha feito para salvar a criança? Todos queriam saber, e Carter dava diferentes versões. Chegou a declarar, em uma das suas últimas entrevistas, que odiava a foto.
A respeito do tipo de trabalho que faziam em campo, Greg, no livro, faz uma reflexão sobre o assunto: "João e eu também vimos muitas crianças morrer à nossa frente, na Somália, e só fotografávamos. Tragédia e violência produzem imagens fortes. Somos pagos para isso. Mas há um preço embutido em cada imagem dessas: um pedaço da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde a cada vez que acionamos o botão da câmera."
Com esta impressionante fotografia, Kevin Carter, fotógrafo Sul-Africano, ganhou o prestigiado e almejado prémio Pulitzer em 1994.
Passados alguns meses Carter suicidou-se!
Será sempre abusivo especular acerca das razões que levaram Kevin Carter ao suicídio, mas na opinião do seu pai, o fotografo, na sua essência um esteta e um artista, teria tido a maior dificuldade em conviver com o facto de o seu sucesso e honrarias terem como base uma tragédia de tal dimensão e crueldade, o que provavelmente lhe terá atormentado os sonhos até ao desepero final.
Não terá sido certamente no momento em que disparou a sua máquina fotográfica que ele terá interiorizado a dimensão do drama. Profissional competente, o dedo não lhe tremeu ao premir o disparador que fixaria indelevelmente na película uma das mais tristes memórias do mundo contemporâneo.
Durante o processo de revelação, na solidão da câmara escura apenas iluminada por uma luz irreal, no papel fotográfico começou a desenhar-se a cena: Primeiro apenas umas sombras, depois uns contornos e finalmente todo o processo de nitidificação da imagem tornou a cena, inicialmente difusa, na verdadeira anatomia do horrível espectro da fome, em que a única comida que está à vista é a comida do abutre que espera com a sua proverbial paciência a hora de iniciar o festim.
Toda esta previsível sequência não deixa de ser uma hipérbole evocativa de que a cena que foi fotografada não era uma situação inevitável, não era um Acto de Deus, mas tão só o finalizar de um processo lento, continuado e cruel, com origem e sequência na maldade intrínseca da natureza humana.
Nestes últimos dias, no seguimento das minhas considerações acerca do “Live 8”, para além do que tenho lido dentro e fora do âmbito da blogosfera, tenho discutido com várias pessoas, normalmente à mesa de relativamente lautas refeições, o problema da miséria em África e das hipotéticas formas de a poder minimizar e combater.
Infelizmente, de um modo geral as opiniões e conversas terminam tipicamente em dois tipos de beco sem saída: Ou a questão é politizada e imediatamente atacada como sendo uma preocupação sectária da esquerda, portanto não passível de ser discutida sériamente, ou a constatação da corrupção generalizada em África e a existência de regimes execráveis como os de Mugabe ou Eduardo dos Santos, define imediatamente a impossibilidade de atacar o problema, dado que nestas circunstancias os oligarcas seriam sempre os principais beneficiários de qualquer acção de índole humanitária.
Não deixam de ter alguma razão, mas a simples desistência com base nestes pressupostos é condenar ao sofrimento e à morte muitas crianças que nenhuma culpa têm da estrutura das paixões ideológicas do Ocidente ou dos Governantes sobre cuja égide nasceram.
Havendo vontade política, e essa só existirá sob forte pressão da sociedade civil, será sempre possível forçar a criação de mecanismos de intervenção supra-governamentais que façam chegar a ajuda a quem precisa. Programas de formação de quadros locais para implementar esses mecanismos poderiam criar as fundações para uma África mais justa e mais democrática.
Não querendo ser tão ambicioso, bastaria dotar de apoios oficiais, substanciais e concretos, as várias organizações missionárias que há tantos anos militam no terreno com as maiores dificuldades, pondo de parte os habituais pruridos sobre a laicidade do estado.
Caramba, trata-se de salvar vidas!
Há uns anos atrás, durante a guerra civil Libanesa, a Madre Teresa de Calcutá fez uma visita a Beirute e chocada com o que viu, afirmou ser necessário entrar na zona muçulmana do conflito para evacuar feridos e refugiados. Numa atitude típica, muito igual à que nós adoptamos em relação ao problema Africano, o “establishment” da Cruz Vermelha opôs-se, com o argumento de era impossível evacuar toda a gente. Com aquele ar irreverente e desafiador que se lhe conhecia, Madre Teresa retorquiu: “Mas qual é problema? Basta trazer um de cada vez”.
