quarta-feira, setembro 07, 2011

A crise actual do capitalismo - o debate em São Paulo









Não estive no debate! Mas recebi um relato muito interessante (amigo e útil), de que aproveito uns trechos:


(...)
Com a finalidade de avançar na compreensão da crise do capitalismo, a Fundação Maurício Grabois promoveu na quinta-feira, 1 de Setembro, um debate com a participação do professor Luiz Gonzaga Belluzzo. Participaram também o presidente nacional do PCdoB, Renado Rabelo, o director de estudos e pesquisa da Fundação Maurício Grabois, Sérgio Barroso, o jornalista e membro do Comitê Central do PCdoB Dilermando Toni. O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, foi o moderador.
O debate realizou-se no auditório da sede nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na cidade de São Paulo e, no início de sua intervenção. Belluzo sublinhou. “É impossível compreender como o capitalismo se transforma e como ocorrem as crises sem a perspectiva da luta de classes”. Em resumo, a sua tese é a de que o fim do "arranjo" político, económico e social do pós-Segunda Guerra Mundial, que propiciou os chamados “trintas anos gloriosos”, é a raiz da crise actual.
Segundo ele, esse "arranjo" trouxe os trabalhadores para a cena política, o que foi fundamental para a construção da economia daquele período, garantindo conquistas sociais que jamais se tinham obtido. Com o neoliberalismo, na viragem dos anos 1970 para os 1980, as conquistas organizativas dos trabalhadores começaram a ser atacadas.
A incompatibilidade da liberdade de organização com o projecto neoliberal começou a ser demonstrada quando a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher enfrentou com "mão de ferro" as greves do mineiros entre 1982 e 1985. De 1979 a 1985, mais de 220 mil postos de trabalho nas minas foram eliminados pela política neoliberal, resultando na quase extinção de uma das mais importantes organizações do movimento operário inglês — responsável pela histórica tradição de luta e resistência dos trabalhadores daquele país.
Na mesma época, o governo do presidente Ronald Reagan, nos Estados Unidos, reagiu imediatamente à paralisação dos controladores de vôo, declarando a greve ilegal. Reagan deu um ultimato e estabeleceu um prazo de 48 horas para que os trabalhadores retornassem ao trabalho. Vencido o prazo e sem acordo, o presidente demitiu 11.359 trabalhadores e proibiu que qualquer um fosse readmitido no serviço público.
Segundo Belluzzo, esses dois episódios foram simbólicos. Para o regime neoliberal, era preciso debilitar a força acumulada pelos trabalhadores, sobretudo nos anos 1950 e 1960 durante a que foi chamada “era keynesiana”, ou “era social-democrata”. Para ele, ambas as definições não são rigorosas pois considerou decisiva a forte presença dos partidos comunistas no arranjo pós-Segunda Guerra Mundial, com destaque para a França e a Itália.
Beluzzo explicou, ainda, que havia uma conexão clara entre a subida da carga tributária para as camadas mais ricas e o reforço dos serviços públicos. Thatcher e Reagan iniciaram o processo político de retirada das organizações dos trabalhadores do interior do Estado para que o capitalismo se pudesse desenvolver sem entraves. Belluzzo explicou que assim surgiu o supply side económico (economia do lado da oferta). Os defensores desse conceito diziam que o Estado estava muito pesado, que os impostos aos mais ricos inibiam a poupança e, portanto, a capacidade de investimento, causando danos aos trabalhadores, afetados pela falta emprego decorrente da economia estar estagnada. A ordem era libertar as forças naturais do capitalismo para que passassem a poder operar novamente. E, depois, beneficiar os de baixo “gota-a-gota”.
Nessa marcha acelerada, surgiu a desregulamentação financeira, que deu livre curso aos fluxos de capitais. O Estado foi posto de lado e a teoria da “repressão financeira” — que incluía a separação entre os bancos comerciais e os demais intermediários financeiros, controles quantitativos do crédito, tectos para as taxas de juros e restrições ao livre movimento de capitais — foi abolida. Como conseqüência, ocorreu a erosão dos esforços na busca da igualdade, que se manifestou em primeiro lugar pela brutal taxa de desemprego. Belluzzo concluiu sua explanação inicial dizendo que o aumento significativo da desigualdade, a desregulamentação financeira formam as raízes da crise atual.
Seguiram-se intervenções dos outros membros da mesa e debate com os presentes.
---------------------
Interessante intervenção, com a grande virtude do poder de síntese.
Para ser reflectida.

3 comentários:

Justine disse...

Ora aqui está um resumo claro e compreensível das causas da "crise" - parecido com o modo como tu costumas explicar a situação actual. Pena não teres(termos?) ido a São Paulo...:))))

Fernando Samuel disse...

Excelente!

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

Deve ter sido, de facto um óptimo debate, que exige reflexão.
Quando se começará a pensar a sério nas causas desta terrível crise? E quando se tomará uma posição bem definida e firme?
O Povo tem mesmo que acordar!!!

Um beijo.