quinta-feira, fevereiro 10, 2011

A nova configuração do mapa e do sistema eleitorais - (em conversa de barbeiro)

Quando me encaminhava para o meu vizinho barbeiro, ia decidido: «Hoje, não vai haver "conversa"... não estou com vontade nenhum de discutir as presidenciais com o meu simpático cortador de cabelo e barba que, decerto, votou ou no Cavaco ("apesar de não me ser simpático, o homem, mas aqueles ataques que lhe fizeram... afinal o homem só fez o que todos nós..."), ou no Alegre ("... porque é preciso mudar, ele tem boas ideias e vocês os da esquerda...), ou no Nobre (porque isto dos partidos é do piorio, e o homem tem cá um passado..."), ou no Coelho ("o homem convenceu-me... tem mesmo graça, e disse umas boas..."), ou, o mais provável..., votou em branco ("porque isto não pode continuar assim, tenho de protestar, calcule que o banco...");
não, desta vez, não... estou um bocado cansado para ripostar, perguntando-lhe porque se "esqueceu" de um candidato ("ah!. pois... o vosso... olhe que o homem surpreendeu-me, chegou bem para eles, e tem mesmo a vossa marca, honesto, a dizer as coisas certas... mas... sabe?... não tinha hipóteses... vocês..".);
não!, desta vez vou fugir à conversa política lá porque sou eu o cliente nas mãos dele...»
Assim determinado entrei na loja de duas cadeiras e um profissional, saudámo-nos afectuosamente, como bons vizinhos e algumas actividades (teatrais) em que colaborámos com simpatia mútua, soubemos das respectivas famílias, olhei-me no espelho sem óculos, despedi-me da barba e do cabelo a pedirem tesoura, e sentei-me na almofadada cadeira...
e não é que, logo ao primeiro assalto, ainda sem estar armado da sua ferramenta e quando só me colocava a espécie de babete, ele me atira. «... então e aquela proposta de redução do número de deputados... cá por mim 180 ainda são demais... para o que eles trabalham e para o que nos custam... nem sei se seriam preciso alguns... que é que acha?»
Lá fui dizendo o que achava, primeiro. a ver se escapava, depois ganhando calor e até irritada agressividade... apesar da ameaçadora tesoura andar por ali à roda da minha cara, nariz, orelhas, lábios.
Olhem... foi mais ums três quartos de hora iguais aos que se repetem de mês e meio em mês e meio"
Quando voltei para o carro, mais leve e com a frialdade da manhã a aproveitar as abertas nas minhas defesas mais expostas ao vento e aragens, vinha a resmungar: «... mas para quê?... porque é que me entrego todo a estas discussões?... o que poderia ter convencido (ensinado!, pois... que o que ali mais há é desconhecimento, desinformação) vai sofrer uma barrela total no próximo noticiário e até ao próximo encontro... nem que viesse cortar o cabelo todos os dias!...».
O facto, e facto foi, é que ainda estive quase a voltar atrás para juntar mais um dado e um argumento. Dos definitivos. Como todos...
Fica para o próximo encontro.
segue

6 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Quantas vezes já tentei esclarecer Esse facto!!!!
Será que valeu a pena?

Um beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

Vale sempre a pena, embora no momento e nos momentos seguintes pareça que estamos a perder tempo.

Beijo

Ana Martins disse...

Quando o problema é ignorância e as perguntas são genuínas vale a pena, mesmo que o efeito seja muito reduzido. Mas quando a inteligência e o esclarecimento não faltam, muito menos a má intenção; aí do que sinto grande falta é de paciência!

...... disse...

Não acredito que possa haver um dia em que não se dê "todo" a qualquer conversa, e ainda bem! É isso que o faz ser quem é, e essa será com certeza uma (das muitas) razões que faz as pessoas gostarem de si... eu cá não me consigo lembrar de uma única vez que tenha estado consigo e que não tivesse sentido que aprendi algo (muito até)... Possivelmente as pessoas fazem mesmo essas questões, na expectativa de aprenderem mais qualquer coisa... é que não há assim tantas pessoas com uma capacidade inata de ensinar (corrijo...) educar.
Abraço

samuel disse...

Temos então conversas para muitos anos... felizmente! :-)))

Abraço.

Anónimo disse...

Sérgio, essa ideia de ires cortar o cabelo todos os dias fez-me dar uma boa gargalhada. Tu até te podes dar a esse luxo, no fim duma campanha eleitoral o mais que te poderia acontecer era ficares com um corte à "escovinha".
O pior era para os camaradas que são carecas...

Campaniça