Quando, ontem, ao correr dos quilómetros ao volante, a
comunicação radiofónica me trouxe, naqueles noticiários que se sucedem hora a
hora, com resumos de meia em meia, a novidade do senhor ministro da educação ter
dito que os nossos sindicatos são soviéticos, no final de um qualquer almoço inter-pares
internacionais, a minha primeira reacção foi de surpresa (ainda me surpreendo…) mas logo pensei que o almoço fora bem regado e que fora deslize pós-prandial
justificando o adágio latim in vino veritas.
Mas não. Pelo menos, a voz que comprovava a notícia não
dava mostras de entaramelamento e o controlo ia ao ponto de atenuar o dislate
com um “quase” sumido e cauteloso.
Sem que eu o quisesse, ficou a circular dentro de mim a
notícia, aliás repetida. E para além da viagem.
Seria dislate?, seria cratinice?, seria este o arquivo
adequado para tal qualificação ministerial?
Esta manhã, antes de me lançar ao
trabalho, sinto necessidade de “arrumar a questão”.
O anátema em si mesmo
nem tem que se lhe diga, na sua etimologia (ou histologia), mas sim a intenção e o que revela. Aqueles que o poder
(financeiro, transnacional) encarrega da gestão da “coisa pública”, com ares de
democracia, coloca na administração dos "negócios do Estado" – na educação, na saúde, na
cultura, nas estatísticas a tornar conhecidas e como – são os serventuários da
classe. Atacando tudo o que defenda a outra classe e todos os trabalhadores. Por todos os lados segundo as circunstâncias. Pela
direita e pela esquerda.
Aliás, no caso de Crato o seu currículo assim o demonstra. Quando
foi tempo disso, foi esquerdista e acérrimo inimigo do reformismo não suficientemente revolucionário, agora, com a auréola de grande cabeça, chefia as hostes na
educação contra o sovietismo sindical. E, como está ligado às escolas, mostra
que não desaprendeu o que a velha escola fascista lhe ensinou:: quando, do outro
lado, há quem discorde e lute,com coerência e determinação, coloca-se-lhe a etiqueta (ou a estrela de cartão vermelho) de comunista, de bolchevique, de soviético, e fica tudo
explicado porque assim se identifica o mafarrico, o que há que esmagar. Porque é o espectro
que assusta, porque é o que as gentes têm de considerar como o Mal, porque é o que é
preciso combater para que o Bem (os bens apropriados!) esteja defendido.
3 comentários:
O Crato, assim como muitos outros, fez o percurso lógico do esquerdismo, tal como já tinha sido indicado por Lenine e Álvaro Cunhal.
Um beijo.
Os sindicatos não são soviéticos...o ministro é que é fascista!
Os ministros e seu chefe deixam-nos de boca aberta cada vez que falam. Acho que os portugueses estão todos em sossego porque ainda não conseguiram perceber o que lhes está a acontecer - sindicatos soviéticos, Mirós vendidos á socapa, Constituição «para o galheiro»...
Um destes dias fechamos a boca e vamos solucionar-nos
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