sábado, outubro 22, 2005

Excertáveis e enxertáveis

(ou excertos de uma espécie de diário aqui enxertáveis)

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É inevitável, diria que é… recorrente.

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Nas conversas, nos posts, nos comentários, eles aí estão: os cães e os gatos.

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E eu contribuo.

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Mas ‘inda agora - no duche, claro...- saltou-me uma reflexão.

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Bem ensaboada, a reflexão foi-se entranhando e resistiu ao enxugar do corpo.

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Vamos lá a ver:

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Os animais, os nossos animais de estimação, são - ou estão a tornar-se - uma “pedra de toque” da nossa afectividade, dos nossos sentimentos, da nossa humanidade… ou da nossa humanização.

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Eu sei que nos meios em que me movo e vivo nenhuma dessas “conversas”, dessas mostras e trocas de fotografias, desses relatos de cenas e casos, tem a intenção de exibir o que quer que seja de tal humanização nossa… mas, de repente, vi-me a pedir(-me/nos) moderação… ou modera…cão, ou mais recato ou… mais re…gato.

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“Pedra de toque” são! Não merece discussão (ou discu…cão): não concebo um homem ou uma mulher bem formados, com tudo que define humana e social condição no sítio, a maltratar animais.

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Mas já conheço o inverso: sei de homens e de mulheres mal formados, ou seja, capazes das maiores patifarias “humanas” mas muito amigos, ternurentos para com os seus bichinhos de estimação.

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Aliás, como a idade já é muita, ainda “beneficiei” dos materiais da propaganda nazi em que os próceres do nazismo, como Hitler, Goebbels e outros carrascos, apareciam em fotos enternecedoras na companhia dos seus cães e gatos, em família alargada e exemplarmente ariana, enquanto ordenavam a dizimação de seres humanos.

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Cada vez gosto mais dos animais. Há uma empatia que se vai apurando, e sinto que, com a humanização, a sociabilização, cada vez mais deles gostamos, que melhor sentimos o imperativo (que raio de palavra kanteano/cavaquista!...) de conviver com a natureza, a começar pelos bichos… que também somos.

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E de afectos se trata.

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Mas… atenção!

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Cheira-me a hipocrisia a preocupação – e discussão de horas como aconteceu no Parlamento Europeu – sobre as condições de transporte e conforto do gado que vai para abate e se conhecia e fazia por esquecer que as vacas ficaram loucas por terem sido alimentadas a rações cujo único objectivo era o de aumentar produtividades ainda que fazendo as pobres loucas e a nós-humanos "ricos" de mais umas doenças para o catálogo.

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Tudo bem… este meu gato é amoroso e muitas satisfações afectivas me proporciona, tenho emocionada saudade das gatinhas que atropeladas foram. Tudo isto será uma “pedra de toque”, mas nunca poderá ser – o que sinto por ele e os seus companheiros de fortuna – a “pedra de toque”, minha ou de outros.

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Isto é só uma reflexão que não foi pelo esgoto do duche abaixo.

7 comentários:

Anónimo disse...

É uma reflexão que poderá ser bastante polémica!
Em que ficamos? As “pessoas” sem escrúpulos também gostam de animais, tendo como exemplo os nazis! Impossível!
Não posso estar de acordo!
Há uma diferença!Há muitas diferenças!
Também conheci e conheço, muitas pessoas sem escrúpulos que tem animais lindos e bem alimentados. Mas quando estão zangados, os animais é que são as vítimas! Alguns levam sovas de correias, ouvem berros estridentes, sem nunca saberem o porquê? O mesmo acontecendo (ainda hoje) com os filhos ainda crianças!Isto é real, já assisti!Esses mesmos donos que, tendo de ir para férias, abandonam o animal.Não conheço NINGUÈM, que goste muito de animais, com respeito, dedicação, trabalho (porque um animal dá trabalho), amizade diária, muitas vezes sacrifício, e não goste de pessoas! Impossível!
Concordo que cada vez mais, haja uma dedicação maior ao animal, porque algumas pessoas não a merecem! Cada vez é mais difícil comunicar! As pessoas estão a tornaram-se tão individualistas, traidoras dos seus valores morais, tão egoístas, que há necessidade de dar e receber afectividade, de seres leais, sinceros. Aí só mesmo um animal!
Gosto tanto de animais que não os consigo comer! Não condeno quem o faça!Em casa são todos “carnívoros”! Mas eu não consigo, quase desde criança! E gordura não me falta! Faço doação de sangue regularmente! O que demonstra que não faz falta nenhuma, a alimentação animal! Só mesmo quem tiver prazer!!!
Respeito as pessoas, crianças e os animais! Mas é lógico, não prescindo dos meus
Amigos "humanos", Fazem-me Falta!
Em Portugal, maltrata-se os animais! Pertenço a Associações de Animais, ninguém acredita como é possível, torturas! Autenticas barbáries, em cães e gatos! Os cidadãos fecham os olhos, a Lei portuguesa também! Até quando!
Quanto ao transporte de animais!!!
Ficará para outro dia!E as touradas!!! E...tantas coisas mais!
Não gosto de ver os animais com acessórios ridículos, incomoda e tiram-lhe a dignidade.
Desculpa ter-me alongado tanto! Mas tanto haveria ainda a dizer!
É um tema muito polémico!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

