(…) sentei-me aqui sem ter ideias,
sem trazer aquelas matérias que me sobre(a)ssaltam e me põem à escrita.
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Ora acontece que, há dias, me
tropeçaram os olhos num título e me caiu nas mãos um livro dos que por aí andam
em desarrumo.
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O título é Dificuldades que tem um reino velho para emendar-se – e outros textos,
e o seu autor Ribeiro Sanches (1699-1783) pela
mão de Vitor de Sá.
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Quem é que resiste a um título
destes?
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E tem o livro andado por aqui, pelo
meio destes papeis mais próximos à espreita de uma oportunidade de maior
atenção.
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Calhou esta manhã.
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Desde antes, um objecto-livro cuidado, da Editorial
Inova, e logo a abrir uma dedicatória que me apanhou e prendeu a recordações.
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Esta dedicatória (de oferta) do
Vitor de Sá, que eu tanto admirava (todo o seu labor, as bibliotecas
itinerantes, a bracarense intervenção cívico-política durante o fascismo),
faz-me pensar no que esperaria ele do jovenzito que eu era em 1971 (com mais de 30 mas já com largo cadastro...).
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Pelo menos, que lê-se o livro e o
aproveitasse mais que o folheasse, e que não o juntasse a tantos outros adiados.
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E tem sido mais um dos muitos
adiados, e aqui está, 45 anos depois, à espera que eu o aproveite.
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(dificuldades
que tem um reino velho para emendar-se)
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Estou “apanhado”!
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Numa carta, escreve Ribeiro Sanches
sobre o que e como escreve:
“(está a carta)
mal escrita e concebida (mas) se VM
me não permitir esta liberdade temo que jamais pegaria na pena (…) quando
escrevo é de uma vez, e não tenho forças para ponderar todas as circunstâncias
naquele instante”.
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Subscrevo por baixo (o
que é redundante…) substituindo “jamais
pegaria na pena” por “deixaria de
teclar”…
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Assim se passou a manhã, como atrás
se lerá e adiante se verá se, do que folheei e li, alguma coisa vier a
aproveitar no curto prazo e para aqui.
(…)
Para mais, intrometeu-se esse
senhor Ribeiro Sanches, pela mão do Vitor de Sá (que deus os tenha…), que me
está a dar gosto conhecer e aproveitar (à parte, mas não à margem, das suas
tendências ou opções sexuais, que o Vitor de Sá não explicita – ia lá meter-se
na vida privada do homem… – mas que me parecem ter sido evidentes e bem
condicionadoras do seu caminhar pelo mundo, com nascimento em Penamacor, bulir
pela Europa toda, com longa estadia em Moscovo e outras Rússias, e muitos anos
finais (morreu aos 84 anos) em Paris, onde se apagou à beira da Revolução para
que terá colocado, talvez sem intentos de militância, o seu tijolo de pensador
reformador.
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Mas, para agora e para aqui,
aproveito do cientista reputado e cidadão “estrangeirado” e patriota sem trégua
toda a vida de exílio, autor de Cartas
sobre a educação da mocidade, estes pequenos trechos… para passar a outras
cousas, também do tempo presente mas mais pressionantes.
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“É
da obrigação do Soberano cuidar da Educação da mocidade, destinada a servir a
pátria em tempo de paz e de guerra, destinada a servir os cargos da Religião,
tanto para o bem dos povos, como para a felicidade do mesmo Soberano. Daqui vem
que ninguém deve ensinar legitimamente em Escola pública sem autoridade Real;
daqui se segue que um Secretário de
Estado devia presidir a todas as escolas
tanto de ler e escrever (fundadas só nas vilas do Reino, e proibidas nos lugares
e Aldeias do Reino) como as escolas das línguas Aritmética, Geografia,
Geometria, Colégios seculares ou Eclesiásticos Seculares e Universidades.
(…)
“…Os
Religiosos nos seus Conventos poderiam ensinar a Filosofia e a Teologia,
com permissão da doutrina que ensinavam: mas ensinar publicamente lhes seria
defendido, como defender conclusões publicamente, imprimi-las, graduar-se de
Doutor, ou de Bacharel. Entre os seus Prelados é que se julgaria aqueles que
deviam pedir a permissão aos Bispos para pregarem e confessarem depois de exame
feito a Eles, e com o consentimento do Secretário de Estado dos Estudos do
Reino.
(…)
“A
Ignorância e o Interesse transformam o coração humano em milhares de monstros!”
(de PRECAUÇÕES
NECESSÁRIAS PARA QUE O REINO VENHA A GOVERNAR-SE UM DIA SOMENTE PELA JURISDIÇÃO
REAL)
4 comentários:
É bom remexer na arca!
Ter arca... de vez em quando dá cá uma força!
Arcas destas também eu quero!!!!!!!!!!!!
Da tua arca sai sabedoria!
Bjs,
GR
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