segunda-feira, junho 27, 2016

As eleições em Espanha

Aqui, intentava-se dar informação objectiva sobre as eleições em Espanha. Encontrámo-la no Expresso curto (por vezes acontece...) e reproduzimo-la (os comentários e as reflexões guardamo-las para nós (e, talvez, mais tarde) e para os eventuais passantes:




Por Valdemar Cruz
Jornalista

27 de Junho de 2016
Y ahora qué haces, hermano?



1.       O Partido Popular venceu as eleições legislativas em Espanha. Dos quatro grandes partidos ou coligações concorrentes, foi o único a conquistar mais votos (600 mil num total de 7,9 milhões) e mais deputados (de 123 para 137). Sobe em percentagem, em relação a dezembro, de 28,7% para 33,03%. Inclusive vence na Andaluzia, um feudo do PSOE, mas não consegue o grande objetivo de conquistar a maioria absoluta. O PSOE festeja a circunstância de ter conseguido manter-se como segunda força mais votada, não obstante ter obtido o pior resultado alguma vez conquistado pelo partido desde 1978 (5,4 milhões de votos e 85 deputados, menos cinco que em dezembro). A coligação Unidos Podemos comprova que nem sempre a soma das partes dá um todo mais sólido. O conjunto dos votos (5,04 milhões) de Podemos e Izquierda Unida dá o mesmo número de deputados (71), mas representa uma perda de 1,2 milhões de votos se comparado com as candidaturas em separado dos dois partidos. O Ciudadanos, se foi em dezembro um dos grandes responsáveis pela descida do PP, com perda da maioria absoluta, contribuiu agora para a sua recuperação. O partido de Albert Rivera perde mais de 400 mil votos e oito deputados. Para lá da análise fria dos números, o problema está agora no modo como conseguirão estes partidos encontrar ou não soluções de governo nos próximos 23 dias. O problema é o dia seguinte e ninguém sabe o que pode acontecer. Comprova-se a falência do sistema bipartidário, traduzido numa alternância de décadas entre PP e PSOE. Qualquer dos partidos terá de procurar aliados ou alianças, sólidas ou conjunturais, para poder formar governo. Será complexo. Nem tem a ver com o argumento fácil sobre o que seria o especial caráter dos espanhóis. A questão é mesmo política. Os próximos dias serão de intensas negociações. Rajoy, ao proclamar-se vencedor, reclamou o direito a formar governo. Só o conseguirá se ocorrerem grandes mudanças de posições, em particular no Ciudadanos, mas também no PSOE. Ao longo da campanha eleitoral, nenhuma das principais forças concorrentes recuou um milímetro nas linhas vermelhas previamente estabelecidas para a existência de um acordo de Governo. O calendário começa a ficar cada vez mais apertado, até porque devia ser aprovado até final de setembro o Orçamento para 2017 e a direita tem muito poucas pontes para conseguir alargar a sua base de apoio. A incógnita é o Ciudadanos, cujo líder insistiu até á exaustão durante a campanha a impossibilidade de viabilizar um governo dirigido por Rajoy. Aceitará o PP abdicar do homem que o conduziu em consecutivas vitórias eleitorais e que levou ao extremo a personificação da campanha? E o PSOE? Estará disponível para contrariar tudo quanto disse Pedro Sánchez e viabilizar, nem que seja pela abstenção, um governo do PP? Que custos políticos teria uma decisão dessas? E como poderá proclamar-se partido hegemónico da esquerda e ao mesmo tempo viabilizar a governação de direita? Face aos resultados, a coligação natural seria a do PP com Ciudadanos (169 deputados), insuficiente, contudo, para alcançar os 176 deputados com que se faz uma maioria absoluta. Há muitas equações em jogo neste momento. É preciso contar com os partidos regionais, com as movimentações das múltiplas peças de um xadrez complexo, num país onde as posições se extremaram de tal ordem que ficou pouco espaço para a cedência e o diálogo. Nuestros hermanos estão num labirinto e ontem o El Mundo colocava mesmo à votação dos eleitores quatro hipóteses de formação de governo: PP+C’s(Ciudadanos); PP+PSOE; PP+PSOE+C’s; ou PSOE+Unidos Podemos+C’s. Se a política é a arte do possível, veremos se se esgotam nestes cenários as possibilidades, ou outras hipóteses surgem, como um governo dirigido por um independente passível de ser aceite pelos principais partidos. É a solução tecnocrática já ensaiada em Itália com Mario Monti, mas sem grandes resultados. Por fim, as sondagens corporizam uma das grandes derrotas da noite eleitoral. Falharam em toda a linha. Não aconteceu quase nada do que previram: o PP teve uma vitória bem mais folgada, o PSOE manteve o segundo lugar, Unidos Podemos não ultrapassou o PSOE e o Ciudadanos também esteve longe de manter os votos previstos.

(...)

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