É polémico isto: sei de homens e de mulheres mal formados, ou seja, capazes das maiores patifarias “humanas” mas muito amigos, ternurentos para com os seus bichinhos de estimação? Acrescento: como o são para a sua familia, os seus filhos, a sua casinha, como o são para o que é SEU. ou como seu tomam.
Talvez... alguns deles e delas vítimas da ideologização do NOSSO até ao extremo do MEU, como critérios e medidas de afecto!
E o outro?!

Anónimo disse...

Sérgio,

Desculpa, mas lá vou eu mostrar a minha ignorância!
Penso que entendi, o teu comentário!!!Claro que entendi!
Mas, «E o outro?!»
Não, afinal não entendo «E o outro?!»????
É burrice minha! Desculpa! Mas quando não entendo, mesmo mostrando toda a minha ignorância, prefiro perguntar!
Porquê «E o outro?!»?
Referes-te " …alguns deles e delas…"«E os outros?!»" Se assim é, para mim só há «alguns», «os outros» insisto em dizer que não existem!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

GR, amiga e camarada
De nenhum modo se trata de burrice.
Foi a minha forma de terminar um pequeno texto em que sublinho a ideologização do "eu", do "meu", do "nosso", em que o resto não existe ou não tem direito a existir com os direitos que os "nossos", os "meus", "eu", temos (de herança ou origem divina...).
Por isso, de forma abrupta, termino perguntando pelos outros, por aqueles que não fazendo parte do é "eu", "meu", "nosso" e de quem tudo depende. E na nossa maneira de estar na vida e na sociedade, esses outros são iguais a nós, são também nós! O outro sou eu e eu sou o outro é o contrário da ideologia que o capitalismo impõe através dos seus poderosíssimos meios. É a base da solidariedade: con-vivermos eu e o outro-que-também-sou-eu.
A caridade é coisa bem diferente: é o que se pratica porque, sendo nós bonzinhos, ajudamos, à medida das nossas disposibilidades, e disposições, e estados de alma, o outro-não-eu.
Desculpa lá o relambório...

Unknown disse...

Adorei o teu post Sérgio, aliás, dizê-lo vai sendo quase um lugar-comum. Ao lê-lo recordei o livro do Álvaro, julgo que "A estrela de seis pontas", em que um criminoso tratava com desvelo um animal.
Há dias fui a uma iniciativa de adopção de animais abandonados e fui para Ourém - ao almoço da CDU - a pensar se faz sentido participar nestas acções. Concluí que sim. Por mais tratados que se escrevam sobre humanismo, nada dispensará os relatos que escreveste sobre o auxílio à pobre andorinha que caiu na piscina. Nem os que incidem sobre as aventuras do teu gato. Como se dizia num painel de azulejos que decorava o refeitório da Casa Pia : "Trata bem dos animais/dá-lhes carinho e comer/ Eles não são teus iguais/ Mas ajudam-te a viver.
Um grande abraço e já agora: os meus miúdos quiseram muito um gato. De forma que o "Nino" já faz parte do clâ. Um dia destes apresento-to. Um abração .

Sérgio Ribeiro disse...

Grande abraço, Pedro. Que tem de ir aumentando para lhe irem cabendo os nossos "ninos" todos.

Anónimo disse...

Sérgio Ribeiro,
não sei se consegui entender o seu comentário. Se o que quer dizer é que devemos universalizar ou globalizar o nosso sentido de justiça e, num determinado sentido, os nossos afectos, não os restringindo a um determinado núcleo, que é o nosso, concordo consigo. E sim, sem referir, como aqui foi feito, situações extremas, também constatei que há "pessoas" que se desfazem em ternura para com os "seus" (porque os consideram um seu prolongamento e, muitas vezes, isso até faz parte da excelente imagem que precisam ter de si próprias)e que, fora desse contexto, não passam de autênticos patifes.
Desde criança, angustia-me saber que há seres, humanos e outros, que vivem privados do essencial (afecto incluido), porque há toda uma estrutura (social e política) que os desrespeita e os remete a essa forma miserável de vida.
Parece-me que é preciso, então, actuar de formas diversas: por um lado, o empenho em abrir brechas (por minúsculas que sejam) nessa estrutura, por outro a contribuição individual (que nada tem a ver com caridade)para minorar o sofrimentos ou as carências dos outros, começando pelos mais próximos - fazer o que é possível, no imediato.
Posso eu ser feliz, com o que tenho, sabendo que, mesmo aqui ao lado, existe um ser que de tudo foi privado e eu nada faço por ele, para além de bradar que vive uma situação injusta?
Esta conversa levaria horas.
mg