Realmente é de atitudes destas que necessitamos, atitudes práticas e positivas, atitudes que salvem vidas, nem que seja só uma de cada vez.
Enquanto alguém conseguir olhar para esta dramática e trágica fotografia sem se emocionar, sem pensar que poderia ser um filho seu, sem cogitar sequer se de alguma forma aquela vida poderia ter sido salva, então eu considero que a raça humana não merece continuar a existir e apenas lhe restará aguardar pelo apocalipse que ela própria se encarregará de levar a efeito.
de "O Velho da Montanha"
Estes comentários do Pedro Gonçalves são de um homem sensível, que olha para os outros (nem que seja através da objectiva) como seus iguais, de um homem que não se conforma com a humanidade tal qual está.
Há que mudar! Mas há que ir ao fundo, às causas.
Salvar a menina sudanesa era possível, era exigível... mas quantos meninos e meninas, sudanesas ou não, que não foram "descobertas" pela máquina fotográfica sofrem o mesmo destino pelas mesmas causas que se ignoram ou que não se procura conhecer?
Que a foto da menina sudanesa nos sobressalte... é a sua missão. E que nos leve a lutar pela utopia, pela utopia de que não seja possível voltar a tirar fotografias como essa que tanto impressionou o Pedro.
Obrigado Pedro Gonçalves. Não me consigo libertar dessa imagem... e comover-me profundamente.
Todos os "governantes" deviam tomar posse frente a essa imagem e substituirem o retrato dos respectivos presidentes por essa bela, medonha, terrível e emblemática fotografia que tão bem define o FMI, BM, OMC e outros grupos criminosos.
Na ONU e em todos os parlamentos nomeadamente no Parlamento Europeu uma foto gigante devia ser colocada no frontispício principal dessas organizações como símbolo da globalização.
Faço uma proposta: vamos enviar essa fotografia para todos os organismo nacionais e internacionais com uma frase que seria proposta e discutida e aprovada neste blog.
Cid Simões
"Arrematada" a sugestão do Cid Simões. E obrigado por ela.
Venham frases, que nós nos encarregaremos de as fazer chegar às intâncias inter e supranacionais.
Frase para a fotografia:
Nos trinta segundos que usou para ler esta frase morreu pelo menos uma criança em África. O que é que vai fazer nos próximos trinta segundos?
3 mil crianças africanas morrem por dia de Malária, afirma a OMS
Segundo o último relatório em conjunto, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef (Fundo da ONU para as Crianças), divulgado nesta sexta-feira no Dia Mundial da Malária, mais de 3 mil crianças africanas morrem por dia em decorrência da doença.
O estudo afirma que 90% das mortes são registradas na África subsaariana e que a maioria delas é de crianças com menos de cinco anos. A droga atualmente utilizada no combate à malária, a cloroquina, não é eficaz, mas é usada por ser a mais barata.
O tratamento atual foi criticado pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que citaram o exemplo da Tanzânia, onde o número de mortalidade das crianças caiu em 20% quando elas passaram a dormir sob redes tratadas com inseticidas.
As ações governamentais denotam claramente uma preocupação maior das autoridades com economia de recursos do que com o compromisso de salvar vidas. Quase 2 milhões de pessoas morrem em função da malária por ano no continente africano, gerando um prejuízo de US$ 12 bilhões.
A melhor solução seria o tratamento à base de artesimina, recomendado pela OMS e muito mais potente e eficiente, ela é derivada da planta chinesa Artemisia annua e vem sendo usada contra a malária há mais de dez anos. A combinação da droga com a amodiaquina pode eliminar os sintomas da malária em três dias. Em KwaZulu Natal, na África do Sul, as mortes por malária em hospitais caíram 80% em função deste tratamento.
No entanto, o tratamento à base de artesimina custa US$ 1,50 por dose, em comparação com os US$ 0,50 de custo da cloroquina. O custo da mudança em toda África, ainda assim, giraria em torno de US$ 100 a 200 milhões.
Texto: Cassiano Sampaio
Fonte: Redação Saúde em Movimento
Publicado em: 27/04/2003
Eu propunha que a frase não excedesse as cinco palavras para poder ser inserida na fotografia. Por exemplo: "O rosto da globalização", "Uma civilização de abutres", etc.etc..
Cid Simões
Fui ver se encontrava a fotografia que não conhecia.
Encontrei-a aqui em http://www.babaalem.com/babaalemgercek.htm
Concordo com o Pedro Gonçalves na formulação da frase que sugere: Nos trinta segundos que usou para ler esta frase morreu pelo menos uma criança em África. O que é que vai fazer nos próximos trinta segundos?
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