A tarefa de distribuição de propaganda e contactos foi
marcada, com antecedência, para 5ª feira, dia de mercado. E assim se cumpriu.
Cedo chegou a carrinha, com três camaradas esperados por
cinco “da terra”. Enquanto um ficou de guarda à carrinha e a manter o som, alto
e… bom som, os outros sete postaram-se à entrada do mercado, com os maços de
papéis para entregar aos passantes.
Sendo um desses sete, sem abandonar a tarefa coloquei-me um pouco
afastado para ver como “corriam as coisas” confrontando-as com as vezes já sem
conto em que participei em acções destas. Assim a modos de quem toma o pulso ao
paciente (ou impaciente), ou lhe mede a temperatura…
O dia 13 de Agosto de 2015 foi dia de enchente como há muitos
tempo se não via por ali. É verdade que nos últimos tempos/anos os mercados têm
estado fraquitos. Porque, primeiro, as grandes superfícies, os hipermercados, passaram
de invasão e novidade a hábito e, depois, bem… depois a “crise” tem-se feito
sentir sobretudo em quem consome com o que recebe de salários e pensões, e estas
e aqueles – os rendimentos de quem trabalha e trabalhou – têm minguado
visivelmente. Como também foi visível, porreflexo, nos mercados das 5ªs. feiras.
Agora, neste verão de 2015 as coisas animaram um bocadito e
não faltará quem, do lado da coligação governamental e candidata a continuar,
venha dizer que são sinais de retoma e etc, e etc. Mas a isso não quero
responder agora. Aqui…
O facto é que, como sinais de melhoria real ou como resultado
de aparências que não se confirmarão, estava mais gente a entrar no mercado.
Mas, sobretudo, havia muito “outra” gente a passar por nós: os
emigrantes que se concentram nas nossas terras neste mês de Agosto, em particular
nestes dias do meio do mês e de festas nas aldeias. E é um verdadeiro desfile.
Enchem-me os olhos umas “madames” e “mademoiselles” muito aperaltadas, algumas
belas outras não, umas de evidente mau gosto outras nem tanto (burguesmente
falando), umas de salto alto e bicudo outras de ténis de marca ou contrafacção,
(quase) todas recusando os papéis que os camaradas lhes estendiam. Sobranceiramente,
com ar ligeiramente irritado… ça alors… mais vous ne voyez que nos sommes
déjà d’un autre monde?… des touristes!
Merde, alors… (penso eu!).
E olho para eles, para os “messieurs”, entre eles anciens
copains, e pasmo com a novidade deste verão. De que já me tinha apercebido,
mas que se tornou ostensiva nesta ida ao mercado. Homens maduros, alguns já maduros
demais, entre eles falando um característico franciú, entre si e mais uma “coisa”
que os acompanhava a quase todos ou, pelo menos, a muitos: o “petit chien”.
O cãozinho de luxo, alguns “à trela” outros ao colo. Foi a novidade deste
verão. A invasão dos cãezinhos de luxo, exibidos pelos emigrantes em férias de
verão.
Tudo tão igual e tudo tão diferente do final dos anos 60.
A mesma emigração, a mesma fuga a uma situação de repulsa
muito mais que o motivo da atracção de outras paragens; a mesma necessidade de
mostrar, de exibir embora já não o “frango sem pão” (em crónica no DL, há 45 anos).
Um outro modo muito diferente de mostrar, talvez uma menor
consistência na exibição porque “lá fora” as coisas também não estão de molde a
dar tranquilidade; menos gente a quem mostrar, a quem exibir, talvez uma menor
empatia, talvez uma quebra real de laços afectivos, familiares, amigos. Talvez…
continua
4 comentários:
câezinhos de luxo, pobres diabos que não são de cá nem de lá, cabe-nos a nós suar as estopinhas.
Excelente reflexão! Retrato fiel e sensível.
ça alors… mais vous ne voyez que nous sommes déjà d’un autre monde?… des touristes!
agora a moda é dos bulldogs franceses
Depois... bem... depois... vem o capitalismo e come-lhes tudo. Come-lhes as poupanças para o regresso à terra, come-lhes os filhos que ficam longe e come-lhes os netos que crescem sem avós.
Como diz o Cid, quando chegam cá para as férias são conhecidos pelas gentes da terra pelos franceses, pelos luxemburgueses, pelos alemães e por aí fora sem esquecer o património, e quando lá chegam para o trabalho são os portugueses, ainda que alguns já não o sejam.
Há que insistir, porque nem por cá nem por lá a vida segue a favor dos povos.
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