- Edição Nº2098 - 13-2-2014
Um negócio que respira saúde
Em versão mais pindérica
do que o cenário montado em Wall Street sempre que uma nova empresa dá entrada
na mais importante bolsa de valores dos EUA, esta semana uma cerimónia idêntica
teve lugar em Lisboa. Tocou-se o sino, bateu-se palmas, abriu-se garrafas de
champanhe, deu-se abraços e entrevistas para assinalar a entrada em bolsa da
Espírito Santo Saúde, empresa do Grupo do dito banqueiro e que é a primeira do
sector da saúde a entrar no mercado de capitais em Portugal.
Risco? Nem pensar. Este é um negócio
garantido!
O processo de destruição do serviço
nacional de saúde está em marcha acelerada: prossegue o encerramento de
extensões e centros de saúde e também de hospitais; milhões de utentes não têm
neste momento médico de família; por todo o lado faltam profissionais, médicos
e enfermeiros, mas também pensos, seringas, fraldas, camas, medicamentos e
equipamentos dos mais diversos; os tempos de espera aumentam brutalmente com
urgências a atingirem 15 e 16 horas de espera, já para não falar nos meses que é
preciso aguardar por consultas e até anos, se falarmos de alguns exames ou
cirurgias, sendo que alguns pacientes não chegam a ter qualquer tratamento,
porque, pura e simplesmente, morreram entretanto.
É a «reforma da saúde» que está em curso,
como têm sublinhado os ministros do sector desde Correia de Campos (PS) a Paulo
Macedo (PSD/CDS) para não ir mais atrás. «Reformas» que envolvem
simultaneamente o aumento dos custos com taxas moderadoras e a transferência
directa de centenas de milhões de euros do Orçamento do Estado, por via de
convenções diversas, para os grupos económicos que operam no sector. Cada
consulta, cada acto médico feito no SNS passou a ter uma factura detalhada para
que pese na consciência do cidadão o balúrdio que custa ao Estado.
E assim se transfere milhares de utentes
para o sector privado, e assim se multiplica as oportunidades de negócio, e
assim se acumula lucros fabulosos e assim se entra na bolsa de valores, esse
verdadeiro coração do sistema capitalista a quem só a luta dos trabalhadores e
dos povos poderá provocar um merecido enfarte.
Vasco Cardoso
1 comentário:
Também reli.
Um beijo.
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