segunda-feira, maio 23, 2011

Poemas cucos (ou nem tanto)

Começou por ser, nos idos anos 2008, uma brincadeira com um poema de Brecht.
Saltou-me, agora, aos olhos, numa curva do microsoftword. Não resisti... e dei-lhe mais umas voltas.


Dizem terem-nos dado o direito de votar.
E, em troca, entregámos as nossas armas
(tudo!, até o que armas não era).
Eles fizeram-nos promessas,
e nós demos-lhe as nossas espingardas,
e a nossa confiança,
e as nossas poupanças em impostos tornadas… sem retorno.
(... e ainda lhes demos os votos que eles dizem ter-nos dado!)
E disseram-nos, solenes:
“os que quiserem poderão ajudar-nos,
a partir de hoje, nós teremos a dura tarefa de tomar as decisões,
e vocês farão tudo o resto… para nós”.

Então,
assim nos deixámos enganar,
como tantas vezes na História…
e comportamo-nos como nos foi dito,
sossegados,
respeitadores,
veneradores e obrigados:
está tudo certo!

(até a chuva subir…
se for para cima que ela quiser cair...)

E sempre, e em todos os lugares,
ouvimos dizer
que tudo está nos lugares devidos,
com as devidas dívidas e nada de indevidas dúvidas.
(Pensamento único dá muito jeito!)
Se um mal menor nós aguentamos até dele nos cansarmos,
logo nos será oferecida a prenda de um outro mal igual
ou de um outro mal tal-e-qual,
quando não de um outro mal maior
... ou menor, ou nem por isso.
Tanto faz como fez!

Só neste milénio terceiro da cristã era,
por aqui já convivemos uns mesitos com o beato Guterres,
que veio para não continuarmos a engolir o sapo Cavaco,
apanhámos, a seguir, com um durão Barroso,
para não ter de suportar um ferro Rodrigues.
Mais perto, depois de termos aguentado um santana Lopes,
no lugar que sampaiamente lhe foi concedido e depois retirado,
entregámo-nos a um pragmatófilo e engenheirófobo Sócrates,
e aí tem andado ele,
de parceria com o mesmo Cavaco
de esquecida e má memória,
saltitando os dois
de cooperação estratégica em estratégica descooperação,
cá regressando, recuperados.
à custa de alegres Soares e de sisudos Louçã(s),
e até dançando tangos com passos de Coelho.
Mas eis que a crise se instalou,
como foi previsto e prevenido foi,
e, depois de negada cá por casa,
logo a seguir passou a ter a culpa de tudo e mais alguma coisa.
Lépida e laparamente veio a alternância,
a alternância necessária para que nada se altere;
pela arreata dos banqueiros invadiu-nos, galopando, uma troika,
FMI-CEE-BCE (ió-ié), verdadeiros “reis magos” fora de prazo
para o beija-mão e o braço dado com a troika de cá,
os lusitanos 3 Mosqueteiros e o seu D’Artagnan de Boliqueime
Tudo em troikas e baldroikas
como se não houvesse senões de alternativas … nem eleições!

E aí estamos nós,
desarmados…
mas com as armas nossas que temos nas nossas mãos.

(… e, pasme-se, no entretanto a chuva nunca deixou de cair,
para baixo e não para cima, 
sempre a (es)correr no sentido de sempre,
mais e mais a tombar lá do alto,
às vezes a cântaros, em doses colossais.)

6 comentários:

Justine disse...

Muito bem cucado/observado:)))

Graciete Rietsch disse...

Como tu muito bem dizes "cá estamos nós ,apesar das tróikas e baldróikas, com as nossas armas que são "a força da nossa razão".

Um beijo.

Antuã disse...

Umdia a razão vencerá.

cristal disse...

Se me autorizares, levo-o para o Facebook. Acho que deve ser lido (ainda) por muito mais gente.

GR disse...

Gostei de ler esta analise política em verso, elucidativa dos negros dias porque estamos a passar, mas nunca perdendo a confiança na luta.
Sim tem de ser lido por muitos mais!

BJS,

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Justine - »:-))

Graciete - e se temos força... o problema é não sabermos.

Antuã - Um dia! Dia-a-dia!

Cristal - Mas que pergunta! Fico todo "sastefêto" e não levo direitos de autor.

GR - Se ajudar a abrir uns olhitos que andam mesmo ramelosos, fico todo contente1

Beijos e abraço