domingo, setembro 12, 2010

Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 21 (Eugénio de Andrade)

Não há poeta que escreva sem palavras - a não ser alguns músicos… - e quase todos escreveram e escrevem sobre as palavras. O cuco-que-eu-sou de vez em quando tropeça nas palavras em poemas. A desafiá-lo para cucar. Tem hesitado.
Mas agora – agorinha mesmo – decidiu-se. Há um poeta que fez um poema sobre as palavras que é incucável. Porque é… perfeito!, e no que é perfeito não se toca, nem com uma palavra a mais, ou a menos, ou outra.
Ele, esse poema de Eugénio de Andrade, aí vai.

Eugénio de Andrade

AS PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Mas depois, e porque é incorrigível, o cuco-que-sou-eu resolveu também publicar uma coiseca que escreveu, numa hora em que lhe deu para isso, sobre as palavras. No entanto, não teve o atrevimento de colocar entre essas palavras que aí ficam. Talvez amanhã…

3 comentários:

samuel disse...

Venha pois a cuquice! Os euGénios têm sentido de humor...

Abraço.

Maria disse...

Amanhã já não as leio... só quando voltar :(

Graciete Rietsch disse...

Espero ansiosamente por elas.

Um beijo.