OPINIÃO: E ATÉ A HORA MUDOU
- Foi uma manhã no Tejo.
Em convívio e passeio no barco Liberdade. Em que umas duas dezenas de mulheres e homens recuámos 70 anos das nossas vidas, da vida colectiva que nós somos. Em que fomos Redol e Avieiros, e fomos Soeiro e Esteiros, e fomos Álvaro Cunhal e os desenhos das crianças que não o foram, e fomos Arquimedes com o seu sonho socialista que não queria que acordasse do sonho no gesto cristão, e fomos Lopes Graça e Bento Caraça e tantos outros/as. Em que fomos Dias Lourenço a embarcar na sua Vila Franca.
Foi 5ª feira. Numa manhã de Sol e de Tejo. E de memória, de reencontros e amizade. Em que ouvimos voz quente e comovida ler (ou ser?) Carlos Oliveira, Mário Dionísio, António Feijó, Joaquim Namorado, e ouvimos outra voz, com muito saber – e a procura que faz o saber –, reflectir entre nós, connosco, sobre neo-realismo, luta clandestina, repressão. Humanidade num tempo violento, desumano.
Foi uma manhã no Tejo. Que nos encheu de rio e de vida que não foi vivida por nós mas que nos fez viver o que queremos ser. Seres humanos em convívio.
Como? Porquê? Para quê?
Antes, não sabia muito bem. Apenas respondi a uma convocatória fraterna. Fiquei a conhecer alguma coisa do porquê e do para quê. Espero que venham a ser conhecidos. Por agora, em fotos que são a recordação imediata, mais tarde em vídeo e filme. Que assim seja, amigos da equipa que tanto e tão bem trabalhou. Que transborde – como cheia benéfica do nosso Tejo – de nossas casas e sofás familiares para as televisões e pantalhas de toda a gente.
- Não tivemos muito tempo para saborear e registar – como agora o faço – o passeio no Tejo, no barco Liberdade, como há 70 outros nós, maiores que nós, o fizeram.
Em vez da querida recordação, a daquele dia e a longínqua no tempo, tivemos a agressão brutal de um discurso. A que só posso colocar a etiqueta-imagem de ódio. Recusando-o e recusando etiquetas (ou estrelas de papel a colocar em casacos coçados). Não que quem está – eleito, lembre-se – no lugar de Presidente da República não tivesse legitimidade para tomar a decisão que tomou, mas nunca, intoleravelmente, nos termos em que o fez, com as justificações (?) e as ameaças (!) com que ornamentou.
Foi 5ª feira. E tudo se entrelaçou. Baralhou. A memória e o futuro próximo.
E até a hora veio a mudar!
1 comentário:
Nada deveria ter turvado um dia tão cheio ,mas as sombras do passado persistem e cruzam-se como erva daninha.Bjo
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