sábado, julho 23, 2016

“A Ignorância e o Interesse transformam o coração humano em milhares de monstros!”

(…) sentei-me aqui sem ter ideias, sem trazer aquelas matérias que me sobre(a)ssaltam e me põem à escrita.

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Ora acontece que, há dias, me tropeçaram os olhos num título e me caiu nas mãos um livro dos que por aí andam em desarrumo.

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O título é Dificuldades que tem um reino velho para emendar-se – e outros textos, e o seu autor Ribeiro Sanches (1699-1783) pela mão de Vitor de Sá.

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Quem é que resiste a um título destes?

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E tem o livro andado por aqui, pelo meio destes papeis mais próximos à espreita de uma oportunidade de maior atenção.

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Calhou esta manhã.



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Desde antes, um objecto-livro cuidado, da Editorial Inova, e logo a abrir uma dedicatória que me apanhou e prendeu a recordações.


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Esta dedicatória (de oferta) do Vitor de Sá, que eu tanto admirava (todo o seu labor, as bibliotecas itinerantes, a bracarense intervenção cívico-política durante o fascismo), faz-me pensar no que esperaria ele do jovenzito que eu era em 1971 (com mais de 30 mas já com largo cadastro...).

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Pelo menos, que lê-se o livro e o aproveitasse mais que o folheasse, e que não o juntasse a tantos outros adiados.

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E tem sido mais um dos muitos adiados, e aqui está, 45 anos depois, à espera que eu o aproveite.

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(dificuldades que tem um reino velho para emendar-se)

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Estou “apanhado”!

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Numa carta, escreve Ribeiro Sanches sobre o que e como escreve:
(está a carta) mal escrita e concebida (mas) se VM me não permitir esta liberdade temo que jamais pegaria na pena (…) quando escrevo é de uma vez, e não tenho forças para ponderar todas as circunstâncias naquele instante”.

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Subscrevo por baixo (o que é redundante…) substituindo “jamais pegaria na pena” por “deixaria de teclar”

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Assim se passou a manhã, como atrás se lerá e adiante se verá se, do que folheei e li, alguma coisa vier a aproveitar no curto prazo e para aqui.


(…)

Para mais, intrometeu-se esse senhor Ribeiro Sanches, pela mão do Vitor de Sá (que deus os tenha…), que me está a dar gosto conhecer e aproveitar (à parte, mas não à margem, das suas tendências ou opções sexuais, que o Vitor de Sá não explicita – ia lá meter-se na vida privada do homem… – mas que me parecem ter sido evidentes e bem condicionadoras do seu caminhar pelo mundo, com nascimento em Penamacor, bulir pela Europa toda, com longa estadia em Moscovo e outras Rússias, e muitos anos finais (morreu aos 84 anos) em Paris, onde se apagou à beira da Revolução para que terá colocado, talvez sem intentos de militância, o seu tijolo de pensador reformador.

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Mas, para agora e para aqui, aproveito do cientista reputado e cidadão “estrangeirado” e patriota sem trégua toda a vida de exílio, autor de Cartas sobre a educação da mocidade, estes pequenos trechos… para passar a outras cousas, também do tempo presente mas mais pressionantes.

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“É da obrigação do Soberano cuidar da Educação da mocidade, destinada a servir a pátria em tempo de paz e de guerra, destinada a servir os cargos da Religião, tanto para o bem dos povos, como para a felicidade do mesmo Soberano. Daqui vem que ninguém deve ensinar legitimamente em Escola pública sem autoridade Real; daqui se segue que um Secretário de Estado devia presidir a todas as escolas tanto de ler e escrever (fundadas só nas vilas do Reino, e proibidas nos lugares e Aldeias do Reino) como as escolas das línguas Aritmética, Geografia, Geometria, Colégios seculares ou Eclesiásticos Seculares e Universidades.
(…)
“…Os Religiosos nos seus Conventos poderiam ensinar a Filosofia e a Teologia, com permissão da doutrina que ensinavam: mas ensinar publicamente lhes seria defendido, como defender conclusões publicamente, imprimi-las, graduar-se de Doutor, ou de Bacharel. Entre os seus Prelados é que se julgaria aqueles que deviam pedir a permissão aos Bispos para pregarem e confessarem depois de exame feito a Eles, e com o consentimento do Secretário de Estado dos Estudos do Reino.
(…)
“A Ignorância e o Interesse transformam o coração humano em milhares de monstros!”

(de PRECAUÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE O REINO VENHA A GOVERNAR-SE UM DIA SOMENTE PELA JURISDIÇÃO REAL)

4 comentários:

cid simoes disse...

É bom remexer na arca!

Sérgio Ribeiro disse...

Ter arca... de vez em quando dá cá uma força!

Justine disse...

Arcas destas também eu quero!!!!!!!!!!!!

GR disse...

Da tua arca sai sabedoria!

Bjs,

GR