terça-feira, junho 21, 2016

Páginas de um quase-diário em recuperação - 3

21.06.2016
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Nesta actualização de leituras-informação, fui interrompido pela uma visita inesperada e foram para aí 2 horas…

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Na pior altura (apesar de ter sido acolhida com muita amizade)… e, por isso, vou tentar terminar, neste fim de tarde, com mais um registo que não quero perder (e que tinha projectado “postar”.

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Este seria ainda mais recuado, do avante! de há quase uma semana, e do Jorge Cadima.

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Com o excelente título de Provocadores NATOs, e com um texto que fica bem (diria mesmo indispensável) em qualquer registo de alguém que se queira bem informado:



 - Edição Nº2220  -  16-6-2016


Provocadores NATOs

Têm estado a decorrer as maiores manobras militares da NATO na Europa Oriental, envolvendo 31 mil soldados de 24 países. Basta olhar para o mapa para perceber a natureza provocatória das manobras Anaconda: envolvem uma operação em tenaz, cercando o enclave russo de Kaliningrado (nas costas do Mar Báltico). O território russo fica assim dividido por interpostas tropas dos EUA/NATO. Para atiçar ainda mais a provocação, «blindados alemães irão atravessar [a Polónia] de Oeste para Leste, pela primeira vez» desde a invasão nazi da URSS (22 de Junho de 1941), nas vésperas do seu 75.º aniversário (Guardian, 6.6.16). Na NATO dá-se importância às efemérides.
A provocação da NATO antecede a sua cimeira de 8 e 9 de Julho, em Varsóvia. Os 50 anos desta organização, de que Salazar foi co-fundador em 4 de Abril de 1949, foram assinalados, em simultâneo, pela cimeira onde se alargaram a missão e as fileiras da NATO (com a incorporação de países ex-socialistas: Polónia, República Checa e Hungria); e pelo desencadear da guerra contra a Jugoslávia – que se recusara a aderir à NATO. Pela primeira vez após o fim da II Guerra Mundial, assistiu-se a uma guerra de agressão aberta em território europeu. Era então presidente dos EUA Clinton – o marido. Durante essa guerra, os EUA bombardearam a embaixada da China em Belgrado. Estavam a ser ditadas as novas regras da política internacional: quem não se submete à superpotência imperialista, irá pagá-las. De então para cá, o número de países membros da NATO duplicou. As alegadas razões para a criação da NATO há muito que deixaram de existir. Mas a NATO nunca foi aquilo que alegou. Longe de ser uma organização defensiva, foi sempre um instrumento de dominação imperialista que, nas próprias palavras do seu primeiro secretário-geral, o inglês Lorde Ismay, visava «manter os russos fora, os americanos dentro, e os alemães em baixo» (New York Times, 16.9.13). Mais do que isso, foi um instrumento de dominação sobre países (como França, Itália, Grécia) onde poderosos movimentos de resistência anti-fascista haviam transformado os partidos comunistas em grandes forças políticas. Um instrumento de dominação que recorreu ao terrorismo. As investigações de juízes italianos como Felice Casson e Guido Salvini provaram as íntimas ligações entre redes bombistas fascistas, serviços secretos e NATO. Uma comissão parlamentar de inquérito italiana concluiu que «a bomba que matou 85 pessoas na estação ferroviária de Bolonha, em 1980, era proveniente dum arsenal usado pela Gladio, o ramo italiano da rede NATO de resistência ao comunismo» (Guardian, 16.1.91). E segundo o juíz Salvini, «foi a América, a NATO, que inspirou o massacre de Piazza Fontana», a bomba num banco de Milão que em 1969 iniciou a “estratégia da tensão” que ensanguentou a Itália durante 15 anos (Liberazione, 15.2.00).
Com o desaparecimento da União Soviética a NATO pôde finalmente assumir-se abertamente como organização bélica. E a NATO é hoje um instrumento maior do «partido da guerra» no seio das classes dirigentes deste capitalismo em profunda crise sistémica. Mal avisado anda quem subestimar esta realidade. Segundo o jornal inglês Guardian (6.6.16) «As manobras [Anaconda] decorrem num momento sensível para os militares polacos, após a demissão ou reforma compulsiva dum quarto dos generais do país. […] Os soldados profissionais estão particularmente preocupados com a […] criação e o papel dum exército territorial de 17 brigadas, a ser parcialmente recrutado de entre os 35 000 membros dos clubes de armas e grupos paramilitares polacos, alguns dos quais se receia estarem ligados aos hooligans racistas do futebol naquele país. Duas destas brigadas de voluntários irão assistir o exército profissional polaco durante os exercícios Anaconda». Estão a ser criados novos instrumentos de subversão ao serviço do imperialismo.
É tempo de dizer basta a esta máquina de guerra, agressão e provocação.

 Jorge Cadima 

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