UE, o eufemismo de capitalismo
QUARTA, 13 DE JULHO DE 2016
Pintaram de azul uma bandeira e
salpicaram-na com estrelinhas amarelas, usaram a Ode à Alegria como hino, mas a roupagem não
esconde o nome verdadeiro da UE: capitalismo.
A simples ideia da aplicação de sanções a países, por
força de supostas dificuldades orçamentais, é perversa. Mas no âmbito da União
Europeia (UE) é mais do que isso: é a denúncia oficial da verdadeira natureza
deste espaço político e económico, e da propaganda que tem servido para enganar
milhões de cidadãos por todos os países.
É perversa porque contraria o mais elementar
bom senso: se um país tem dificuldades orçamentais e económicas, como é
suposto melhorar com a diminuição da margem de opções e com obrigações ainda
mais estritas para o cumprimento das metas de défice orçamental? Mas é também
perversa porque assenta numa ideia política vil e falsa: a de que os
portugueses gastaram demais, de que viveram acima das suas possibilidades.
A possibilidade de sanções económicas contra Portugal
não tem por base qualquer matéria orçamental objectiva, nem tampouco se prende
com a economia nacional. É antes uma medida política, resultado da natureza da
própria UE, natureza essa que conduz inexoravelmente à degradação das condições
de vida dos trabalhadores de todo o espaço da UE e à concentração da
propriedade e da riqueza a uma escala continental.
Aos que sempre nos apontaram a União Europeia como
solução para o desenvolvimento, para o progresso, para a cooperação e a paz, é
altura de exigir que se posicionem face aos desenvolvimentos e face aos
resultados actuais daquilo que sempre nos venderam como uma maravilha.
É que esses, vindos de onde quer que venham, ou são
iludidos ou são ilusionistas.
Aos iludidos lúcidos, certamente não tardará a
desilusão.
Aos iludidos deslumbrados, acaso perdure o
deslumbramento, é já religião.
Aos ilusionistas, resta-nos derrotá-los.
Mas a realidade, o aumento da exploração, o
empobrecimento e o desemprego nunca derrotaram quem se alimenta disso mesmo. Os
grandes grupos económicos que lucram com a política a que cinicamente
chamam «austera» são os mesmos que se banqueteiam na riqueza pilhada
aos países estrangulados por uma dívida que não contraíram, como Portugal, são
os mesmos que ostentam obscenamente a podridão da opulência enquanto os povos
lutam pelo pão, e não dependerá deles, nem dos seus títeres, a superação dos
problemas com que estamos confrontados aqui e por toda a UE.
A «austeridade» não é rigor, é desleixe criminoso para
um punhado de poderosos e fome e miséria para milhões. A «austeridade» é o
assalto descarado aos direitos dos trabalhadores, o desvio da riqueza produzida
por quem trabalha para os braços dos que sempre viveram do trabalho dos outros.
A derrota desta política só depende dos que são por
ela prejudicados e não dos que tiram proveito dela. Pintaram de azul uma
bandeira e salpicaram-na com estrelinhas amarelas, usaram a Ode à Alegria como hino, mas a roupagem não esconde o nome
verdadeiro da UE: capitalismo.
E alegria é coisa muito restrita no capitalismo: é que
nunca dá para todos.
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