sexta-feira, agosto 07, 2015

"Café da manhã"

Começo a ficar "agarrado". Eu, que deixei o "cafézinho da manhã" há quase 40 anox (consequência da contra-revolução e a tensão a 18/24...), começo a não passar sem um "expresso curto" para iniciar o dia. Por inconsciente (?) justo reconhecimento a "convites" à leitura como a desta "oferta" do jornalista Valdemar Cruz, de que deixo duas "amostras" e a sugestão de leitura completa: 


Valdemar Cruz
Por Valdemar Cruz
Jornalista

7 de Agosto de 2015

O Homem Invísivel 
ou as sombras da Europa

São 6h47 minutos. Começo a tirar-lhe o Expresso Curto. A esta hora, algures no Mediterrâneo, nas fronteiras da Líbia, do Iraque, do Paquistão, há gente em fuga. Homens e mulheres desesperados. Fogem de uma não vida. Procuram uma vida. Recordemos uma canção. "Clandestino", de Manu Chao. Fala da vida deixada entre Ceuta e Gibraltar e de vidas proibidas. Talvez seja uma boa oportunidade de dar dimensão ética à condição humana. E perceber como, afinal, nenhum homem é clandestino. Nenhum homem é ilegal. Sobretudo quando esse homem representa a figura do outro. O outro sobre quem todas as violências são admissíveis. O outro para quem olhamos sem ver. O outro transformado em inexistência. O outro feito inimigo, apenas por ser outro.
(...)  
Às vezes os jornalistas não conseguem continuar a olhar para o lado. E voltam. E voltamos a ter notícias sobre os naufrágios no Mediterrâneo. Regressaram às primeiras páginas nos últimos dias. A esta hora, lá vão eles e elas em frágeis embarcações carregadas de refugiados. De alguns ouviremos falar. De outros nunca saberemos. Nem dos seus vivos. Nem dos seus mortos. Estamos perante uma das maiores crises de refugiados das últimas décadas. Falam-nos agora dos refugiados em Calais, das mortes no túnel da Mancha. E não sabemos nada da morte. E não sabemos nada dos desaparecidos em silêncio. Sem testemunhas. E não queremos saber porque vêm. São empurrados aos milhões pelos conflitos na Síria, no Iraque, na Ucrânia, no Afeganistão , onde a morte pode estar também nas infinitas minas pessoais.
(...)
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E é preciso, é urgente irmos mais longe. 
Não no espaço, não no tempo. 
Ou não só no tempo e não só no espaço. 
Ir mais longe. Dentro de nós. 
De nós que somos o outro.
À procura das causas. 
Esquecidas. Ou escondidas. 


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