Esta manhã, Luísa Meireles "oferece-nos", no expresso curto, umas informações e uns comentários que me desafiaram. Trouxe para a mesa, e bem servido..., o indispensável prato de emprego e desemprego:
"(o eleitor) até pode estar empregado,
mas numa daquelas qualidades que as estatísticas (de há longos anos!)
contabilizam como tal, para além de ter um emprego certo: ocupado num trabalho
que lhe ocupa uma hora por semana, a fazer uma formação que, no fim das contas,
não dá para nada, ou num estágio findo o qual vem para a rua. Desempregado só
mesmo quem não faz nada destas coisas e, ainda por cima, procura ativamente
emprego. Porque, se não procurar, já não é uma coisa nem outra, é simplesmente
inativo.
Confuso? Também eu. Mas tenho clara a ideia que a realidade - ou a perceção que
as pessoas têm dela - choca de frente com os números. Estes são o que são e,
hoje, que se espera mais um boletim do INE sobre o desemprego (segundo
trimestre) temos garantida a continuação da polémica (...) A verdade chã é que
Portugal tem hoje menos 26 mil desempregados do que no arranque da legislatura,
mas também tem menos 210 mil pessoas a trabalhar, num aparente paradoxo (...)".
Sendo esta "a verdade chã" - menos 26 mil desempregados contabilizados, menos 216 empregos estatísticos - de onde se parte para o boletim de INE do 2º trimestre -, há que lhe juntar a verdade não menos chã e de mais difícil contabilização e estatistificação dos inativos por desencorajamento e dos emigrantes. que aproximaria a realidade da sua representação demo gráfica. Para eleitor ver... e "políticos" (no sentido restrito e empobrecedor da democracia) se assanharem.
Lido com estes aparentes paradoxos - que só o são por se pretender que a representação manipulada substitua a realidade viva - há décadas, labuta que mais se acentuou quando, em Agosto de 1975, fui nomeado Director Geral do Emprego e daí arranquei para um percurso de vida de década e meia em que a prioridade (quase exclusiva) de trabalho e estudo foi a problemática específica dos "recursos humanos" - com um "despedimento político-partidário" no 1º Governo Constitucional (e ganho de recurso), missões da OIT em Guiné-Bissau, Cabo Verde e Moçambique, um doutoramento -, pelo que leio o que agora se debate como se fossem provocações que, abusivamente, tomo por pessoais. Pelo que reajo e me atrevo a contribuir, com frases que sintetizam o que exigiria "semestres" mas pretendem ir ao âmago das questões... em questão ou em que estamos:
- Deve entender-se o emprego como epifenómeno do trabalho, como sendo a aplicação da força de trabalho com a finalidade da produção e distribuição do produzido para a satisfação das necessidades humanas, produzindo-se o ser humano nessa actividade.
- Por isso, o desemprego (real) não é a doença, é um sintoma (e gravíssimo!) da doença da sociedade, e não se ataca a doença com estatísticas (aspirinas...) para diminuir os sintomas (as febres).
- Assim se iludem os pacientes (em toda a acepção da palavra) com (cont)habilidades e mézinhas à míngua de tratamento.
E confesso ter recuado 4 décadas nesta manhã, e ter voltado, em correria, aos dias de hoje.
1 comentário:
Subscrevo por inteiro as reflexões sobre a substância do problema...
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